O FUTURO DO NOSSO FUTURO COM COVID 19
Muito já se falou sobre a forma como a indústria do entretenimento foi afetada pela pandemia do Covid-19.
Não é novidade para ninguém que o setor foi o mais afetado, muitas empresas quebraram e quem conseguiu sobreviver teve que se reinventar do dia para a noite.
Depois de quase dois anos de pandemia, vacinas, e queda nos números de contagiados e mortos, o setor lentamente começa a surfar na onda da demanda reprimida. É nítido que o publico quer consumir o entretenimento, em estar junto, ver ídolos de perto, comemorar, vibrar e fazer tudo o que não pode fazer em quase dois anos. Os primeiros eventos teste realizados no mundo e no Brasil, confirmaram esta teoria. Sim, as pessoas querem sair e se divertir, precisam disso de uma forma quase que vital para a sua sobrevivência e sanidade.
Timidamente os eventos testes começaram a ser realizados no mundo e no Brasil e todos foram sucesso de público e de resultado em relação a pandemia e contágio. A Formula 1 realizada em SP fez parte do calendário de eventos teste da Cidade e não podia ter tido resultado melhor. Todos os lotes de ingressos colocados a venda se esgotaram em segundos. O autódromo estava lotado (respeitando as normas impostas pela Prefeitura) e não houve um caso sequer de contágio registrado pela organização, nem por parte do público, atletas ou qualquer um dos muitos profissionais envolvidos. Organização do evento feliz, publico feliz, atletas e escuderias felizes, patrocinadores felizes, e assim a indústria vai voltando a sorrir novamente. Animados os promotores de eventos e empresários do setor começaram a planejar e a se estruturar para a tão sonhada retomada pós pandemia. Finalmente este momento parece estar chegando e a demanda reprimida acontece não só por parte do público, mas dos profissionais. Artistas querem voltar aos palcos, atletas aos jogos, produtores não vêm a hora da voltar a correria de montagem e os executivos precisaram recuperar os prejuízos impostos pelo Covid-19.
Às vésperas de encerrar o ano de 2021, o universo do entretenimento faz planos para deixar o Covid-19 e suas restrições para trás, e sonha com “um ano de 2022 grande para a indústria” como afirmou Fermando Altério, CEO da T4F (Time do Fun), em entrevista ao Estadão, surge o Omicron.
Neste momento, peço uma pausa para fazer uma breve retrospectiva da pandemia no Brasil. O Covid chega ao nosso país oficialmente no dia 11 de março de 2020. Cinco dias depois o número de mortos já apavorava a população alcançando 942 pessoas por dia. Restrições e cuidados fizeram os números irem baixando lentamente e em 07 de Novembro os mortos eram 458 por dia, um cenário bastante animador para um 2021 que já previa vacina para o vírus. O setor ficou animado e acreditou que era a hora de planejar a retomada. 2020 estava indo embora e era hora de preparar para um ano de 2021 de recuperação.
Infelizmente não foi bem assim que as coisas aconteceram. O positivismo de novembro de 2020 começou a ficar abalado já em dezembro daquele mesmo ano. Em 17 de Dezembro o número de mortos batia novo recorde e chegava a 990 pessoas por dia. Difícil dizer quem é o culpado, mas fato é que “descuidamos dos cuidados” e o inimigo invisível se mostrou presente e atacou de novo mais agressivo e implacável do que antes. Em março de 2021, um ano depois da chegada do Covid-19 ao Brasil, o número de mortos, que no ano anterior assustava com 942 óbitos por dia, ultrapassava impensáveis mais de 3mil vítimas diárias. Mesmo com o surgimento da vacina o número de óbitos baixou lentamente ao longo do ano. Os planos de retomada da indústria do entretenimento esfriaram e 2021 foi novamente um ano de prejuízos para muitos e mágica para todos os que sobreviveram.
Como em 2020, o final do ano de 2021 chega com números bem baixos. No dia 4 de dezembro a mortalidade foi de 4 pessoas em todo país. Excelente resultado depois de números tão assustadores, mas ao mesmo tempo que comemoramos números baixos e o mercado se prepara a tão esperada retomada, o mundo se vê diante da variante Omicron, que aos poucos e novamente assusta todo o planeta.
Até onde se sabe a variante Omicron não parece ser tão letal, mas se espalha com mais facilidade e rapidez. Os casos de reinfecção são muitos os que sugere que o novo vírus seja capaz de driblar a proteção obtida pela vacina e por infecções anteriores. Muitos estudos ainda precisam ser feitos para que cientistas entendam de fato com quem estamos lidando. Enquanto isso, países fechados, aeroportos e fronteiras com novas regras de imigração, lockdown, eventos cancelados, o cenário se repete….
A Cientista chefe da OMS Soumya Swaminathan diz que o momento não é de pânico e sim de cautela. Se eu tivesse a oportunidade de estar com ela, pediria a Doutora para definir o conceito de “cautela”. Sabemos o que quer dizer a palavra, mas o conceito é bastante relativo. Para uns, todo cuidado é pouco e o que estes chamam de cautela, para outros pode parecer excesso de zelo, as vezes exagero e até loucura. Para outros, basta usar máscara quando estiver perto de estranhos e vida que segue.
Este artigo não se propõe a julgar o comportamento das pessoas, mas sim levantar algumas questões e reflexões. A primeira delas é o que exatamente é ter cautela, quando estamos lidando com um inimigo invisível com poderes desconhecidos? Nos trancamos em casa e paramos a vida novamente? Nossa saúde física pode estar protegida, mas a nossa saúde mental pode ser extremamente abalada e a financeira então nem se fala. Qual o limite da cautela, do excesso de zelo e da irresponsabilidade? Até que pontos devemos abrir mão te tudo para proteger a nossa saúde física, em detrimento da nossa saúde mental e financeira? Em que momento nos cuidar é um ato de sanidade e em que momento deixa de ser?
Estas são respostas que não sei dar e sinceramente acredito que cada um tenha a sua. Não existe uma regra ou uma fórmula de bom senso e cautela que se encaixe para todos. A magia do ser humano é ser diferente um do outro. Todos somos iguais segundo a constituição, mas na essência somos inteiramente diferentes e por isso temos realidades, demandas e necessidades diversas, mas o vírus é cego e implacável e invade a vida de quem estiver exposto a ele, sem só e nem piedade.
Seguindo a orientação da Dra. Swaminathan, o momento é de cautela e independente do que seja a noção de cautela de cada indivíduo o Estado tem o dever de zelar pela saúde e o bem-estar do povo e sendo assim, eventos voltam a ser cancelados entre outras medidas que são adotadas. No Brasil, dezembro começa com diversos estados cancelando as comemorações de réveillon e alguns já cogitando o mesmo para o carnaval. A tão esperada retomada do setor de entretenimento está ameaçada novamente. E aqui está a segunda reflexão proposta por este artigo, será que mais uma vez, quando acreditamos que vamos colocar a cabeça para fora e voltar a trabalhar, recuperando o tempo e o dinheiro perdidos, vamos voltar a estaca zero? Será que mais uma vez depois da queda vertiginosa dos números de óbitos por Covid no Brasil, vamos ter uma onda crescente e assustadora?
Em março de 2020, o mundo ficou refém do vírus da Covid-19 e assim estamos até hoje. Será que em algum momento essa situação vai mudar ou vamos para sempre ter a faca do Covid sobre as nossas cabeças?
É fato que a indústria do entretenimento assim como a forma de vida que conhecemos hoje é cada vez mais virtual e muito deste processo foi acelerado pelo Covid-19. Hoje em dia se fala em metaverso, uma realidade onde o humano se transforma em um avatar e usa a máquina para interagir com outros avatares, frequentando shoppings e casas virtuais e vivendo em uma realidade onde se convide com o outro, mas não se pode ter contato. Será que o entretenimento ao vivo, com pessoas interagindo com pessoas está com seus dias contados. Será que este é um caminho sem volta? E aquela necessidade de sair e se divertir, que é quase vital para a sua sobrevivência e sanidade do ser humano, gregário que somos por natureza, como fica? Quanto tempo mais o ser humano consegue viver com tantas restrições, máscaras, medos e cuidados? E a indústria do entretenimento, será que a fórmula de sobrevivência deste setor é cada vez mais remota e longe do do publico? E o abraço aonde fica nisso tudo?
Estas também são perguntas que não sei responder, mas posso afirmar que avaliando a realidade que estamos vivendo sob este aspecto, ao contrário do que diz a Dra, Swaminathan, o momento é de cautela sim, e de pânico também!!
ANDREA CARVALHO é advogada com Pós Graduação em Direito Empresarial e mestrado internacional em Entertainment Business concluído na Full Sail University na Florida. Com mais de 20 anos atuando na indústria de entretenimento Andrea tem perfil multidisciplinar tendo experiência diferenciada nas áreas negócios, planejamento estratégico, patrocínio, marketing e relacionamento com clientes.