A NOVA ADOLESCÊNCIA – Parte II
Uma Nova Fronteira para o Empreendedorismo
A “Nova” Adolescência, ou melhor, “Envelhescência”, ou ainda Geração Prateada, o novíssimo grupo social que veio surgindo gradativamente e agora está tomando contornos mais delineados, será um pouco mais aprofundado nesta segunda parte, onde pretendo focar o grande potencial de mercado que esse grupo representa para o empreendedorismo.
Como mencionei no texto anteriormente publicado, esse grupo social é caracterizado por atitudes, estilos, necessidades, desejos, gostos e aptidões que podem significar para empresas, pessoas e serviços em geral, um grande e amplo nicho para interessantes empreendimentos, justamente por ser um segmento que antes era considerado de uma forma geral como de 3ª idade, melhor idade ou até idosos, cujas demandas eram percebidas pelo mercado como idênticas, para os que estavam na faixa de 60 anos, aos que estavam já no grupo de 78 anos e mais.
Esta classificação etária não é mais possível hoje, havendo necessidade de o mercado se adaptar a esses novos tempos de envelhescência, criando um novo conjunto de ofertas de bens, produtos e serviços diferenciados do agrupamento original.
Com os avanços da Ciência e suas pesquisas no sentido de alongamento da expectativa de vida das pessoas de uma maneira geral, hoje alguém com 60 anos não pode ser considerada “idosa”, pois esse indivíduo atualmente está no mesmo degrau de uma pessoa de 40 anos. Já pessoas na faixa dos 70 anos, são os novos 45-50, de forma que requerem coisas muito diversas e muito mais dinâmicas do que seus pares do passado.
É exatamente neste ponto que o empreendedorismo pode vislumbrar grandes oportunidades de investimentos em inovação, em direção às pessoas desse novo grupo, justamente por terem uma gama de gostos, necessidades e estilos próprios, esportividade, exigências conscientes de qualidade de vida, atitudes realistas, entre muitas outras características, que diferem muito do que o mercado acostumou-se a padronizar como pessoas idosas. Existe um vácuo de necessidades desse agrupamento ainda não preenchido, um mercado inexplorado da ordem de US$ 15 Tri , que é um desdobramento da 4ª Revolução Industrial e como tal não pode ser descuidada pelo mercado.
Percebe-se que, por exemplo, o mercado publicitário ainda mostra um grupo sessentão como pessoas vulneráveis, tipo o vovô e a vovó sendo auxiliados pelos netos a mexerem em celulares. Ou ainda a conversa de duas senhoras tomando chá online de uma maneira que perpassa a impressão de fragilidade, sendo que essas peças publicitárias são dirigidas a um grupo do passado, que ainda engloba também pessoas a partir de 60 anos. Não faz sentido!
Hoje uma pessoa de 60 anos, está no auge de sua potência em termos de experiência profissional, vigor, saúde. É um tipo que cuida de seu corpo de forma consciente, pratica esportes, lê e informa-se muito, possui grande experiência de vida, um grande cabedal profissional, jogo de cintura adquirido por décadas de jornadas diversas, namora, utiliza sites de relacionamento, degusta vinhos, tem facilidade e bom trânsito com a Tecnologia de ponta, quer celulares de alta qualidade, quer viajar em grupos ou sozinha, deseja vestir-se de forma adequada, não infantil e nem senil demais, tem gostos apurados por anos de contato em termos de cultura, enfim mostra-se de uma maneira que requer um novo posicionamento do mercado para que todas essas demandas sejam satisfeitas. E isso não existe ainda, ao menos na totalidade.
O mercado de bens de consumo e serviços ainda não conseguiu oferecer tudo o que esse novo segmento dos novos adolescentes pede, o que leva o mercado publicitário a uma defasagem em termos de propaganda. Por exemplo: você amigo leitor já presenciou alguma peça publicitária em qualquer mídia, oferecendo algum produto ou serviço usando modelos da faixa de 60 anos, mas em uma postura jovial, de quem deseja curtir a vida?
Faria sentido para você modelos jovens fazerem propagandas que possam atingir esse tipo de nova pessoa? Ou faria mais sentido uma nova ideia de propaganda com modelos da faixa etária da nova adolescência?
Faz sentido uma pessoa jovem anunciar um empreendimento imobiliário de classe alta? Eu sinceramente acredito que não, porque não transmite credibilidade, uma vez que sabemos que uma pessoa jovem (de uma maneira geral, existem exceções) não tem patrimônio, nem conquistas ainda suficientes para a aquisição de bens de alta classe, não porque não possua capacidade, claro que possui, mas porque ainda está começando sua jornada profissional e ainda não teria (no geral) recursos para adquirir um imóvel de alto padrão com seus próprios recursos.
Faria muito mais sentido essa peça publicitária ser divulgada por uma pessoa na faixa dos 55-60 anos, momento em que o individuo já está em fase de estabilização de sua vida e deseja muito conforto.
Por outro lado peças publicitárias onde modelos com idade relativamente avançada mostram um produto ou serviço de uma forma que transmita uma condição de vulnerabilidade, também não vai de encontro ao que esse novo grupo social deseja.
Com estes exemplos e muitas outras situações mais pretendo mostrar o grande vácuo que ainda precisa ser preenchido para que as demandas dos novos adolescentes sejam satisfeitas. Acredito que seria muito interessante a elaboração, por parte de empresas e agências de publicidade, de uma pesquisa de mercado dirigida somente a pessoas na faixa etária entre os 55 anos até aproximadamente 75-76 anos. Com toda a certeza, as surpresas seriam muitas.
Se formos olhar do ângulo do vestuário, percebemos também a defasagem, ou seja, ou vemos roupas e acessórios em designs muito jovens ou muito seniores, a famosa “cara de senhorinha” no caso das mulheres. Parecer ou ser “senhorinha” é algo que as mulheres 55+ abominam, embora seja o que existe.
Neste sentido, por que não se pensar em algo diferenciado? A mulher 55+ tem um gosto jovial, porém não menininha e nem senhorinha.
E por que esse desdobramento da idade mais madura é necessária? Por conta, em minha opinião da trajetória dessas pessoas! Quem são elas, de onde vem, o que fizeram?
Essas pessoas são os Baby Boomers, de uma maneira geral, pertencentes às classes media media e alta, alguns de classes C ou D, que estudaram em escolas tradicionais, tiveram uma vida de prática esportiva, viajaram a trabalho e lazer, já em sua época estudantil (e nesse período não era algo comum como é hoje) fizeram pós graduações, mestrados, doutorados, foram profissionais liberais requisitados, executivos e/ou profissionais graduados de sucesso em grandes corporações público-privadas, ou pessoas do mundo artístico que se tornaram ícones, tinham uma vida social muito satisfatória, casaram-se ou não, tiveram filhos ou não, tiveram acesso a bons serviços de saúde, enfim, tornaram-se pessoas que prezavam a vida em seu momento e que hoje, alguns já aposentados, a grande maioria na mais intensa atividade, demandam bons serviços e produtos porque entendem que chegou sua hora mais que merecida de aproveitar muito o que de bom a vida pode oferecer com todo o direito, dada suas longas e dedicadas trajetórias.
Neste contexto, não faz sentido o mercado oferecer inovações que não correspondam ao que esse novo grupo deseja, ignorando esse nicho extremamente ávido por consumo que lhe seja satisfatório.
Imagine você caro amigo empreendedor, um Mick Jagger tomando canjinha de galinha, trajando um pijama de flanela grossa! Ou um Paul McCartney sentado em uma cadeira de balanço! Ou, se ela fosse viva ainda, uma Hebe Camargo comendo papinhas de leite, falando ao telefone sobre amenidades , com uma amiga? Conseguiu imaginar? Acredito que não! E por que? Porque essas pessoas, à exceção da última que não está mais entre nós, tem uma vida extremamente ativa, consomem produtos com vida, interagem com tecnologia de forma tranquila, levam multidões a estádios para shows de mais de 2 horas ininterruptas! Como não criar produtos e serviços que atendam às demandas desse tipo de pessoa, que não é mais jovem, mas não se entrega à velhice?
Fazendo uma breve reflexão:
Essas pessoas, que em sua maioria, ainda encontram-se no mercado atuando de forma ativa e consistente, chegando a serem formadores de opinião, possuem muito mais dinheiro (sempre lembrando que estas assertivas não levam em conta as exceções) que os jovens, inclusive custeando escolas privadas e Universidades.
Há um estudo da Federal Reserve, o Banco Central Americano, mostrando a concentração de patrimônio das famílias americanas nas mãos dos Baby Boomers, ou o agrupamento de pessoas sobre os quais discorro neste texto.
Já no Brasil, segundo análises de FGV, esta concentração é em menor grau, porém existe. Segundo essas pesquisas, os Baby Boomers nacionais correspondem a 17% dos 5% mais ricos, isto é, do percentual das pessoas mais ricas do Brasil, 17% são do grupo dos novos adolescentes ou o que chamo de envelhescentes.
Também segundo o mesmo estudo da FGV, nos segmentos menos abonados da população brasileira, eles representam 4%, dos 40% mais pobres. Neste caso, talvez pudéssemos inferir que nas faixas de renda menos favorecidas, a longevidade é menor, por existir menor acesso aos serviços de saúde preventivos, ou se existe, o que é oferecido é insatisfatório, como bem sabemos, mas não necessariamente por conta de profissionais despreparados, mas muito mais pela infraestrutura disponível.
Outro ponto muito importante que devemos ter em mente, é que a população de uma maneira geral, e em especial nos países mais ricos, está em uma tendência de envelhecimento, onde as taxas de natalidade caem em contraposição ao aumento da expectativa de vida, indicador este que pressionará em anos não muito distantes os sistemas previdenciários dos países. Os que não se adequarem a esta tendência poderão em um futuro breve enfrentar uma crise econômica gerada pela insolvência de seus fundos e recursos para pagamento de benefícios e isto torna-se tanto mais grave quanto maior forem as questões mal resolvidas de déficits fiscais de países como por exemplo o nosso próprio.
Embora seja uma questão muito relevante, discutir este lado não é o objetivo deste texto; vamos então retornar ao nosso foco, isto é, as grandes oportunidades de inovação e empreendedorismo geradas por esse grupo ávido por consumo de qualidade, que possui recursos financeiros para consumir e que ainda assim estão longe do Target Market de muitas empresas, que não estão atenta (ainda)s ao volume de demanda que este agrupamento social gera.
Como já mencionamos anteriormente, existe um erro básico das Organizações, qual seja o de unificar o público idoso, o que não é possível, uma vez que a diversidade desse grupo é enorme: há pessoas fragilizadas por doenças físicas e mentais, há outros que estão ativíssimos no mercado de trabalho, há gente com muito dinheiro querendo aproveitar a vida, há pessoas que tem estofo financeiro, mas não tem saúde para usufrui-lo, enfim, não é possível criar os mesmos serviços, bens e produtos de forma igual para um grupo tão desigual.
As empresas em geral, segundo um estudo da Consultoria Hype60+, não escutam as pessoas maduras, ocasionando um vácuo no mercado, uma vez que necessidades não são atendidas. As pesquisas de opinião são realizadas entre pessoas até 50 anos e dali para cima, coloca-se tudo em uma mesma cesta, padronizando-se tudo como velhice e só. Isto é muito claro no segmento de vestuário, calçados e acessórios.
Ainda bem que existem exceções, pessoas empreendedoras, na mesma faixa etária, ou mais ainda, que sozinhas perceberam o nicho e tiveram uma enorme aceitação. Há um exemplo patente disto na ação empreendedora e de muito sucesso de uma estilista de 81 anos (!!!!), que percebeu a existência de mulheres da terceira idade, que NÃO se conformam em usar lingerie (calcinhas mesmo!) da vovó, ou seja aqueles calções horrorosos(!!!), de algodão para proteger a pelo sensível e seca, cores (pior ainda) antiquadas e sem o menor charme.
Como mulheres ativas, com uma vida sexual ainda intensa, vão usar essa monstruosa e nada charmosa peça, e de outro lado também não desejam cair no ridículo, que chega a ser até vulgar, de usar peças de meninas de 20 anos? Assim, a senhora Schargel, como falei de 81 anos, percebeu essa oportunidade e lançou peças de lingerie estilosas, confortáveis e charmosas para as ladies de 60+. Não é necessário comentar que o resultado foi um grande sucesso de vendas, não é mesmo, uma vez que a profissional do estilismo soube “ouvir” a demanda de suas clientes seniores, mas não velhas.
Há muito mais que se discutir neste sentido, o que tomaria aqui várias páginas, mas meu objetivo é sempre introduzir nossos leitores em questões interessantes e importantes e motivá-los a pesquisarem por si os temas aqui abordados.
Somente a titulo de deixar mais uma reflexão dentro deste tema extenso, que possui impacto até mesmo em políticas público-econômicas em um país, vamos olhar um pouco para o mercado de Turismo.
Ainda é comum vermos aqueles grupos de turistas idosos, geralmente alegres senhoras, embarcando em um ônibus, lotado de malas, medicamentos e guias turísticos, indo para aquelas famosas Águas de Lindóia, Campos do Jordão, Hotel Fazenda Vale do Sol, Caldas Novas, Poços de Caldas, etc. Por favor, NADA CONTRA ESSES LOCAIS, o objetivo é mostrar que existe um grupo que NÃO QUER SOMENTE esse perfil de turismo. Esse novo grupo, com muita energia e com gosto para aventuras, deseja TAMBÉM, um tipo de viagem de aventura, trilhas, praias desertas, lugares exóticos. Eles desejam ir explorar as trilhas e praias de Fernando de Noronha, Caribe, até mesmo praias de surf, canions ou locais turísticos pouco explorados, pesca esportiva, enfim coisas novas, diferentes.
Com certeza há aqui mais uma oportunidade a ser explorada, uma vez que os novos adolescentes exigem serviços com atendimento especial, conforto na hospedagem e qualidade na alimentação, além de algum item de prevenção em termos de emergências (ex. alguma queda). Nas tradicionais agências de Turismo que se conhece, em sua maioria, (já existem algumas iniciativas na área fazendo coisas novas), não há um segmento especial para esse grupo que demanda serviços tão diferenciados e tão pouco explorados.
A própria publicidade ainda está engatinhando no sentido de apresentar a este grupo novidades com as quais ele se identifique já na própria peça publicitária.
É muito fácil percebermos em qualquer atividade econômica, o quanto está se deixando de ganhar em termos de lucro e inclusive oferta de empregos, por não existirem iniciativas voltadas para o grupo dos Baby Boomers que estão começando seu novo ciclo de vida, que é algo muito diferente do que viveram seus pais e avós. Como moraram, como comeram, o que vestiram, como se divertiram, como se relacionaram, enfim, de modo algum é o que deseja esta nova geração de joviais senhores e senhoras que hoje quer colher os frutos de todo empenho, dedicação, compromisso, inteligência e muita garra que caracterizou sua jornada pessoal e profissional.
Que tal empreendedores, não seria uma excelente ideia, aproveitar este novo nicho?
MUITO OBRIGADA!!!
Até o Próximo Encontro!!
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Maria da Penha Amador Pereira, Economista formada pela Pontificia Universidade Católica de São Paulo com especialização em Desenvolvimento Econômico.
Atuou em carreira corporativa na antiga Companhia Energética de São Paulo, Banco do Estado de São Paulo e no Citibank, onde desenvolveu carreira por aproximadamente 30 anos em Controladoria, Planejamento Estratégico, Segurança de Informações, Gestão de Crises e Continuidade de Negócios, Qualidade, Projetos de Melhorias de Processos e Produtos Bancários, Controles Internos, Auditoria, Governança Corporativa, Regulamentação Bancária e Compliance.
Atualmente é escritora com obras já publicadas, Master Coach e PNL, Orientadora e Mentora de Carreiras, Palestrante e Educadora Financeira, tendo publicado mais de 55 artigos em Portais de Empreendedorismo, mídias sociais, jornais e revistas regionais e LinkedIn, além de ter participado de vários seminários e fóruns sobre diversos temas ligados à realidade brasileira e Compliance.