No nosso último artigo, contei pra vocês o começo da minha carreira como engraxate… Engraxei sapatos até os 9 anos de idade. Depois, vendi sorvetes e sucata de ferro até os 12 anos. Aos 13, fui convidado por um amigo para trabalhar em uma empresa fabricante de fivelas de cintos e bolsas. Estava me saindo muito bem até que ficaram com medo da Delegacia do Trabalho, pois eu tinha menos de 14 anos, o que era proibido na época. Por isso, fui demitido após 9 meses de trabalho. Foi um baque, afinal, minha família já contava com aquele dinheiro para as compras do mês… Sou do tempo que tinha que dar o envelope fechado em casa.
Ser demitido traz um gosto muito amargo, parece que somos um verdadeiro fracasso, mas, como dizia minha mãe, Deus fecha uma porta e abre uma janela! Aprendi nesta época que o desemprego é o primeiro mal a ser combatido na vida das pessoas, e acho que por ISSO hoje luto pelo emprego das pessoas.
Quando comecei a trabalhar de forma autônoma, há cerca de 30 anos atrás, lembro que contrariei a vontade do meu pai. Mais uma vez, na época, o gosto amargo da demissão me tirou da indústria metalúrgica, mas me conduziu a novos caminhos. Decidi que me inscreveria em um concurso de uma escola profissionalizante muito respeitada e reconhecida, o Senai. Devido ao resultado obtido nas provas, acabei sendo convidado por 2 grandes empresas para fazer o curso com patrocínio por meio do Programa Jovem Aprendiz: uma era uma montadora de automóveis e a outra era do setor de energia elétrica. Nas 2 eu tinha possibilidade de, no final do contrato, me tornar efetivo, desde que condicionasse meu desempenho à disponibilidade de vaga. A Coordenação Pedagógica da escola me encaminhou para fazer uma visita monitorada em cada uma das empresas e escolhi a de energia, pois fiquei encantado com uma hidrelétrica que visitei!
Cheguei em casa e contei para os meus pais a minha decisão e meu pai, indignado, não gostou e rebateu dizendo que eu estava errado, que minha escolha deveria ser fazer carreira em uma montadora, pois era o sonho de todo trabalhador. Afinal, em um país pobre, na década de 1980, trabalhar em uma multinacional na área automobilística, era garantia de um futuro seguro. Não discuti com ele, mas argumentei que iria seguir meu sonho de trabalhar em uma usina de grande porte na área de energia.
Sua resposta foi: “Já que você não pretende voltar atrás na sua decisão, quero que saiba que você deve ir com ela decisão até o fim! Não faça como eu, que mudei o tempo todo de carreira profissional e não cheguei a lugar algum. Aprenda com meus erros. Descobri tarde que o brilhante mais precioso está no fundo da jazida.Já que escolheu o setor elétrico, para ter sucesso é preciso que cada vez mais você se aprofunde nisso, cave suas oportunidades sem ficar mudando constantemente. Você deve se dedicar e fazer o seu melhor, pois não aceito menos que isso de você”.
Fiquei assustado com sua reação, porém, aceitei o desafio e concordei com suas recomendações. Nunca mais me esqueci destas palavras… Mesmo assustado com o peso da decisão, fiquei muito feliz por poder contar com o apoio da minha família e prometi ao meu pai que seguiria seus conselhos. Infelizmente, 5 anos depois ele faleceu e minha carreira, que até então vinha bem, parou. Fui promovido rapidamente mais de uma vez em nível técnico, continuei estudando, me formei em nível superior, me pós graduei, mas comecei a amargar um longo período de baixa… Cheguei a pensar em desistir da carreira na empresa de energia e procurar outra que tivesse mais chances de ascensão em nível de liderança, mas me lembrava constantemente da recomendação do meu pai e continuei insistindo.
Diversas pessoas foram promovidas antes de mim, o que me deixava muito abalado e até revoltado. Muitas vezes, escolhiam pessoas que tinham um nível de escolaridade muito menor que o meu e isso me indignava. Eu buscava forças internas e na minha família para continuar e não desistir e, diversas vezes, pensei em procurar outra coisa para fazer, mas recuava em virtude da promessa. Sempre tive como valor o compromisso da palavra e aquilo estava me matando!
No próximo artigo vou contar para vocês a continuação da minha história e também uma grande história de amor! Não percam!
Jorge Penillo, conhecido como Doutor Carreira, é coach e mentor de liderança e carreira. Professor universitário e palestrante, tem formação em universidades do Brasil e Estados Unidos. É graduado em Administração de Empresas com pós-graduação em Marketing e Negócios e possui MBA em Estratégia Empresarial com especialização em Neurociências. Começou sua carreira profissional aos 14 anos de idade, em 1986, aos 14 anos na Eletropaulo como menor aprendiz, e permaneceu na empresa por 30 anos, passando por várias áreas técnicas e administrativas até 2016. É autor do livro Iniciando uma carreira brilhante, que tem o objetivo de orientar os jovens sobre como entrar no mercado de trabalho.