Enquanto alguns profissionais tentam se destacar imitando alguém – e se transformam, no máximo, em um genérico ou uma paródia – eu afirmo: para você ser “o cara” é preciso transformar sua essência na marca do seu sucesso. Fortalecer a autoestima, ser autêntico e mostrar seu melhor sem se deixar diminuir pelos outros. Comunicar-se com excelência, passando credibilidade pelo olho no olho e pelo compromisso de ser um líder acessível.

Para explicar como cheguei a estas conclusões, vou voltar às minhas origens. Nasci e fui criado em Catanduva, cidade com pouco mais de 120 mil habitantes, distante quase 400 KM de SP. Morei lá com meus 2 irmãos e meus pais, que eram professores da escola pública onde estudei até a 8ª série. Amo minha cidade natal, me orgulho demais da infância que tive e guardo ótimas recordações. Era um caipira, no sentido mais clássico e, enquanto morava lá, não via problema nisso, pois todo mundo tinha sotaque e ia ao mesmo cinema, clube ou lanchonete toda semana. Eu chamava atenção de maneira positiva: pela minha criatividade, curiosidade e facilidade de comunicação. Todos que me conheciam diziam que eu deveria escolher uma profissão que explorasse estas características. Dito e feito: passei no vestibular de 4 das 5 faculdades que me interessaram; uma delas era a Escola Superior de Propaganda & Marketing, considerada a melhor para o curso de Propaganda, Publicidade e Marketing.

De malas prontas, o moço de Catanduva se mudou para a capital levando na bagagem toda sua determinação de vencer na vida, assim como suas origens, sua autenticidade e sua essência. Acredito que autenticidade é um valor que deve nos acompanhar em qualquer emprego, ambiente, situação ou relacionamento, pois ela nos dá uma assinatura própria que nos diferencia de todos. E não dá para falar da minha autenticidade sem relembrar minha chegada à faculdade. Para minha surpresa, me vi rodeado de “patricinhas” e “mauricinhos”, uma juventude bem-nascida, viajada, com uma visão de mundo completamente diferente. Nem que eu tentasse conseguiria disfarçar minha “caipirice”. Sem nenhum preconceito: na ESPM estudavam muitos meninos e meninas da alta sociedade. Quem vinha da vida simples do Interior se sentia muito burro, nem tanto pela condição socioeconômica, mas sim cultural. Meus colegas tiveram acesso a uma riqueza de peças de teatro, shows, exposições, festivais de cinema e outras manifestações artísticas, ebulição que não chega às cidades menores com a mesma intensidade. Era inevitável que eu percebesse tal contraste e me julgasse fora do padrão, um patinho feio, depenado e exposto. Saí de um ambiente escolar onde era visto como aluno inventivo, que pensava à frente dos colegas, astuto e participativo, e me transportei a um onde me considerava a pessoa mais tola da face da Terra. Não faltavam adjetivos em tom de brincadeira, mascarando o bullying por eu carregar nos “erres” das palavras nos primeiros meses. Quando meu irmão vinha me visitar, eu mesmo estranhava e chegava a pensar: “Nossa, como esse cara é caipira!”. Quem já se sentiu em desvantagem em qualquer ambiente acadêmico ou profissional me entende bem… Muitas vezes chorei calado…

Mesmo assim, nunca me esforcei para perder meu sotaque – achava que minha essência era o que me fazia único, mesmo que nem todos a aceitassem. O que você tem de genuíno é um tesouro individual a ser abraçado, não desprezado, pois renegar seus diferenciais é um trabalho de escondê-los mal. É muito melhor transformá-los em força! Quem rejeita sua essência, sua identidade, acaba sendo falso, não mostra sua verdadeira face, sua maneira de conduzir as coisas. Você se torna um genérico. Cadê seu valor?

Nas aulas de algumas disciplinas mais subjetivas, como Filosofia, meu desnível cultural se sobressaía mais, no entanto, isso me dava força: queria provar às pessoas que ter vindo de um universo interiorano não me fazia menor, menos capaz. Ao contrário, minha essência iria superar isso, me fazer maior que eles, eu tinha certeza. Muita gente passa por este tipo de desafio o tempo inteiro. Às vezes, entramos em ambientes em que nos sentimos muito bem, acolhidos; há outros em que ficamos intimidados. Quem é do interior tem uma maneira bem espontânea de criar relações, olhar nos olhos enquanto fala. Eu sofria por imaginar que estava sendo um incômodo para a turma, que se relacionava de uma maneira, digamos, mais contida. Eu não fazia parte daquele mundo, mas esta sensação não anulou meu jeito autêntico e comunicativo de ser e agir. Lembro do nosso primeiro trabalho, sobre Ditadura. Estudamos e resolvemos tratar pelo viés da arte e, por causa da minha atitude de pensar “fora da caixa” e querer fazer algo diferente, propus entrevistarmos artistas renomados que haviam sofrido com a repressão militar e que estavam encenando no teatro os dramas daquele período histórico. Meus colegas duvidaram de que estas pessoas nos recebessem, mas tanto fiz que consegui colocar todos cara a cara com feras como Marília Pêra e o presidente do Grupo Votorantim, Antonio Ermírio de Moraes (ele havia escrito sua primeira peça sobre o tema). Tentei contatá-lo de várias formas e insisti com a secretária até que fomos recebidos pelo executivo em seu escritório. Uma vez que estávamos estudando a Ditadura, nada melhor do que ouvir pessoas importantes que a tinham vivido. Tiramos a maior nota da sala, e fui eu, o caipira do interior paulista, que liderei o trabalho.

Ser genuíno é uma qualidade de quem quer criar uma assinatura profissional diferente. Quem tem juízo adora as pessoas verdadeiras e se afasta das dissimuladas. É verdade que a gente paga um preço por não ser maria-vai-com-as-outras, especialmente no começo da vida profissional; quando eu trabalhava na General Mills, por exemplo, alcançava a maior nota da avaliação de desempenho entre os gestores, entretanto, sempre tinha um ponto a melhorar. Sabe qual era? Por ser muito autêntico, não consegui ficar indiferente nas reuniões: se alguém falasse besteira e dissesse algo que eu discordasse, minha cara estampava o que eu tinha vontade de dizer. Fechava os olhos, fazia um careta…

Passei anos recebendo este feedback até encontrar, aos poucos, o equilíbrio de me manter respeitoso e educado, sem abrir mão de ser autêntico, genuíno. Além disso, à medida em que as pessoas conhecem sua essência, eles tendem a compreendê-lo melhor, e foi assim comigo. Sempre acreditei que a autenticidade, o desejo genuíno de chegar até as pessoas tem um efeito poderoso, capaz de atraí-las para o que você quer delas, tornando possível uma comunicação eficiente e uma cumplicidade nos seus objetivos.

Marcos Scaldelai, Palestrante | Empresário | Apresentador | Presidente do LIDE Rio Preto | Autor |CEO Scaldelai Projetos de Crescimento e Especialista em Atitudes de Empreendedorismo e Liderança.

Autor dos bestsellers “99,9% não é 100%” Editora Gente e “Vendedor Falcão” Editora Planeta, atua como presidente do Lide São José do Rio Preto (SP) e é hoje um dos palestrantes mais requisitados do Brasil.

Seus livros “99,9% não é 100%” e “Vendedor Falcão”, publicados pela Editora Gente, já venderam mais de 50 mil cópias. Formado em Propaganda & Marketing pela ESPM com MBA em Gestão de Negócios pela USP, passou com destaque por grandes companhias como Instituto de Pesquisa e Mercado, Nielsen, General Mills e Bertin. Ingressou na Bombril em 2010, como Diretor de Marketing, passou pela Diretoria Comercial e se tornou Presidente da empresa em 2013, com apenas 36 anos de idade.

Considerado um dos executivos mais admirados do mercado brasileiro, em 2014 foi eleito como um dos executivos jovens de maior destaque no Brasil pela Revista Forbes e esteve na lista dos 100 Executivos que Fazem o Brasil Melhor, elaborada pela LIDE e pela Rádio Jovem Pan.

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