O Brasil Empreendedor: Como manter o foco no desenvolvimento – Parte I

O Brasil é um país empreendedor a despeito de todas as dificuldades e carências muitas delas histórica e culturalmente enraizadas a ponto de nos levar a pensar que não há saída para as questões que tanto afligem nossa Nação.

Temos amarras em praticamente todos os segmentos de atividade: problemas estruturais, culturais, nossa infraestrutura é extremamente deficitária pelas imensas desigualdades em todos os sentidos entre suas regiões geográficas, carregamos deficiências em serviços básicos de saúde, educação, segurança, transportes, há um grande desnível entre pobres e ricos, e tantas outras questões que formam um conjunto de problemas dos quais ouvimos falar há muito tempo, porém sem iniciativas que efetivamente objetivem sua redução ou extinção.
Fomos protagonistas em alguns momentos de booms de crescimento, que na verdade não ocorreram sobre bases sólidas e por este motivo não se sustentaram.
Na verdade, o que nosso país realmente requer é o desenvolvimento sustentável, muito diferente de simples crescimento.
Claro que uma sequência forte de ciclos de crescimento, geram bases para o desenvolvimento, porém para que esses ciclos ocorram como esperado, são necessárias políticas e iniciativas de todos os segmentos do país, a começar, claro, pelo Governo Instituído através do voto, pela saudável aplicação plena da democracia, da atividade ética e protagonista dos poderes constituídos sem o que nada se obtém, a não ser discussões infindáveis, improdutivas, repetitivas e inúteis, o que acabam em última análise afetando justamente o lado mais carente de recursos e paradoxalmente o que mais tem condições de iniciar a marcha para o desenvolvimento que é justamente a força de trabalho do Brasil, constituída por milhões de brasileiros que atualmente encontram-se em situação de desemprego, o que leva à total exclusão da geração do consumo que alimentaria a cadeia de geração de produtos, bens e serviços.
A insuficiência ou ausência dessa força propulsora, promove a retração da Economia, levando o país às crises, à falta de confiança, à ausência de investimentos e à pobreza social.
Não desejamos nada disso! Nosso país é formado por gente muito criativa, cheia de esperança e disposta a vencer desafios. Isto é patente quando verificamos quantas iniciativas na informalidade que vemos surgir nesses momentos de dificuldade!
A questão é que não podemos permitir que essas iniciativas se perpetuem na informalidade, pois nesta situação os empreendedores não recebem a menor assistência que seria necessária para realizarem seus projetos.
Pessoalmente acredito que se pudesse haver uma parceria entre grandes corporações financeiras e não financeiras, governos de Estados, prefeituras e agências de fomento e fiscalização criando polos com alguma estrutura para desenvolvimento dessas idéias, formalizando-as, dando apoio jurídico, contábil, financeiro (claro, nada de graça), profissional e humano talvez tivéssemos muito mais empreendimentos sustentáveis do que temos hoje.
Imagino que poderíamos ter um Sebrae com atividade expandida, com espaço físico inclusive para o desenvolvimento do trabalho dos novos empreendedores que levassem uma boa ideia para ser discutida com o possível novo Órgão de fomento, que funcionaria como um sócio majoritário do projeto até o ponto em que este tivesse maturidade suficiente para criar sua própria identidade e partir para seu voo solo. Claro que tudo seria feito com base em um contrato onde fossem estabelecida cláusulas com direitos e obrigações de ambos os lados.
Um novo Sebrae, misturado com BNDES que também recebesse pagamento pelos lucros auferidos até completar-se o custo inicialmente estabelecido.
Essa é uma idéia pessoal que vislumbro como uma tentativa ou até de alternativa de tirar do atraso e da exclusão pessoas que por falta de qualificação e preparo para atenderem as novas exigências e competências do mercado de trabalho totalmente alterado pelo advento da 4ª Revolução Industrial, estão hoje completamente à margem da sociedade e sem perspectiva para reingressarem no mundo do trabalho visto terem perdido suas posições. E até mesmo para quem, por quaisquer motivos, não consegue iniciar sua jornada de atividade econômica.
O país PRECISA de sua força de trabalho dando o máximo de si para sair do atoleiro em que se enfiou desde 2008 e que dados todos os problemas de corrupção, falta de ética, comprometimento das autoridades, comportamentos inadequados de pessoas públicas, brigas inúteis de poder, encontra-se hoje totalmente travado e a curto prazo sem um horizonte claro de recuperação econômica, política e social.

 

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Temos que ter em nossa cabeça bem claro a distinção entre crescimento e desenvolvimento em primeiro lugar.
Crescimento é a produção pura e simples de produtos, bens e serviços. O país produz, vende, compra, paga seus débitos e ao final faz uma conta simples para verificar quanto no fim do dia teve de renda. Se a renda cresce, podemos dizer que estamos em um processo de crescimento, PORÉM, todos são beneficiados por esses resultados? Se sim, poderemos dizer que estamos em marcha para o desenvolvimento, quando TODOS sem exceção sentem os benefícios do aumento da produção e da RENDA.
O desenvolvimento de uma Nação só acontece quando os efeitos positivos de uma continuidade de produção de bens e serviços são DISTRIBUÍDOS E SENTIDOS por todos os cidadãos na forma de serviços adequados e eficazes de atendimento à saúde, à segurança, à educação, à defesa dos direitos básicos e universais da cidadania, ao trabalho adequadamente remunerado, que gerará consumo, novas necessidades, impulso a nova produção alimentando assim um círculo virtuoso de bem estar social e riqueza. Isto não quer dizer que não existirão pessoas mais abonadas que outras; isso continuará a existir até porque faz parte das características pessoais de cada um ser mais agressivo ou competitivo na busca por um ideal de vida.
Há algumas pessoas que se sentem felizes com um dado padrão de vida, outras possuem uma ambição maior, mas em uma situação de bem estar social, todos deveriam ter pleno o direito de buscarem suas oportunidades da forma como lhes conviesse. Esta é a grande diferença.
Na situação em que nos encontramos hoje, há milhões de pessoas às quais simplesmente foi cortado o acesso à busca por uma situação minimamente digna de vida, o que traz como resultado o empobrecimento do país como um todo.
E pior, o empobrecimento material da população em sua maioria, acarreta como consequência a diminuição da auto estima das pessoas pela ausência de um fator crítico na vida de uma pessoa, ou seja sua dignidade enquanto ser social, que trabalha, que gera riqueza, que produz.
Um profissional que perde sua posição de trabalhador sente-se inútil, pois deixa de agregar valor ao meio em que vive. Nas sociedades liberais, o valor agregado que uma pessoa acrescenta ao grupo é um fator importante de inclusão social e sem isso a pessoa torna-se um peso para a comunidade.
O Brasil oferece recursos de uma tal maneira que torna-se quase inaceitável a existência de pobreza absoluta em nosso meio, sendo que a péssima notícia é que ela existe e infelizmente coexistimos com ela, às vezes de forma irresponsável.
É muito fácil perceber essa situação: caminhe pela Avenida Paulista em São Paulo e fatalmente constatará essa triste realidade.
Eu mesma pude atestar isto certo dia passando na calçada do Hospital Santa Catarina: vi uma fileira enorme de pessoas jovens, homens e mulheres, preparando-se para dormir ao relento naquele local. Tempos atrás, especialmente na época da implementação do Plano Real, não se viam cenas como esta. Isto não pode continuar.
Quais são as perspectivas que essas pessoas possuem na vida? Como elas veem a si próprias? Que valor atribuem-se? O que pensam da vida? Que esperança tem acerca do futuro? Por que um país de recursos tão abundantes permite que seus cidadãos enfrentem uma situação de penúria e desrespeito à sua dignidade como pessoas humanas que são? O que se pode fazer para restaurar a dignidade perdida desses cidadãos?
Pensando nestas questões, em setembro último, a revista Exame promoveu um fórum no Hotel Unique em São Paulo cujo tema foi “Brasil: como manter o foco no desenvolvimento”, que contou com a participação de vários governadores de Estado, sociólogos, historiadores, cientistas políticos e jornalistas tendo inclusive a presença de Luciano Hulk que nos mostrou em vídeos relatos de suas viagens pelo país e a situação de pobreza em que encontrou muitas famílias.
Não quero com este texto colocar a ideia de negativismo, ao contrário, quero que você leitor que é empreendedor perceba através dele o quanto é importante sua ação, seu compromisso com a recuperação do Brasil. Não fique esperando medidas governamentais para isto ou aquilo, reformas disto ou daquilo, simplesmente vá e use sua criatividade e força de trabalho!
Convoque outras pessoas, fuja de colocar em outros a responsabilidade que você tem, porque tem uma ideia, um projeto, habilidades, conhecimento, enfim, você é possuidor dos recursos mínimos para fazer acontecer, no mínimo para você mesmo! Não deu certo?? Pare, ok, chore um pouco, pois ninguém é de ferro, descanse uns minutos, reorganize suas idéias e VOLTE!!
Quando você de fato acredita que pode, não há escapatória…
VOCÊ FAZ!!!!!!!!!!
 O que distingue o empreendedor da pessoa que só executa (não tirando o mérito aqui, bem entendido!!! Pois há necessidade em um dado momento de executores para continuidade dos processos criados) é que o primeiro não se cansa de criar novas situações por saber encontrar os problemas! Em resumo, o empreendedor é um
 CAÇADOR DE PROBLEMAS!!!!
Se ele parar de caçar problemas não será mais empreendedor! É a visão antecipada de ausências, carências, necessidades, que faz uma pessoa criar alternativas para suprir essas questões!
Assim, criado todo este cenário de empreendedorismo propício ao destravamento da Economia, o fórum colocou alguns pontos de maneira didática bastante interessantes do ponto de vista primeiro da formação da sociedade brasileira a qual traz em si características que de uma maneira geral explicam a dificuldade de nos tornarmos uma nação definitivamente pertencente ao grupo dos países desenvolvidos.

 

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Cenário brasileiro – Alguns pontos:
  • Gasto público consistentemente superior aos recursos arrecadados – dificuldade com as contas públicas – necessidade de reforma estrutural do Estado Brasileiro;
  • Receita sem crescimento compatível com o PIB – crise fiscal profunda;
  • Contrato Social: uma sociedade extremamente desigual, tendendo a procrastinar a solução de problemas com a equidade; além disso a existência de um corporativismo atuante expresso principalmente pelas associações do setor público que pressiona com efetividade mudanças constitucionais a seu favor, alimentando a desigualdade. Neste contexto, a reforma da Previdência vem de certa forma quebrar a eficácia dessa atuação;
  • Sentimento de pessimismo em relação ao futuro do Brasil;
  • Formação do patronato e oligarquias do Estado foram como que um transplante da Economia Portuguesa para a Brasileira nas origens que continua de uma maneira ainda bem arraigada à nossa cultura;
  • Com o atual cenário, o nível de renda per capita brasileira (US$11M), a Economia levaria 35 anos para conseguir dobrar esse valor;
  • Grande gargalo: EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL;
  • Grande problema: REFORMA DO ESTADO BRASILEIRO;
  • Papel do estado hoje é totalmente indevido, pois é corporativista, não existe para servir à Nação, mas para ACOMODAÇÃO de setores privilegiados que insistem em travar o desenvolvimento;
  • A recuperação já começou porém em amplitude insuficiente;
  • O Brasil precisa aprender as lições de países destruídos e reconstruídos em bases sólidas e perenes como Alemanha, Japão, Estados Unidos. Nos dois primeiros casos, a II Guerra Mundial e no terceiro, a Guerra Civil Americana;
  • O Estado Brasileiro precisa se desapegar das atividades que não lhe dizem respeito, eliminando o Corporativismo e destravando a atividade econômica que passaria a se reger pelas leis de mercado e não mais pelas determinações de grupos interessados em salvaguardar privilégios em detrimento dos demais. Se o programa de Privatizações fosse efetivado como planejado, no espaço aproximado de 1 ano e meio, o crescimento econômico avançaria para um patamar de 2.5%;
  • Segundo o ex ministro da Defesa, o Brasil nunca dispôs de uma política de Segurança Pública consistente. O que houve foram alguns projetos de titulares que ao deixarem seus cargos geravam descontinuidade, peças avulsas e desconexas de planos;
  • A juventude entre 15 e 24 anos mata e morre duas vezes mais que todos os demais segmentos etários, pressionando em escala exponencial o sistema prisional brasileiro que NÃO faz parte das políticas de segurança pública, pois o Estado não defende o apenado quando este ingressa no sistema, restando ao mesmo a alternativa de se associar às facções criminosas para defender a própria vida no interior das prisões. Tudo isto alimenta e realimenta a cadeia do crime.
  • Portanto é necessário a revisão total da Segurança Pública, com a criação de políticas e reforma do sistema prisional, além de uma atuação focada mais em prevenção para evitar a repressão pura e simples e o abandono do apenado à sorte própria dentro das prisões.
    • Na esfera Macroeconômica: perda generalizada da confiança, ineficácia dos investimentos públicos (vide BNDEs), crescimento descontrolado da dívida pública; a reforma da Previdência é um dos caminhos para a readequação do gasto público, mas não conseguirá sanear as finanças públicas se não for acompanhada de reforma tributária e fiscal e do Estado. Além disso, as políticas públicas precisam estar adequadas à nova realidade demográfica do país, qual seja, o alargamento do topo da pirâmide populacional do Brasil e o estreitamento de sua base, trazendo como consequência um menor volume de pessoas ativas que financiam as inativas;
  • Nosso país no entanto reúne algumas boas condições de superar crises, pois tem baixa vulnerabilidade externa, possui um nível muito bom de reservas internacionais, a dívida pública embora grande e pressionada é totalmente financiada internamente, tem um Banco Central eficaz e com alto nível técnico e conseguiu ter sucesso no evitamento e exposição a choques externos;
Estes foram alguns pontos críticos que afetam e inibem a recuperação do Brasil levantados no Fórum que buscou muito mais apontar as grandes oportunidades de empreendedorismo em nosso país, que foram bastante discutidas especialmente na exposição dos governadores de Estado e de Luciano Hulk. Estas oportunidades serão temas de um próximo artigo que será uma continuidade deste.
O importante com toda essa situação é percebermos que o Brasil precisa de reformas profundas as quais em sua grande maioria podem ser objeto de descontentamento de uma parte da sociedade, visto termos uma formação muito corporativista e paternalista, além de mostrarem resultados a um prazo mais longo, o que para certas ambições políticas e de poder não são interessantes. Neste caso somente um líder empreendedor pode ter a coragem de renunciar aos oba-obas de projetos vistosos mas inviáveis dada a atual situação, em favorecimento da preparação do terreno para os alicerces do real desenvolvimento.
Independentemente desse chefe da Nação, líder, empreendedor, cada um a despeito de todas as dificuldades enfrentadas hoje, pode realizar seu papel de empreendedor, com atitudes e postura de quem deseja construir mesmo em meio ao caos e à aparente impossibilidade de tal ação.
Não desanime de sua luta: lembre-se o empreendedor é o caçador de problemas. Se eles não existirem o que será dos empreendedores?

 

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Maria da Penha Amador Pereira, Economista formada pela Pontificia Universidade Católica de São Paulo com especialização em Desenvolvimento Econômico.

Atuou em carreira corporativa na antiga Companhia Energética de São Paulo, Banco do Estado de São Paulo e no Citibank, onde desenvolveu carreira por aproximadamente 30 anos em Controladoria, Planejamento Estratégico, Segurança de Informações, Gestão de Crises e Continuidade de Negócios, Qualidade, Projetos de Melhorias de Processos e Produtos Bancários, Controles Internos, Auditoria, Governança Corporativa, Regulamentação Bancária e Compliance.

Atualmente é escritora com obras já publicadas, Master Coach e PNL, Orientadora e Mentora de Carreiras, Palestrante e Educadora Financeira, tendo publicado mais de 55 artigos em Portais de Empreendedorismo, mídias sociais, jornais e revistas regionais e LinkedIn, além de ter participado de vários seminários e fóruns sobre diversos temas ligados à realidade brasileira e Compliance.

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