UM NOVO SEGMENTO: A NOVA ADOLESCÊNCIA
Sabemos que a adolescência é um ciclo da vida de todo ser humano que precede a idade adulta, estendendo-se aproximadamente dos 11 aos 18 anos, caracterizando-se por inúmeras transformações na criança, que começa a perceber em si que algo está mudando e na grande maioria dos casos o que vê é uma nova figura, que devido ao estado de transição não parece ser aquilo que ele ou ela gostariam que fosse.
Nela, o corpo começa a se transformar, torna-se mais arredondado, os seios começam a crescer, ela já não se sente bem com esse novo companheiro de peito, entra em cena uma nova peça de roupa, o soutien, (os amigos leitores mais experientes na vida certamente recordar-se-ão daquela bela peça publicitária da Valisère – o primeiro soutien a gente nunca esquece), que é sem dúvida um dos mais femininos símbolos da raça humana.
E muito especialmente ocorre a mais importante de todas as transformações: a chegada do período fértil, o qual para muitas meninas acontece com algum choque, especialmente as que não vivem em ambientes e famílias mais abertas às conversas entre pais e filhos.
Infelizmente ainda no século XXI, existem ambientes familiares extremamente conservadores e pouco abertos ao diálogo. Isso sem contar o fato de nem ambiente familiar existir!
E nele? Começam a aparecer os primeiros sinais de barba, o corpo se altera, pelos crescem mais aceleradamente, a voz de suave passa a ser mais grossa e grave, na grande maioria dos casos; músculos se avolumam, o rosto começa a apresentar algumas imperfeições e erupções, as odiadas espinhas, enfim, isso sem contar as alterações de comportamento e sentimentos. Começam a aflorar os olhares de interesse pelo sexo oposto, a vontade de autoafirmação, a contestação, o questionamento em relação à autoridade dos pais.
Tanto o menino, como a menina buscam seus grupos com os quais se identificam, querem ficar mais tempo fora de casa, questionam o que as pessoas mais velhas dizem, em especial os professores.
Em resumo, esta fase da vida humana é em uma palavra, contestação. Essa é a característica primordial que ocorre entre o fim da infância e o início da idade adulta.
Neste especial momento, surgem grandes questionamentos, começam a surgir os medos de enfrentamento do que virá. Acabou a era da inocência e da vida despreocupada, dando lugar a uma fase de preparação. Por este motivo a presença e atuação adequadas dos pais, são de especialíssima importância, pois ajudarão o adolescente a começar a delinear sua caminhada adulta.
É claro que há as exceções, muitas. Há crianças que nem em adolescência podem pensar; ainda na infância tornam-se corresponsáveis pelo sustento de uma família.
E assim, como estas existem muito mais outras características que estão presentes nesta fase da vida humana, porém não é exatamente dela que desejo falar-lhes. Aliás, a partir de agora conduzirei o texto na primeira pessoa, uma vez que o foco de meu trabalho é a pessoa e seu desenvolvimento integral.
Além disso, desejo praticar com você leitor, uma virtude que hoje é um dos grandes problemas encontrados pelos recrutadores durante os processos seletivos. Uma soft skill extremamente em voga e requerida, até por conta da situação em que estamos que não nos permite o contato pessoal, mas somente o virtual, de maneira que se as pessoas não a possuírem, tornar-se-á cada vez mais difícil o convívio em um mundo onde velhas maneiras de interlocução já não são mais aceitas.
Ainda mais neste momento em que nosso convívio está muito restrito por todas as questões que envolvem a Pandemia. Conviver social e profissionalmente de forma virtual torna-se muito estressante se não existirem nas pessoas certas habilidades.
É a famosa empatia, a atitude de se colocar no lugar do próximo, identificando-se com ele, sentindo, agindo e pensando da maneira como ele faria. Falando desta forma parece tudo muito fácil, mas infelizmente esse é um comportamento que requer uma dose muito grande do que conhecemos como misericórdia, que não possui nenhuma relação com pena ou dó.
Esta soft skill é muito encontrada em pessoas de uma maneira geral, que já viveram intensas experiências e que por esse motivo adquiriram conhecimentos e habilidades que lhes permitem ver o mundo, as situações da vida e as pessoas de maneira muito mais abrangente, holística e crítica, não como juízes mas como seres maduros que enxergam as nuances de cada um e buscam sempre um ponto em comum, evitando ao máximo atritos desnecessários. Isto porque neste momento de suas vidas, querem vivê-la de maneira intensa, até despreocupada, sem leviandade.
É justamente sobre esta parte da população que inaugura nestes nossos tempos de dificuldades e transição para momentos renovados da vida que conversarei com vocês amigos leitores.
Esse grupo de pessoas cujas atitudes, estilos, necessidades, desejos, gostos, aptidões e tantas outras características, podem significar para empresas, pessoas e serviços em geral, um grande e amplo nicho para interessantes empreendimentos, justamente porque são indivíduos que tem necessidades próprias bastante específicas e diversas do grupo social.
Esse grupo convive muito bem com o mundo como se apresenta, mas por conta de tudo o que já viveu e entregou, está em um plano diferente, novo em relação ao que existia no passado e que portanto, para ser melhor atendido requer o que existe mas de forma renovada, especialmente a ele dirigida. Isso já vem acontecendo há alguns anos, porém de uma forma gradual.
As especiais necessidades desse grupo vão se tornando cada vez mais perceptíveis à medida que a população, em nosso caso, brasileira vai envelhecendo e que os índices de natalidade vão se tornando menores. Isso é uma tendência mundial.
Há países como a Itália, cuja população é uma das (se não for “a”) mais seniores do mundo e desta forma torna-se cada vez mais premente novas maneiras de prestação de serviços, mercadorias, atividades artísticas, culturais, enfim uma série de requerimentos antes não demandados e por conseguinte uma fonte de copiosa inspiração para projetos empreendedores tanto em nível individual quanto corporativo.
Vocês por acaso, já prestaram atenção nisso? Nessa nova fase de nossas vidas que como mencionei acima vem surgindo de forma gradual já há alguns anos?
É um fenômeno cíclico que vem nos mostrar como são imensas as possibilidades que a vida nos oferece e como a Ciência está contribuindo para que a marcha dos anos transforme-se de tal maneira que já nos permite alongar a curva de nossos sonhos e torná-la muito mais flexível e mais plena de oportunidades!
Estou falando, da “envelhescência”, um desdobramento da adolescência, cujas características descrevemos de forma geral no início deste texto.
A envelhescência nada mais é que a adolescência da maturidade absoluta e sua amplitude é tanto maior quanto maior for a expectativa de vida das pessoas a qual cada vez se alonga mais.
Essa nova fase da vida engloba as pessoas de 55 anos até aproximadamente 75-78 anos e caracteriza-se por experiência pessoal e profissional intensa, intensa atividade até mesmo profissional, extrema autoafirmação e auto estima, habilidades emocionais muito marcantes, inclusive a nossa famosa e requerida empatia, capacidade de contribuição com a sociedade de forma eficaz, estabilidade financeira e social, visão ampla de mundo, da história, das relações sócio, econômicas e culturais, negação do estado de “velhice” como no passado, embora sejam extremamente realistas quanto ao fato de que seus 20-30 anos já se foram há algum tempo, sem saudosismos e amarguras.
Além disso, e é exatamente neste ponto que o empreendedorismo pode oferecer grandes oportunidades de investimentos em inovação, as pessoas desse novo grupo, possuem gostos, necessidades e estilos próprios, esportividade, exigências conscientes de qualidade de vida, atitudes realistas, entre muitas outras características.
Até mesmo as Corporações podem se utilizar desta carga enorme de experiências especialmente de vida para criarem times altamente motivados e focados em sucesso, de uma forma não “quadrada” de ver o resultado, porque resultado é o final de uma linha de estratégia traçada e envolve todo o percurso, que frequentemente é demorado, passa por obstáculos, dificuldades, o que na visão das novas gerações torna-se muitas vezes motivo para desistência.
É justamente esse compromisso com o resultado visto “por cima”, ou seja, com uma visão ampla que contempla todos os enfrentamentos, mas com a certeza do final positivo, que o novo grupo social dos “envelhescentes” possui sobejamente, simplesmente pelo fato de já ter vivido todas essas situações. Eles são a experiência viva!
Por que então grandes corporações não aproveitam, em uma atitude empreendedora, essa grande experiência que pode agregar aos seus quadros as tão desejadas soft skills? Podem ser pessoas que já viveram em uma corporação, pessoas que vivenciaram em outras e que podem tornar-se grandes colaboradores no papel de consultores, mentores, coaches, nas Organizações sem a preocupação de encargos trabalhistas, apenas com contratos bem elaborados e acordados entre as partes.
Os custos desse empreendimento seriam bem menores que as contratações de empresas que na maioria das vezes ofereceriam processos (inteligentes, sim) de consultoria conduzidos por outros jovens que não são experiências vivas!
Esta é apenas uma ideia de empreendedorismo dentro de uma Corporação! E há muitas outras ideias inovadoras que podem surgir para atendimento desse novo grupo que faz diferença em nossa sociedade, isto porque as pessoas na faixa de idade entre os 55 e 78 anos (aproximadamente) não desejam mais serem vistas como “velhos”, pois querem atuar, e por quê?
Porque são pessoas decididas, estabilizadas e estáveis em termos de saúde e sentimentos, que já adquiriram um grande cabedal de experiências em todos os níveis.
São pessoas questionadoras, contestadoras, mas de formas muito diversas dos seus pares mais jovens, os adolescentes. As questões e contestações dos seniores, não visam atacar, muito menos ser contra o mundo, ao contrário, visam fazer com que o mundo pense se o status quo, o modus operandi estabelecidos é realmente o que vale.
Vale mesmo dizer que um profissional de 55+ está ultrapassado?
Vale mesmo dizer que um estudante de 55+ não possui mais “cabeça” para um curso seja do que for?
Vale mesmo dizer que uma pessoa de 60 anos não possui mais energia, predisposição para enfrentar desafios? Quantas pessoas dessa faixa etária não são as responsáveis pelo sustento de uma família? Pelo pagamento de estudos de mais jovens (netos, filhos, até bisnetos)!
Por quê? Por que essas pessoas possuem o que já falamos anteriormente, o que hoje os profissionais de RH tanto requerem em seus melhores candidatos aos melhores postos: soft skills, que permitem uma grande capacidade de visão de qualquer situação.
Essas pessoas cultivam em grande escala a virtude da sabedoria, possuem perspectiva aguçada, isto é, pelo seus conhecimentos e experiências conseguem ter uma visão de mundo e dos acontecimentos que faz todo sentido para ela mesma e para os demais. Desta forma são muito procuradas para ensinar, treinar, fazer conferências, aconselhar, fazer mentoria.
Esse grupo possui outra característica muito importante que os mais jovens ainda (sempre de uma forma geral) não tem: a perspectiva, uma força muito poderosa, nem sempre percebida por ele, mas extremamente notada pelo grupo social ao qual pertence.
E o que é a perspectiva?
A perspectiva é diferente de inteligência, e ocupa um alto grau na escala do conhecimento, que não possui muita serventia se o indivíduo que o detém não consegue interpretá-lo de forma a criar sentido para sua própria vida e de seu grupo.
E é exatamente aqui que as pessoas seniores se distinguem das demais, pis elas tem uma gama enorme de conhecimentos e além disso conseguem interpretar tudo o que possuem de forma a tornar todo esse cabedal extremamente útil para a sociedade. A capacidade de ter o conhecimento e dar-lhe uma interpretação, adequando-o a cada situação ou desafio da vida é que se traduz como perspectiva.
Prestem atenção em pessoas humildes, quase sem instrução, mas com sólidas e duras jornadas, que foram trabalhadas na simplicidade absoluta, tornando-se referências familiares de perspectiva, sabedoria.
Pense na perspectiva do ponto de vista de um arquiteto. Como você traria os conceitos de perspectiva do ponto de vista da Arquitetura para sua vida? Conseguiria interpretá-los, aplicando-os à sua vida? Pois então, é isso que os “envelhescentes” possuem de sobra!
E o que dizer da mulher dessa faixa etária? Se a mulher por natureza já é a condutora da vida, em muitas famílias, a cabeça, imaginem uma mulher vivida em uma Organização em qualquer nível, o que não seria para sua Corporação?
Que dizer dos novos nichos de mercado que se abrem devido aos gostos, preferências e estilos dessas pessoas?
Como o mercado publicitário tem se comportado em relação às pessoas da faixa etária 55-78 anos? Como deve ser repensada a publicidade e oferta de produtos para essas pessoas?
Em geral vemos grandes corporações que divulgam seus produtos nas diversas mídias utilizarem-se de protagonistas jovens, dando a entender que a Corporação está voltada para o público jovem apenas!
Percebemos de outro lado uma tendência já de participação de pessoas mais seniores em peças publicitárias, mas ainda em pequena escala.
Este pode ser um nicho empreendedor para o campo da publicidade, pois há certos produtos que não combinam com jovens anunciando-os.
Um bom trabalho publicitário poderia mostrar pessoas seniores com energia, vivenciando situações da vida diária, utilizando equipamentos avançados em tecnologia e não apenas algo como ajuda para pessoas “de idade”, pois o grupo da “envelhescência”, como já dito aqui, tem consciência de que não possui mais a juventude física, mas a tem na mente e desta forma é que quer ser vista e representada.
A pessoa desse novo grupo quer produtos muito bem acabados, não em grande quantidade, pois prioriza qualidade de oferta e principalmente de vida, quer ter espaço nos esportes, nas artes, deseja estilos de maquiagem, por exemplo, mais neutros e sóbrios sem serem apagados, quer um atendimento muito mais direcionado em Instituições Financeiras, quer, por outro lado fazer investimentos e até se propõe ainda a correr algum risco, portanto abrindo uma oportunidade para a estruturação de um segmento de atendimento voltado para esse grupo, com ofertas de produtos e serviços especialmente para ele!
Esse grupo é composto por pessoas cultas, interessadas em política, negócios, estratégia, tendo já vivido e trabalhado nessas áreas o que lhe confere uma certa autoridade em lidar e discutir sobre os assuntos referidos.
É um grupo que demanda serviços de por exemplo, cafeterias, restaurantes com bons serviços e espaços para conversas, locais onde se pode unir uma discussão política, filosófica, econômica, a um serviço de restaurante ou café.
São pessoas ainda interessadas em construir ou reconstruir relacionamentos e desta forma podem demandar serviços de presentes, floricultura, vestuário, joalheria fina ou semi joalheria, artesanato fino, delicado, inovador.
Dado que atualmente estamos em fase de restrição de convívio, sites ou até escritórios de relacionamento, com mais recursos técnicos, com propostas diferenciadas para cada segmento (há pessoas muito diferentes), voltados exclusivamente para pessoas desse agrupamento, não permitindo a entrada de mais jovens, uma vez que as visões de mundo e vida são muito diferentes e relacionamentos nesse nível nem sempre são produtivos.
Essas pessoas já fizeram sua história e desejam ser ativos e colaborativos em um mundo obeso por tanta informação, mas que parece não saber lidar com essa gama de ideias, exigências, oportunidades, necessidades e desafios, habilidade que as pessoas da “envelhescência” possuem, cada uma a seu modo.
Essas pessoas desejam criar história onde ela ainda não logrou acontecer, utilizando-se de sua própria história!
Vejam quantas oportunidades de empreendedorismo se houver um direcionamento para esse agrupamento que não é mais jovem (é jovial – diferente!), mas que não aceita ser considerado velho, pois tem garra, experiência, energia, perspectiva, sabedoria, conhecimento e muitas necessidades que podem ser a origem de inovadores projetos empreendedores!
Não deixem esta chance passar! MUITO OBRIGADA!!!
Até o Próximo Encontro!!
Maria da Penha Amador Pereira, Economista formada pela Pontificia Universidade Católica de São Paulo com especialização em Desenvolvimento Econômico.
Atuou em carreira corporativa na antiga Companhia Energética de São Paulo, Banco do Estado de São Paulo e no Citibank, onde desenvolveu carreira por aproximadamente 30 anos em Controladoria, Planejamento Estratégico, Segurança de Informações, Gestão de Crises e Continuidade de Negócios, Qualidade, Projetos de Melhorias de Processos e Produtos Bancários, Controles Internos, Auditoria, Governança Corporativa, Regulamentação Bancária e Compliance.
Atualmente é escritora com obras já publicadas, Master Coach e PNL, Orientadora e Mentora de Carreiras, Palestrante e Educadora Financeira, tendo publicado mais de 55 artigos em Portais de Empreendedorismo, mídias sociais, jornais e revistas regionais e LinkedIn, além de ter participado de vários seminários e fóruns sobre diversos temas ligados à realidade brasileira e Compliance.