Sem Tempo, Irmão
Empreender em Tempos de Conteúdo Infinito
Quem nasceu antes dos Millennials (nascidos a partir de 1981) pode ter se acostumado com o mantra “se forme, arrume um emprego bom, tente um concurso público, se aposente”. Parece arriscado buscar algo diferente disso e a carteira de trabalho dança, sedutora, prometendo estabilidade. Mas, como tudo no universo, somos rodeados de caos.
A entropia, grandeza física que mede o grau de desordem em um sistema, tende a aumentar sempre, e isso é fácil de entender: se uma xícara cair no chão e se quebrar, a probabilidade de seus cacos se espalharem é imensamente maior do que a probabilidade deles voltarem ao formato da xícara. Leis mudam, a economia sobe e desce, o mercado se move, vivo. Imaginar que haverá estabilidade, mesmo quando em um cargo concursado, é mais arriscado do que o contrário. É como estar all-in em uma aposta onde as probabilidades estão contra nós.
Os Millennials percebiam isso já no começo dos anos 2000, incentivados pelos novos milionários da internet. De repente uma quantidade enorme de gente começou a entender que havia alternativas, muitas vezes melhores, a uma carreira como empregado. Então a palavra empreendedorismo virou mainstream.
Essa demanda chamou a atenção das editoras que adicionaram às linhas de auto-ajuda um sem número de livros que visavam ajudar o leitor a empreender. Desde então livros, cursos, palestras motivacionais, vídeos e gurus que empreendem ensinando a empreender. Há um imenso chorume de conteúdo poluindo o caminho daqueles que realmente querem virar empreendedores e isso faz com que a maioria acabe apenas na plateia.
Nessa bagunça que circula a palavra empreender, é possível notar algo interessante. Se outrora empreendedor era visto como o chefe malvadão, o engravatado que abusava dos trabalhadores, a caricatura do porco capitalista, hoje ele é visto como o herói vegan, que trabalha de chinelo em seu patinete elétrico no caminho de uma TED. Ambas as versões são bem exageradas. Na maioria das vezes, não tem nem a sujeira nem o glamour.
Fato é que empreendedor levanta cedo, trabalha muito, vende trufa, camiseta, gera empregos, sua muito, mas em busca de resultados. O empreendedor não dá atenção a auto-ajuda, ele ou ela não têm tempo para o Pai Rico, Pai Pobre, da mesma forma que não tinham para o Alquimista. São muito seletivos com os conteúdos que consomem, pois entendem que o tempo, nosso mais importante asset, é muito limitado. O empreendedor tem objetivos muito claros à sua frente e “voa” destemido e com foco para alcançá-los. Eu creio, aliás, ser esse o maior diferencial entre quem empreende e quem não. Veja, isso inclusive aponta para o fato de que o empreendedor pode estar empregado, utilizando esse momento como ferramenta para alcançar seus objetivos.
Então vemos a pessoa empreendedora de verdade, atravessando a névoa de falsos gurus e conteúdos de resultados duvidosos, as promessas de ótimos salários e bônus em empresas, a falsa estabilidade. A pessoa empreendedora diz não e ignora o canto da sereia, sem navegar hipnotizada rumo à um fim comum. A falácia do “Deixa a vida me levar” é ignorada, com orgulho. A pessoa empreendedora leva a vida para onde quiser ir.
Rodrigo Foca se formou pela Full Sail em Computer Animation, criou séries de histórias em quadrinhos Educacionais e tem mais de 16.000 ilustrações vendidas em todo o mundo, publicadas até no The New York Times. Como chefe de design de efeitos visuais de uma empresa canadense de pós-produção, ele estreou em produções de TV com o documentário The Beasts of the Bible, exibido no Animal Planet. Rodrigo criou os personagens e está produzido a série animada EggBots.
Rodrigo Foca é membro das organizações Society of Children’s Book Writers and Illustrators, Society of Illustrators of Los Angeles, Graphic Artists Guild e Association of Illustrators (AOI).