A função de Business Partner, teve sua origem na década de 80 e tem sido uma forte tendência nos últimos anos. Por experiência própria posso assegurar que, por exemplo, o Citibank já a desenvolve há bastante tempo, de forma que na verdade não é algo tãaao novo assim, pois lá, desde 1990 aproximadamente essa figura já existia, porém com o nome de Generalista de RH.
Tomando o case do Citibank, o Generalista seria, fazendo uma analogia bem macro, como um gerente de conta muito especializado com certificação CPA20 e talvez até muito mais; isso para ilustrar a postura bastante diferenciada que esse profissional deve possuir.
Devido ao tamanho e à complexidade da citada Instituição, havia uma equipe de generalistas que dividiam-se entre as diversas áreas do Banco para facilitar e agilizar o trabalho de relacionamento entre o Business e a Gestão de RH, atuando em um ângulo de 360º, ou seja, trabalhando de forma muito interativa, com a missão em última análise, de buscar convergência entre os anseios e os desafios de cada área de negócios e as políticas e determinações da Gestão Master de Recursos Humanos, de forma a que todos conjuntamente caminhassem em direção aos melhores resultados tanto em termos materiais como humanos para a Organização como um todo.
O Generalista de RH era muito mais que um profissional da área versado em análises puras de currículos, processos seletivos, processamento da folha, questões trabalhistas ou tantas outras práticas e ações relacionadas à área. Claro que essa pessoa conhecia todos esses trâmites, PORÉM, havia um algo a mais que o destacava entre todos os demais colegas ligados à função. Essa pessoa tinha por missão, saber lidar com os conflitos e questões comportamentais de uma área de negócios, em contraposição às exigências de resultados.
Era alguém que corria riscos diariamente, sendo um dos maiores e mais frustrantes o de ser taxado pelos componentes de um Business como um “leva e traz”, justamente pela ingrata tarefa de ter que ouvir os anseios do corpo funcional de uma área e na sequência organizar essas questões de tal maneira que, ao serem levadas à Diretoria do Business (antes de seguirem para RH), não causassem nenhum conflito entre os funcionários e seus gestores. Era algo totalmente desafiador, que se realizado sem tato e sem a devida competência poderia gerar danos às pessoas que por ventura tivessem mostrado algum tipo de discordância, além de gerar um ambiente desagradável de desconfiança.
De uma maneira geral os profissionais generalistas do Citibank souberam cumprir seu papel de forma muito ética e agregadora.
Neste sentido, esses profissionais que nos dias de hoje guardam estreita relação com os business partners de RH, foram e são realmente empreendedores, pois souberam e continuam sabendo inovar em seu trabalho uma vez que chegaram a promover um diálogo saudável e coerente entre o Business e a Alta Gerência na Organização, gerando um ambiente de confiança, motivação, inovação e convergência de atitudes e posturas que promoveram excelentes resultados e formaram respeitados profissionais no mercado.
Utilizei esse exemplo para ilustrar de forma prática que você, empreendedor, que já deve até saber, deve desenvolver habilidades e competências para apresentar suas propostas de conectar a área de negócio de uma empresa com as práticas de gestão de pessoas. O objetivo do modelo é contribuir para uma atuação estratégica e bem aproveitada dos profissionais de recursos humanos, além de potencializar os resultados da organização.
Um Business partner tem como principal e primeiro desafio saber se colocar no lugar do outro, uma vez que, nunca esqueça este princípio, será o elo de ligação entre o business e a Diretoria de RH. Esse profissional necessitará desenvolver bastante suas capacidades de colocar-se em rapport com os gestores do Business e de comunicar-se de forma assertiva e em posição de escuta ativa, porque comunicar-se não é simplesmente falar, é também ouvir (muito).
O Business Partner precisa desenvolver também competências de planejamento, treinamento, estratégia de médio e longo prazos e visão da área em que atua de forma a auxiliar a gestão para tomadas de decisões em momentos de distribuição de resultados, necessidades de realocação, admissão, demissão de pessoas, desenvolvimento de indicadores de performance, feedbacks, processos de avaliação e principalmente em movimentos de fusão com outras Instituições, algo que atualmente acontece com alguma frequência tornando-se motivo de muito stress e angústia quando conduzido de forma inadequada. Portanto o alcance da tarefa de um Partner que deseje ser um profissional empreendedor não se restringe apenas ao preenchimento de formulários, cumprimentos de políticas e trâmites burocráticos, mas muito mais, orientando e mostrando alternativas de ação, auxiliando as pessoas a se reposicionarem em suas funções, a perceberem por meio de feedbacks se haverá necessidade de ajustes em sua performance. Em certos momentos esse profissional chegará até mesmo a precisar de habilidades de Coaching para estimular as pessoas a se superarem de uma forma que as impeça de pensarem que estão em processo de desligamento, quando apenas estão sendo auxiliadas a buscarem o melhor para si e para a Organização.
Os desafios são envolventes, e com certeza agregarão muito valor a quem aceitar enfrenta-los e superá-los.
Quanto mais conhecimento melhor: é necessário buscar aprender sobre o negócio da empresa onde você trabalha ou pretende trabalhar. Isso significa, primeiramente, entender do produto ou serviço em si, ou seja, do que a empresa oferece aos clientes. Uma outra vertente de conhecimento, igualmente necessária, é conhecer as áreas das quais você Partner empreendedor será parceiro, além de tudo o que envolve suas atividades.
Uma boa prática no exercício diário desse papel de Partner é conversar bastante com a Diretoria, se for possível, ou com pessoas que ocupem posições estratégicas. Também é saudável coletar a percepção dos líderes de áreas e dos demais colaboradores, como se você fosse um novo profissional que precisa entender o funcionamento do setor. É claro que, se forem muitos setores, essa atividade pode ser impraticável. E é justamente por isso que os BP’s costumam se dividir entre as áreas de uma organização, já que assim alcançam o aprofundamento necessário, como ocorreu e ocorre na Instituição Bancária acima mencionada como exemplo prático.
Além de tudo isso podemos destacar mais desafios à tarefa de quem se propõe a desenvolver um trabalho empreendedor de parceria em Recursos Humanos:
- Fortalecimento da cultura da Organização onde o BP atua, incentivando e encorajando ações que criem uma atmosfera saudável no ambiente de trabalho, que é o local onde as pessoas passam a maior parte de seu tempo, todos os dias, mesmo que estejam em Home Office.
- Criação de condições para que a gestão do Business em ocasiões previamente combinadas realizem por exemplo, uma análise do perfil comportamental dos colaboradores, um indicador muito útil para a correta identificação de oportunidades de desenvolvimento profissional e pessoal para as equipes. Em alguns casos, uma performance não muito adequada pode denotar uma inadequação de uma pessoa à área/função, gerando frustrações e desmotivação. O BP precisa perceber essas sutilezas e auxiliar a Gestão do Negócio a fortalecer e adequar as habilidades de seus colaboradores e não apenas apontar falhas em desempenho.
- Facilitação dos processos e estratégias de avaliações, tornando-os eficazes tanto para os resultados da área quanto para o desenvolvimento efetivo do colaborador.
- Consciência de que não é possível agradar a todos o tempo todo, sendo exigido do BP o jogo de cintura e a capacidade de negociação, argumentação e engajamento de toda a equipe por um único objetivo, a despeito das dificuldades. O BP tem a tarefa de retirar do aparentemente ruim, elementos que fortalecerão o aprendizado, a capacitação e a articulação das equipes que formam um Business.
- Produção de um ambiente de trabalho enriquecedor, motivador, interativo, multiplicador de conhecimentos, leve e agradável (Ok, é um desafio…..), sem perder o foco da geração e superação de resultados. Neste sentido, o BP empreendedor pode propor à gestão, tendo sempre ouvido antes as equipes pelas quais é responsável, atividades que “chamem” os colaboradores a se sentirem protagonistas do Business. Ações que promovam qualidade de vida, mostrando a preocupação primeira com a pessoa, treinamentos diretamente relacionados às funções desempenhadas por cada um e alguns (isto é importante) que desenvolvam habilidades de autoconhecimento e inteligência emocional, dotando as pessoas de um background completo para o amadurecimento profissional e pessoal. Isto traz uma enorme diferencial a uma área, pois os colaboradores perceberão em si mesmos a força para vencer desafios.
Todas essas facetas e muitas outras mais, uma vez que a lida com pessoas traz oportunidades enormes, mostram o quanto temos que reconhecer que, atualmente em nosso país a iniciativa privada é também uma grande educadora, muito mais que o setor público, até pelas características inerentes a cada setor de atividade.
Esta característica educacional existe pelo fato de ser na Corporação que as pessoas realmente aprendem a profissão, adquirem e ampliam valores, descubram e sintam qual(is) é(são) sua(s) motivação(ões), encontrem caminhos alternativos, novos talentos e habilidades antes escondidos.
Porém para que isto aconteça é FUNDAMENTAL que a Gestão Senior tenha essas premissas incorporadas em si própria, o que a torna capaz de dar o exemplo, gerando mais líderes que possam continuar o processo de desenvolvimento do Business. As pessoas precisam desafiar e serem desafiadas a todo o instante para se sentirem motivadas à criatividade, ao fazer acontecer, à geração do novo a partir do estabelecido.
É neste ponto que reside a grande oportunidade do Business Partner de RH incentivando a ambição saudável, o espírito empreendedor que não teme nem desiste nos momentos de aparecimento de obstáculos, a agilidade que é aquela competência que faz com que uma pessoa perceba as necessidades do momento e aja rapidamente para a solução, o olhar para o todo e não apenas para dentro de uma única unidade, a promoção da revolução na maneira de realizar as coisas, dentro de parâmetros seguros, a visão de futuro, o protagonismo na veia, o COMPROMETIMENTO que gera responsabilidades, a maturidade no lidar com as diversas situações do dia-a-dia, o aprendizado sustentado, a resiliência e a busca pela produtividade.
Estes são alguns aspectos do empreendedorismo nas Corporações através da figura hoje tão atuante que é o Business Partner de RH.
E então empreendedor bus. partner??
Vai encarar ou ficará pelo caminho??
Maria da Penha Amador Pereira, Economista formada pela Pontificia Universidade Católica de São Paulo com especialização em Desenvolvimento Econômico.
Atuou em carreira corporativa na antiga Companhia Energética de São Paulo, Banco do Estado de São Paulo e no Citibank, onde desenvolveu carreira por aproximadamente 30 anos em Controladoria, Planejamento Estratégico, Segurança de Informações, Gestão de Crises e Continuidade de Negócios, Qualidade, Projetos de Melhorias de Processos e Produtos Bancários, Controles Internos, Auditoria, Governança Corporativa, Regulamentação Bancária e Compliance.
Atualmente é escritora com obras já publicadas, Master Coach e PNL, Orientadora e Mentora de Carreiras, Palestrante e Educadora Financeira, tendo publicado mais de 55 artigos em Portais de Empreendedorismo, mídias sociais, jornais e revistas regionais e LinkedIn, além de ter participado de vários seminários e fóruns sobre diversos temas ligados à realidade brasileira e Compliance.