O Brasil empreendedor: Como manter o foco no desenvolvimento Parte II
Sim, continuando nossa reflexão, afirmo com certeza que nosso país é o melhor lugar para o empreendedor e nosso povo tem essa característica, justamente pelo fato de muitas vezes em sua História, ver-se na necessidade de agir por conta própria (no bom sentido) para poder superar a ausência de recursos de qualquer natureza, para uma vida minimamente digna.
O povo brasileiro em grande parte é dotado de uma impressionante capacidade de enfrentar adversidades, criar em meio às mesmas alternativas para o enfrentamento e posterior superação, o que o faz carregar desta forma as habilidades e competências de um empreendedor.
O problema é que na grande maioria dos casos, não existe incentivo para que estes traços de trabalho criativo aflorem e desenvolvam-se. Geralmente o que ocorre com essas pessoas envolvidas em dramas dos mais diversos, é que acabam tornando-se alvo fácil de grupos interessados em manter esse status quo com a finalidade de auferirem benefícios, utilizando-se das camadas mais sofridas da população brasileira como uma “moeda de troca”.
É desta forma que nascem “programas sociais” com o dissimulado interesse em dar sustento e encaminhamento a famílias vítimas de pobreza, secas, chuvas, desabamentos e toda a sorte de eventos desagregadores, mas que na verdade possuem o real intuito de fazer com que as camadas populacionais mais carentes permaneçam na situação em que se encontram para estarem continuamente na dependência desses grupos corporativistas, movidos por interesses que estão muito longe da verdadeira justiça social. Esse traço do Brasil é em grande parte uma herança cultural advinda do formato da colonização do país, que caracterizou-se pelo paternalismo e pela submissão a começar no período das doações das capitanias hereditárias. O paternalismo infelizmente sempre existiu na formação econômica e cultural deste nosso país, PORÉM está mais que na hora de, com a veia empreendedora que o Brasil, graças a Deus, também possui, começarmos a quebrar esse círculo vicioso de dependência, para um novo momento.
E qual seria a saída para essa ruptura? Não tenho a menor pretensão (e eu seria prepotente em achar que a tenho), mas entendo que a saída para os descaminhos do povo carente do Brasil, incluindo-se todas as etnias existentes nessas condições e até mesmo os de melhor condição mas sem caminho algum devido a uma situação de desemprego persistente, seriam mesmo parcerias entre o poder público e o setor privado, sendo que a boa notícia é que já existem uma série de ações sérias sendo estruturadas nos diversos Estados da Federação.
E por qual razão as parcerias seriam bem sucedidas? Por várias razões, para citar algumas, poderíamos elencar por exemplo, a liberação de recursos do Estado para serem empregados em serviços básicos que a população carece atualmente como saúde, educação (especialmente a fundamental) e segurança pública, que combinemos está no mínimo uma lástima, apesar de algumas ótimas iniciativas pontuais de algumas regiões. Os recursos que o Estado empregaria nos famigerados programas sociais, seriam mais úteis para a melhoria nos citados serviços.
Outra razão para as parcerias seria a participação efetiva do Capital privado na criação de projetos de empreendedorismo nas áreas de sua atuação, gerando empregos nas regiões onde atuam, criando desta forma um mercado consumidor local que impulsionaria a atividade econômica. Esses projetos seriam desenvolvidos pelas próprias empresas privadas, à semelhança de hubs ou pequenos “Vales do Silício”, dando oportunidades a pessoas sem colocação e sem ou com pouca qualificação, os quais atuariam em um primeiro momento como “colaboradores” e no médio ou longo prazos quando os projetos se pagassem, poderiam “separar-se” do “tutor” (a empresa) tornando-se responsáveis e donos do negócio originado do projeto. Um exemplo: uma Corporação especializada em alimentos, poderia criar um “hub” de reciclagem de alimentos, “contratando” pessoas sem colocação ou qualificação, treinando-as para as atividades básicas do projeto, inserindo-as desta forma no processo de produção da Corporação. Essas pessoas reciclariam os alimentos para reaproveitá-los de diversas formas (alimentos desidratados, rações para vários tipos de animais, cosméticos, remédios naturais, etc) e como participantes receberiam pagamento, sendo que uma parcela deste “salário” comporia um fundo do colaborador para sua futura participação como sócio do empreendimento. Com o tempo, os melhores poderiam tornar-se donos de futuros centros de reciclagem de alimentos vindos de restaurantes, escolas, empresas, que de outra forma seriam jogados no lixo, ou seja, gerando desperdício total. Os que não fossem direcionados a serem os sócios proprietários do negócio, receberiam de volta seu fundo de participação, como se fora um “FGTS”. Durante todo esse processo, continuamente os participantes seriam estimulados a se atualizarem, a estudarem. A Corporação líder de um projeto desta natureza, receberia como incentivo do Estado, claro, com o devido exame e análise prévios, isenções de taxas ou impostos, dependendo do empreendimento.
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Além de tudo isso, visualizo um outro ganho para uma Corporação que se propusesse a criar esses polos de empreendimentos: os líderes dos grupos de pessoas executoras de um dado tipo de atividade poderiam ser profissionais recém formados que também atualmente enfrentam dificuldades para iniciar sua vida profissional. Dentro de suas áreas de formação, trabalhariam em regime de contrato com esses grupos de pessoas, liderando as atividades de cada grupo, motivando, ensinando, pesquisando novas formas de realizar o trabalho que estão conduzindo, etc. Esses projetos tornar-se-iam, até mesmo pensando um pouco alto, pequenos centros de pesquisas de novos produtos, processos, formando novos profissionais. Assim, cria-se atividade, promove-se reciclagem, reduz-se custo de produção de uma Corporação, além de promover a inclusão no mercado de pessoas já desacreditadas ou sem estímulo para empreenderem por si só.
Porém neste contexto, em minha opinião há uma razão que por si só já justificaria toda essa movimentação e que a meu ver é FUNDAMENTAL, pois além de dar condições financeiras às pessoas sem perspectiva alguma, ou sem oportunidade de iniciar sua jornada profissional, ou sem emprego mas que já tiveram projetos construídos, hoje travados pela estagnação econômica em que se encontra o país, devolveria a esse contingente de inteligências desperdiçadas, a DIGNIDADE HUMANA, a qual perdeu-se pela sensação de inutilidade, de pesos mortos, de exclusão, de ausência de perspectiva e motivação pela vida! Uma pessoa sem motivação, sem projeto pessoal, sem a sensação de ter um motivo para viver torna-se um peso morto, gera custo social, e dependendo de seu arsenal de força interior pode tornar-se uma presa fácil do crime organizado. Pessoas desempregadas são fortes candidatas a tornarem-se também problemas de segurança pública, outro gargalo que aí sim, o Estado precisa estar disponível para atuar. Essa disponibilidade virá no momento em que assumir seu correto papel de articulador de políticas públicas para gerar condições à iniciativa privada de promover o bem estar social.
Como já dito, já existem iniciativas em processo de estruturação em vários Estados do Brasil, em diferentes regiões, cada qual buscando soluções e caminhos para suas mais prementes necessidades. Infelizmente, os problemas são em grande número e os recursos não tão grandes assim, sendo que as ações precisam ser priorizadas de forma a se criarem as condições para o desenvolvimento.
Neste artigo, citaremos alguns dos planos de parcerias públicas com a iniciativa privada com o objetivo de eliminarem-se os gargalos. Tive a oportunidade de ouvir as exposições de alguns governadores de diferentes Estados e vertentes de pensamento e pude perceber que, independentemente da posição partidária, essas pessoas estão convencidas de que antes de qualquer coisa, é absolutamente necessário que haja uma junção de forças entre o setor público e o privado, como alternativa para a superação de todos os gargalos que impedem o desenvolvimento de cada Estado em particular e do Brasil como um todo.
Desta forma mostrarei a você leitor empreendedor alguns bons exemplos de interessantes iniciativas na linha da parceria, onde em primeiro lugar o governador coloca-se em uma atitude realista de reconhecer e apontar com firmeza onde estão seus maiores entraves, e abrindo um parêntesis aqui, é essencial que o líder reconheça e aponte com clareza o que deseja mudar, sem discursos vazios de que tudo está bem, que as estatísticas apontam isso ou aquilo, não! Como primeiro passo é necessário a correta identificação do que não está adequado, para na sequência elaborar planos de ação que sejam efetivamente acompanhados, geridos para que cheguem ao objetivo final. E mais, foi unânime, na fala desses governadores o reconhecimento que eles ESTÃO governadores, como se fossem um CEO do Estado que governam e que desta forma devem prestar contas aos “acionistas” que são seus el
eitores do que realizaram.
Muito embora algumas pessoas não concordem, e não entrarei aqui no mérito da questão, respeitando o pensamento e opinião de cada um, entendo que o governador que mais assumiu o papel do gestor do Business “Estado”, é o sr. Governador do Estado de São Paulo, considerando em um segundo honroso lugar o sr. Governador do Estado do Pará, que com muita assertividade colocou claramente os entraves de seu estado e apontou várias alternativas em termos de parcerias entre a esfera pública e a privada.
Além deles falaram por suas regiões os líderes de Bahia, Rio de Janeiro e Ceará, apresentando também boas ações no sentido de estimular o empreendedorismo gerado entre a iniciativa privada e o setor público.
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Em São Paulo:
Planos para retenção e inclusão de grandes empresas no Estado pela oferta de incentivos como por exemplo, redução do ICMS.
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Para o setor de Hortifruti, zeramento do ICMS como forma de baratear a produção, que na ponta do consumidor final, gera maior demanda, o que por sua vez retroalimentará a cadeia produtiva, gerando empregos pela maior procura.
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Trabalho em parceria com Corporações de bens de capital (ex. Grupo Caoa) para associação com grupos internacionais.
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Incentivo específico para empresas que venham para o Estado com planos de investimento de mais de $1Bi BRL , o que possibilita a geração de um grande número de empregos diretos e indiretos.
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Educação: revisão do calendário escolar segundo os mesmos padrões de países desenvolvidos e investidores em Educação, como por exemplo, Estados Unidos e Canadá.
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Extensão do Corujão da Saúde que obteve excelentes resultados em relação a filas de espera para exames e cirurgias, em especial catarata. Este é um dos grandes exemplos de como a parceria público-privada pode obter ganhos em escala e gerar condições minimamente dignas de vida.
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Na esfera da Segurança Pública, isto sim, uma grande missão do Estado, que também pode pensar maneiras de associação com a iniciativa privada, PORÉM, fiscalizando de forma efetiva, gestando políticas de segurança e para (muito importante) o sistema prisional. Como foi dito no Fórum Exame pelo Ex Ministro da Defesa Raul Jungmann, a questão no Brasil é que não existe uma política de Segurança Pública estabelecida; o que ocorre são planos de um governante que fez uma campanha, agiu durante o mandato conforme as promessas (nem sempre….) , sendo que ao término do período de gestão simplesmente há uma descontinuidade do que foi feito, devido à entrada de um novo preposto que desconsiderará o feito anterior e recomeçará com algo novo, descaracterizando o esforço anterior. O que o país precisa de fato é a criação de uma política de prevenção ao crime, aplicável em todas as esferas que esteja em linha com as melhores práticas de Segurança e que PRINCIPALMENTE, esteja preocupada com o sistema prisional e suas condições de correção, não permitindo que a pessoa apenada torne-se mais um problema de Segurança Pública. Muitas idéias poderiam ser discutidas neste item, porém este não é o intuito deste texto neste momento. Na questão específica das iniciativas do Estado de São Paulo tivemos a ampliação da proteção à mulher pela implementação de delegacias especializadas.
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Política fiscal gerida com foco, o que faz com que o Estado mantenha-se na liderança do país, com um crescimento maior do que o total da Nação.
Assim, o Estado de São Paulo vem atuando no sentido de tornar a gestão do patrimônio público mais profissional e menos política. O exercício da política é uma atribuição dos políticos e deve ser executado da melhor maneira possível, pois é parte integrante do pleno exercício da Democracia.
Entendo que um Governador de Estado precisa exercer seu viés político, de articulador, agregador em torno de ideias para criar condições de engendrar planos e ações que promovam o desenvolvimento da região pela qual tornou-se responsável, sim!
Mas MUITO IMPORTANTE, deve ter bem claro e separado o que é gestão do que é articulação. Não pode enxergar o Estado e a população como moedas de troca de cargos e poder.
Com relação ao estado do Pará, que é o segundo Estado brasileiro em território e uma enorme fonte de recursos minerais como ferro, bauxita, níquel e cobre, além do ouro, tem entre seus negócios a exportação de energia para outras regiões do país, devido ao enorme potencial hidrográfico. Turismo, pesca também são grandes fontes de renda da região.
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Como exemplo de iniciativas desenvolvedoras da região, seu titular citou:
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A construção do Porto de Vila do Conde, que é o maior porto mais próximo aos Estados Unidos e Ásia, através do Canal do Panamá. Em parcerias foram tomadas excelentes medidas de logística para viabilizar e facilitar ao máximo o escoamento da produção da região e outras próximas.
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Trabalho constante na regularização fundiária, uma questão muito crítica no Estado.
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Mecanização da lavoura
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Pesquisa genética também com parcerias com Instituições privadas.
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Melhoria nas condições e produtividade da pecuária, outra grande fonte de recursos do estado.
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Um grande desafio que o Estado em conjunto com todos os Estados da região Amazônica tem: a compatibilidade do desenvolvimento do Agro Negócio com a preservação da floresta e a proteção ambiental. Este é um dos maiores desafios que o Governador do Pará citou, demonstrando sua capacidade analítica e de visão da gestão correta do desenvolvimento da região com a preocupação pela defesa do meio ambiente. O desenvolvimento hoje em qualquer setor REQUER para se tornar auto sustentável e gerar riquezas que se multipliquem e que não se exaurem, a genuína responsabilidade ambiental, que vai desaguar na responsabilidade social, uma vez que a grande marca da população amazônica é a harmonia da convivência entre o homem e a natureza.
Em mais um exemplo para encerrarmos os cases dos estados, não desmerecendo todos os que falaram, citarei a Bahia, cujo representante mostrou-se bastante alinhado com a Federação como um todo, quando esta propõe medidas para estimular crescimento e desenvolvimento como, Reforma da Previdência. O gestor do estado da Bahia sempre mostrou-se favorável à inclusão dos Estados e Municípios em todas as novas determinações do Governo Federal no que diz respeito neste caso à Previdência. Já temos a Reforma aprovada, mas o comentário aqui tem o objetivo de pontuar a consistente atuação do Governador em torno da União.
O titular do estado também preocupa-se com a concentração dos recursos nas mãos do Governo federal e apresentou-se como totalmente partidário às parcerias como forma de melhoria no final da linha da arrecadação tributária, pelo incremento na atividade econômica sem a criação de novos impostos.
O que na verdade desejei mostrar a você empreendedor brasileiro, além dos, exemplos pontuais de alternativas para a superação da crise brasileira, não apenas nos citados estados cujos representantes encontravam-se presentes neste específico fórum de retomada do desenvolvimento, mas também em outras regiões do Brasil, é o imenso potencial que nosso país possui, tanto em recursos naturais e tecnológicos como e principalmente pessoas, profissionais dotados de capacidade e visão de futuro, mas não o futuro distante e sim, muito mais o futuro que se inicia hoje.
Para que isso aconteça ainda pensando em ações práticas, é de fundamental importância a renovação parlamentar, com pessoas jovens, imbuídas do desejo de realizar a transformação da qual o país tanto necessita. Essa transformação passa pelas crenças sabotadoras existentes em nossa cultura que insiste em acreditar em medidas paternalistas, corporativistas que NÃO visam o bem comum, mas seu próprio bem. Temos que colocar definitivamente em nossa cabeça alguns pontos importantes que podem fazer a diferença:
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Mudança de pensamento político
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Uso sim, intensivo de Redes Sociais para fins benéficos, para convocação de participação efetiva da população na gestão do que colocamos em confiança nas mãos de nossos representantes.
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Fim da polarização! Não podemos viver em função de quem come salgadinhos ou sanduíches de embutidos!
VIVER EM FUNÇÃO DO E PARA O BRASIL DE UMA VEZ POR TODAS!!
Leia a Parte I clicando aqui!
Maria da Penha Amador Pereira, Economista formada pela Pontificia Universidade Católica de São Paulo com especialização em Desenvolvimento Econômico.
Atuou em carreira corporativa na antiga Companhia Energética de São Paulo, Banco do Estado de São Paulo e no Citibank, onde desenvolveu carreira por aproximadamente 30 anos em Controladoria, Planejamento Estratégico, Segurança de Informações, Gestão de Crises e Continuidade de Negócios, Qualidade, Projetos de Melhorias de Processos e Produtos Bancários, Controles Internos, Auditoria, Governança Corporativa, Regulamentação Bancária e Compliance.
Atualmente é escritora com obras já publicadas, Master Coach e PNL, Orientadora e Mentora de Carreiras, Palestrante e Educadora Financeira, tendo publicado mais de 55 artigos em Portais de Empreendedorismo, mídias sociais, jornais e revistas regionais e LinkedIn, além de ter participado de vários seminários e fóruns sobre diversos temas ligados à realidade brasileira e Compliance.