Misericórdia: Uma atitude digna de um empreendedor
Misericórdia: Uma atitude digna de um empreendedor

Misericórdia: Uma atitude digna de um empreendedor

E qual a (grande) diferença de pena!

Caro amigo empreendedor, qual é sua atitude quando é abordado por alguém que está enfrentando qualquer tipo de dor, desconforto,  depressão, medo, enfim qualquer situação angustiante?
Se você pensou em pena (coitado!!), lamento muito lhe dizer, mas VOCÊ ESTÁ REDONDAMENTE EQUIVOCADO!
Ninguém em sã consciência deseja e nem deve sentir-se diminuído, inferior a nada nem em relação a qualquer outro indivíduo, pelo simples fato de que somos iguais quando pensamos na essência no Ser Humano.
O tema a ser desenvolvido na sequência não possui nenhuma intenção de auto ajuda nem o menor resquício de religiosidade, apenas toma dois termos muito conhecidos de nosso dia a dia e busca separar e esclarecer seus sentidos de maneira a que possamos através do conhecimento do real significado de cada um deles, perceber o quanto podemos criar um ambiente propício para inclusive sairmos da crise em que estamos desde antes da Pandemia, que acabou agravando uma situação que já não vinha satisfatória.
Ter Misericórdia não é a mesma coisa que ter pena, o que não significa que é errado sentir pena, que é uma emoção humana muito compreensível.. Apenas não podemos ficar estacionados no “sentir pena”.
A Misericórdia produz ação, promove, dispara; já a pena fica na contemplação, e acaba diminuindo a pessoa ou situação do destinatário desse sentimento.
Quando uma pessoa sente pena de alguém, coloca-se acima de quem sofre, olhando de cima e por cima, atitude esta que não acrescenta coisa alguma a quem se encontra em situação de fragilidade seja pelo que for e  são tantas as situações que podemos enumerar!
Pena é um termo que possui conotação de peso, de algo que não nos deixa felizes e realizados, levando-nos a situações de inferioridade, baixa autoestima e desalento.
Amigo leitor, ter pena de uma situação ou de alguém não nos leva a lugar algum, não que o sentimento seja condenável, faz parte do ser humano e é aceito, porém não deve ser a única atitude que tenhamos quando nos depararmos com situações desalentadoras ou pessoas que sofrem por algum motivo.
E qual então deve ser nossa postura diante de alguém que sofre?
Devemos ter antes de qualquer coisa MISERICÓRDIA!!
Mas não é a mesma coisa???
NÃO!!!
Misericórdia é a atitude sem alarde de uma pessoa que possui a capacidade de se colocar NO LUGAR do outro, sentindo e sofrendo  o que o próximo que sofre está sentindo!!
Não é olhá-lo com PENA!  É olhá-lo com AMOR!!  Não é olhá-lo por cima! É olhar para ele, a seu lado! É pegar sua mão e junto com ele buscar a solução de seu mal.
Misericórdia é a junção de duas palavras latinas que significam eu sentir o sofrimento (miserere) do outro com e em meu coração (cordis). Quando somos capazes desta atitude, nos fazemos iguais ao que precisa de ajuda, pois essa pessoa ou situação necessitam não de um óbolo, uma esmola  para o momento, mas de um caminho para a continuidade. E quando a desgraça me atinge, faço de tudo para criar condições de sair dela, por este motivo misericórdia gera ação, uma vez que sentimos a MESMA COISA que o próximo e desta forma não desejamos ficar estacionados na situação.
É ter compaixão, isto é, apaixonar-se com!! A sílaba “com” tem um significado de realizar junto, de estar junto a alguém ou algo que se torna importante e desta forma consegue superar crises.
Caro empreendedor, por curiosidade, faça uma lista de palavras que tem o “co” ou “com” e verá o quanto está faltando hoje no mundo, no Mercado, na Economia, nas relações diversas, na escola, na família, entre amigos, por exemplo, COLABORAÇÃO, COMPARTILHAMENTO, COMUNICAÇÃO, COMUNHÃO!!
E onde se insere esta reflexão no mundo do trabalho em nosso país, neste especial  momento que vivemos?
Em muito mais do que se possa imaginar! Sempre inseriu-se mas ESPECIALMENTE agora possui um significado e uma força sem iguais!
Sabemos que já há algum tempo, nosso país vive uma grave crise econômica por conta de anos de práticas desenfreadas e irresponsáveis de pessoas instituídas em poder, juntamente com alguns grupos empresariais (lembrando que graças a Deus temos honrosíssimas exceções) sem o menor escrúpulo e responsabilidade sócio, econômica e ambiental que acabaram por criar no Brasil uma ambiente adverso de descontrole de gastos, descaso com a coisa pública, sucateamento da infraestrutura do país, desordem na saúde, educação, segurança e justiça apesar de todos os inúmeros recursos naturais e humanos que o Brasil tem à sua disposição.
Essa situação acabou refletindo-se nocivamente em nossa Economia na forma de desemprego de um enorme contingente humano, fator primordial para a alavancagem de qualquer retomada ou processo de desenvolvimento.
Em outros textos já defendi e neste, repito que NÃO são, por mais bem estruturadas que sejam, as políticas econômicas que geram a riqueza de uma Nação, sendo ELEMENTOS estratégicos que associados ao pleno emprego dos recursos humanos conduzem um país aos melhores patamares de produção e bem estar social, ou seja, sem emprego, não há crescimento e sem crescimento não há desenvolvimento, que são duas coisas bem distintas.
O emprego gera renda, que gera consumo, que gera produção, que gera mais emprego, mais renda, mais produção em uma cadeia virtuosa que faz uma Economia ir para a frente e, importante, sustentar-se nessa posição, possibilitando que todos participem plenamente da distribuição das riquezas produzidas e tenham acesso amplo a todos os bens e serviços disponíveis.
Ao terem a possibilidade de possuírem maior nível de renda e participarem de toda a ampla gama de bens produzidos, a população de um país muda de patamar, passa a ser mais seletiva e exigente em todos os sentidos, busca mais recursos que anteriormente não podia procurar, como cultura, lazer, bens mais elaborados, informação, qualidade de vida, ou seja, promove a elevação do pensamento e da percepção geral do cenário, do ambiente e neste sentido torna o país desenvolvido.
A Pandemia, como em todos os demais países agravou nossa situação sócio econômica e nos devolveu a um cenário de desemprego, de empobrecimento extremamente rápido dos agentes econômicos, de fechamento de muitos pequenos e médios empreendimentos  jogando uma grande parcela da população em um patamar de carência sem igual em muitos anos de História.
Essa situação, aliada à desconexão quase total entre os poderes constituídos, geraram um cenário de descontrole até mesmo sanitário, com iniciativas nem um pouco congruentes entre os estados e a esfera Federal.
Apesar de toda essa desorganização constituída, vivenciamos projetos e ações geradas na iniciativa privada que alcançaram bons níveis de atendimento de carências para o curtíssimo prazo. Mais uma vez percebemos que se não houver movimentação da população, de líderes empresariais e comunitários, dificilmente o país consegue se movimentar para a frente.
E é exatamente neste ponto que entra a “misericórdia”. Se misericórdia é a capacidade altruísta de esferas favorecidas da sociedade sentirem em seu “coração”(o cordis)  o sofrimento e a carência (o miserere) dos muitos que são a base do consumo no país, então um caminho para a busca de soluções para o grave desnivelamento de renda no Brasil reside justamente em ações coordenadas das lideranças empresariais, financeiras e comunitárias em parceria com o poder público. Essa é minha tese!
E como isto pode acontecer?  Tempos atrás em um fórum promovido por uma conhecidíssima revista de negócios, ouvimos o CEO do Google no Brasil falar naquela ocasião (muito antes da Pandemia) que os muitos desempregados no Brasil precisavam de misericórdia (ele usou esse termo!) das Organizações, pois vagas em aberto haviam, o que não havia eram pessoas com qualificação adequada para preenchê-las! Vamos pensar:  se as Corporações fossem esperar que os ditos qualificados aparecessem, haveria uma tão grande demora que outras inovações apareceriam a mais e mais pessoas seriam desempregadas pois também não teriam qualificações, sendo que a nova mão-de-obra também já se encontraria em um patamar de atraso! Mesmo as Corporações com seu corpo técnico especializado não são capazes de incorporar todas as novidades tecnológicas, administrativas e de desenvolvimento humano que rapidamente vão chegando ao mercado. Não existe nenhum ser humano capaz de atingir todas as exigências. Todos precisam aprender.
Nesta lenta retomada das atividades no pós Pandemia, vimos também um fato muito interessante e bastante pró ativo ocorrer: é sabido que a massa de empregos no Brasil reside nos pequenos e médios empreendimentos os quais foram os que mais sofreram com a paralização, pois ficaram totalmente sem capital de giro para atender seus custos fixos e despesas imediatas, tendo muitos deles fechado as portas, por NÃO  conseguirem recursos de crédito das Instituições Financeiras em função da total ausência de garantias. Sem garantias não há empréstimo. Sem empréstimo, zero de recursos; sem recursos, não há produção, não há emprego.
O que fez então uma grande rede varejista que se abastece de pequenas e médias indústrias que demandam muita mão-de-obra, gerando muitos empregos diretos e na cadeia, mais indiretos? Simplesmente teve a “misericórdia”, pois sentiu nela mesma os efeitos nocivos da crise que ocorriam em seus pequenos fornecedores,  de elaborar uma ideia que concedeu o crédito necessário aos pequenos produtores, sem dar “esmola”,  realizando uma operação triangulada com os Bancos, onde o pequeno fornecedor pode receber os recursos oferecendo como garantias ativos da grande rede. Ou seja, vamos imaginar que a grande rede fez o papel de “laranja do bem” e desta forma possibilitou recursos que serão pagos pelos pequenos produtores.
Esta ideia é um exemplo de uma ação que leva um pequeno empresário, endividado, sem a menor expectativa  de recuperar-se sozinho, a reencontrar o caminho da produção, a promover o emprego e o bem estar das pessoas que dele dependem , tudo isso sem atitudes de “pena”, ao contrário, atitudes de “misericórdia”.
Minha pergunta: por que estas atitudes não podem ser replicadas? Por que os grandes grupos empresariais não podem, juntamente com entidades e associações de empreendedores, constituir como que um Consórcio de produção em que cada um seja um quotista , criando um fundo com recursos que alimentariam as cadeias produtivas, fornecedoras ou transformadoras  de cada esfera de atividade? Todo os trabalhos de criação, administração em todos os níveis e controles poderiam ser realizados por estagiários dessas áreas. Experiências de produção, consumo e administração poderiam ser conduzidas por mestrandos e doutorandos de cada setor industrial ou financeiro?
Qual seria a parte que caberia ao Poder Público em parceria com a comunidade corporativa do país? Daria as condições legais, sistêmica (cadastros de empresas pequenas e médias em situação ruim ou péssima) de segurança e infraestrutura para que os projetos pudessem sair do papel. Estes projetos, bem conduzidos com certeza, através de uma ação publicitária do Ministério das Relações Exteriores do Brasil poderiam tornar-se conhecidos fora do país e desta forma atrair investimentos estrangeiros para por exemplo, projetos de infraestrutura de custos mais altos. Nenhum dinheiro público estaria envolvido, apenas a iniciativa privada com a parceria pública seria o combustível de uma nova retomada.
Esta é uma ideia que claro, precisaria ser aprofundada (este é apenas um esboço), mas  seria uma verdadeira  atitude de misericórdia, aquela que se coloca ao lado do necessitado,  que daria a força necessária a todos os empreendimentos que formam a massa de empregos e produção no Brasil.
O projeto poderia iniciar-se a título experimental em um só Estado da Federação e posteriormente ser expandido atendendo de forma customizada  cada região de acordo com sua maior necessidade e/ou especialidade.
E com relação aos muitos desempregados, citados anteriormente e mencionados muito antes da Pandemia por um importante CEO brasileiro, por não terem a adequada qualificação para exercerem as novas funções e atividades que a onda da digitalização e do home office pós pandemia nos trará?
Por que não as empresas, também em consórcios de qualificação não iniciam um projeto, utilizando como orientadores e professores os novos profissionais que acabam de se formar e estão em busca de iniciar suas carreiras, ou ainda estagiários que necessitam cumprir seus créditos de horas?
Ambos os lados, ou seja, os profissionais ditos “não qualificados” e os novos formandos ou estagiários teriam uma grande oportunidade no mercado, uns de se qualificarem, outros de iniciarem suas jornadas profissionais e ainda as Corporações que poderiam até receberem um incentivo fiscal do Poder Público por estarem trabalhando pela qualificação de seus colaboradores, preparando-os para os novos tempos e mantendo seus postos de trabalho, não permitindo que a Economia fosse mais afetada ainda por novas levas de desempregados que em tese não possuem as qualificações necessárias para exercerem funções renovadas. Além deste estímulo, social e econômico, as Instituições estariam abrindo também a jornada dos novos profissionais recém saídos das Universidades e sem experiência ainda.
Todos ganhariam pela aplicação diária de uma atitude que no final de todas as contas é a Misericórdia! A misericórdia das grandes Corporações que construiriam a jornada de novos profissionais e reconstruiriam a carreira dos que já não estão tão atualizados. Todos teriam suas posições preservadas, permitindo a produção, o crescimento sócio econômico, a manutenção dos níveis de renda de tal forma que pudessem ser geradas as condições para o desenvolvimento sustentável.
É isso, a misericórdia gera desenvolvimento. Misericórdia não é pieguice ou carolice. Misericórdia é ação de cada um pelo bem de todos.
Pode ser uma utopia? Talvez, mas que precisamos refletir um pouco ainda mais agora neste momento, acredito que todos temos a mesma opinião.
Deixo-lhes  esta reflexão caros leitores empreendedores.
Obrigada por sua atenção!

 

Leia também:

Maria da Penha Amador Pereira, Economista formada pela Pontificia Universidade Católica de São Paulo com especialização em Desenvolvimento Econômico.

Atuou em carreira corporativa na antiga Companhia Energética de São Paulo, Banco do Estado de São Paulo e no Citibank, onde desenvolveu carreira por aproximadamente 30 anos em Controladoria, Planejamento Estratégico, Segurança de Informações, Gestão de Crises e Continuidade de Negócios, Qualidade, Projetos de Melhorias de Processos e Produtos Bancários, Controles Internos, Auditoria, Governança Corporativa, Regulamentação Bancária e Compliance.

Atualmente é escritora com obras já publicadas, Master Coach e PNL, Orientadora e Mentora de Carreiras, Palestrante e Educadora Financeira, tendo publicado mais de 55 artigos em Portais de Empreendedorismo, mídias sociais, jornais e revistas regionais e LinkedIn, além de ter participado de vários seminários e fóruns sobre diversos temas ligados à realidade brasileira e Compliance.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here