A fábula dos irmãos João e José
A fábula dos irmãos João e José

A fábula dos irmãos João e José

A fábula dos irmãos João e José e a “síndrome do coitadismo”

Como pode dois irmãos terem a mesma criação, receberem os mesmos ensinamentos e os mesmos valores até à adolescência e, na fase adulta, terem visões de mundo tão diferentes?

João tinha uma vida muito árdua e difícil. Sua mente estava repleta de preocupações. Eram tantos os problemas a serem resolvidos que mal conseguia dormir direito.

Na verdade, seu sono era interrompido com frequência. Sonhava com as contas que tinha que pagar e com o chefe que tinha que aturar! O medo de ser mandado embora lhe rondava e o temor de voltar ao patamar da pobreza, que o assolou no passado, o assombrava.

Assim sendo, acordava atônito a cada duas horas, sem ar e com o coração bombeando acelerado!

Quando finalmente conseguia pegar no sono, lá pelas cinco da manhã, era incomodado pelo barulho estridente e irritante do despertador: era hora de levantar e ir para o trabalho!

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Mas ele estava tão cansado que até parecia que um caminhão havia passado por cima dele! “Só mais 5 minutos, pelo amor de Deus”, pensava. E, então, ativava o módulo soneca no seu celular, que tocava uma, duas, três vezes mais tarde…até que, finalmente, ele dava um pulo da cama. Atrasado para o trabalho, tomava uma xícara de café preto e seguia para mais um dia de labuta.

“Que lixo que é a minha vida”, pensava. “Todo dia ter que pegar esse inferno de trânsito, pra ter que aturar meu chefe rabugento, pra ganhar aquela miséria de salário?” E com todo esse peso que o João chegava no trabalho: carrancudo, sem cumprimentar ninguém e sem se esforçar para atender os clientes. Não se interessava em ajuda-los. Só queria despachá-los para outro setor!

Na hora do almoço, mais problemas. João tinha sobrepeso e andava com problemas financeiros. Como estava cheio de dívidas, preferia economizar comprando 5 esfirras por 1 real. Assim, se alimentava mal, o que lhe tirava o ânimo de praticar qualquer atividade física!

Na parte da tarde o martírio continuava. E quando o relógio finalmente chegava às dezoito badaladas, em ponto, lá estava João novamente no engarrafamento, no caminho de volta para casa. Dessa vez o rancor estava em outra direção: ele não queria encarar a “tribufu” da sua mulher (como ele mesmo se referia), nem aguentar o “pentelho” do seu filho.

João não aguentava mais. Essa, definitivamente, não era a vida que ele pediu a Deus! Ao chegar em casa, ignorava todos para fazer a única coisa que lhe agradava: entorpecer sua mente com algumas latinhas de cerveja até tarde da noite e, assim, escapar da sua triste realidade.

O modus operandi da mente do João tinha um único endereço quando o assunto eram os problemas de sua vida: o outro! O mundo externo! A culpa era sempre do outro. O chefe que não o promovia, os colegas de trabalham que o boicotavam, o governo que não resolvia os engarrafamentos, a economia que aplicava juros exorbitantes, a esposa que era frígida, o filho que era mal educado.

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Absolutamente tudo que acontecia em sua vida era obra do destino! Era azar puro! “Como esse mundo é injusto”, pensava! João sofria de um mal que assola muitas pessoas da humanidade, chamado de “a síndrome do coitadismo”! Quem sofre desse mal, pensa que a solução dos problemas está sempre fora do seu alcance!

Muito bem, João tinha um irmão: o José. José tinha uma vida excitante, repleta de desafios e realizações! Sua mente estava sempre cheia de novas ideias, muito alinhada com seu propósito de vida, que era inspirar as pessoas a construir uma sociedade mais unida, mais justa e, assim, tornar o país um lugar melhor para se viver!

Todas as noites, ele deitava sua cabeça no travesseiro com um sentimento de realização e satisfação! Aliás, dormia profundamente por cerca de 7 horas ininterruptas. Se levantava antes do despertador, cheio de energia e vitalidade, preparava um café da manhã reforçado e ia praticar seus exercícios físicos!

Na hora de encarar o engarrafamento caótico da cidade, ele aproveitava para escutar seus podcasts inspiradores, com histórias de superação e de sucesso do mundo dos negócios! O sorriso estampado em sua face refletia a satisfação que o acompanhava por ter a oportunidade de viver mais um dia e fazer a diferença na vida de seus clientes!

E com toda essa energia ele chegava no trabalho, sorridente, disposto, cumprimentando a todos de sua equipe! Sempre solícito, fazia questão de se antecipar às possíveis situações desagradáveis que cada cliente poderia passar. E isso lhe trazia muito prazer: ajudar os outros!

Na hora do almoço, José gostava de se alimentar de maneira saudável, com um prato bem balanceado e colorido. A tarde passava num piscar de olhos, repleta de reuniões, projetos e atendimentos. Só aí se dava conta que tinha ficado pelo menos umas duas horas além de seu expediente. Era hora de voltar pra casa, pra curtir sua família!

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Dessa vez, José encarava o engarrafamento escutando uma música relaxante para desacelerar seu organismo! Pensava na sua esposa amada e no seu filho querido, o que trazia uma imensa gratidão pela vida tão plena que vivia! Logo depois, ao abrir a porta de casa, o filho vinha correndo lhe abraçar e os dois rolavam no chão de alegria! Brincavam intensamente por algum tempo! Depois jantava agradavelmente com a sua esposa, trocavam carícias, faziam amor e adormeciam juntos! E assim o ciclo se repetia, dia a após dia, um mais excitante do que o outro!

O modus operandi da mente do José tinha um foco bem definido: ele escolhia o mundo em que queria viver! Ele era revigorado pelas oportunidades criadas e pelos desafios aceitos! Tudo isso gerava muita energia, excitação e atitude! E, na cabeça dele, o responsável por criar tudo isso era ele mesmo! José vivia em abundância! Ele era o protagonista de sua própria vida! Era o responsável por tudo o que acontecia com ele!

Portanto, como pode duas pessoas da mesma família, com a mesma criação, terem visões tão antagônicas da vida? Caro leitor, preciso revelar algo desta fábula: João e José, na verdade, não eram irmãos. Eles formavam uma única pessoa, chamada João José! Contudo, em determinados momentos da vida, o João, que sofria da síndrome do coitadismo, era acionado; em outros, o José, o protagonista, é quem fazia o papel principal! E assim, o João José ia vivendo em seu emaranhado de inconstâncias.

Já parou para pensar que nós também embarcamos nessa montanha russa em nossas vidas? Nós oscilamos de humor, de motivações, de força de vontade, de crenças. Ora acionamos o nosso João (vítima), ora acionamos o nosso José (protagonista). Quais são os nossos gatilhos? Quando eles são disparados? Essa descoberta é importantíssima e a boa notícia é que a forma como enxergamos a vida só depende de nós mesmos e de mais ninguém!

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Roberto Salomão é graduado em Administração de Empresas pela FAAP, tem MBA em Finanças, Marketing e Relações com Investidores pela USP, especialização em Gestão de Pessoas pela Metanóia, em Liderança pela Crescimentum, em Gestão de Alta Performance pela Gallup, em Vendas com PNL pela SBPNL e é certificado em Business and Innovation pela University Of Central Florida.

Com duas décadas de experiência no mercado financeiro e no mercado fitness, abrangendo as áreas comercial, financeira, produtos, marketing e projetos, atualmente é diretor de projetos do Grupo Bio Ritmo / Smart Fit, com forte atuação em planejamento estratégico, liderança de equipes e gestão de pessoas. Também ministra palestras, treinamentos e workshops, além de ser mentor de líderes em formação.

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