Liderança, resiliência e administração desafios dos novos tempos
Liderança, resiliência e administração desafios dos novos tempos

Liderança, resiliência e administração desafios dos novos tempos

Meu caro empreendedor, o que significa liderança? O que é resiliência? Os que os dois termos possuem em comum na Administração de um empreendimento de qualquer natureza ou tamanho?

Esqueçam o dicionário, vamos além dele.

Liderança, de acordo com dois grandes expoentes do saber é definida da seguinte forma:

“A liderança é uma poderosa combinação de estratégia e caráter. Mas se tiver de passar sem um, que seja estratégia”
– Norman Schwarzkopf .

E ainda:

“A liderança é a capacidade de conseguir que as pessoas façam o que não querem fazer e gostem de o fazer.”
– Harry Truman

E quanto a resiliência?

 

E o que os dois termos possuem em comum?  Em uma única palavra que reflete exclusivamente meu ponto de vista, VISÃO.

Tanto no pensamento sobre Liderança de Norman Schwarzkopf , como no de Harry Truman, o líder tem um olhar que vai muito além do que enxergamos a olho nu, no sentido de que percebe o limite entre o capital, o lucro e o resultado a qualquer preço e o moralmente aceito, sem jamais usar a moral como justificativa para não realizar e superar resultados e para tanto, o líder TRANSFORMA as equipes, por sua capacidade de ver longe e transmitir essa visão para seus colaboradores, tirando deles o máximo, fazendo com que sejam cúmplices e estejam comprometidos com a causa, sem explorá-los e sem agir de forma ilícita.

Aí está a intersecção dos dois termos, que foram utilizados para que eu possa introduzir meu amigo leitor e empreendedor na abordagem dos desafios da Liderança resiliente nesta retomada progressiva da atividade sócio econômica.

Na Teoria Geral da Administração, estudamos o relacionamento dos gerentes e supervisores dentro de suas  organizações, a forma como conhecem e entendem  seus objetivos, a implementação de meios eficazes para atingir as metas propostas e como motivar os colaboradores a executá-las de forma a que todas sejam atingidas e no melhor dos mundos superadas, sempre e cada vez mais.

Também verificamos como as Organizações se distribuem em grupos e subgrupos, todos interligados por uma hierarquia vertical, que cria autoridade, delega  responsabilidades e estabelece as regras para que todos os grupos, ou áreas, estejam alinhados na condução de todos os objetivos.

A Administração clássica tem como tarefas ou funções básicas o planejamento, a organização, a direção e execução e o controle das atividades de forma a que não se desviem das metas estabelecidas, sendo que para garantir a fluidez, estabelece princípios gerais que passam por divisão de trabalho, disciplina, autoridade, responsabilidade, preponderância do bem comum em detrimento dos interesses individuais (que foi base de muitas contestações de natureza ideológica ao longo dos séculos XX e XXI), remuneração, hierarquia, espírito de equipe, entre outras.

Pode-se notar que a teoria clássica enfatiza sobremaneira a hierarquia e o comando, deixando de lado a questão da interação equânime entre todas as partes de uma Organização e muito mais que isso, não leva muito em conta que “comandar” apenas pode até gerar os resultados esperados, mas não o compromisso que acontece com quem enxerga não somente o resultado, mas todo o processo até chegar nele e é neste ponto que ocorre a GRANDE diferença do ser líder em qualquer circunstância.

Vivemos um tempo de incertezas, causado por uma questão de ordem exclusivamente sanitária a qual não poupou ninguém, sequer a mais avançada economia do planeta, mostrando-nos claramente um fato que por muito tempo foi ignorado na visão de governantes e líderes políticos ao redor do mundo: NÃO existe ninguém melhor que ninguém e NÃO é possível o alcance de nenhum resultado sem uma ação coordenada e CONJUNTA! Ou seja, TODOS precisam de TODOS!

Há um conhecidíssimo ditado africano que diz que podemos ir mais rápido sozinhos, porém mais longe se estivermos juntos. É exatamente isso que a Pandemia trouxe como lição primordial em minha opinião.

No cenário desta crise pela qual ainda estamos passando, duas coisas são extremamente certas, aliás uma delas sempre foi nossa grande certeza! A primeira reside no fato de que todos morreremos um dia e a segunda é que na retomada a grande maioria das Corporações adotarão o Home Office como uma nova realidade no mundo do trabalho.

Tomando emprestada uma famosa frase do papa da heterodoxia econômica, Sir John Maynard Keynes, “no longo prazo estaremos todos mortos”, eu, com todo o respeito, acrescentaria que todos estaremos trabalhando em regime de Home Office.

E neste novo contexto no qual uma grande parcela das Corporações optará pelo trabalho remoto, certamente criar-se-á a necessidade de revisão de estratégias de gestão de riscos internos, com terceiros, com processos, com as pessoas envolvidas, e além disso tudo, em minha visão será fundamental que se reveja o conceito de hierarquia.

Na Teoria Clássica como já mencionado enfatiza-se a hierarquia verticalmente como forma de direcionar as ações. Nas grandes corporações já se notava um vento de mudança com relação a este conceito, porém agora torna-se crítico que seja revisto, por conta da necessidade que cada colaborador terá de ser muito mais autônomo e responsável por seu trabalho, muitas vezes sem a facilidade de contato rápido para discussão de dúvidas ou ideias.

Também não se pode esquecer do novo olhar para a segurança das informações que serão transitadas de uma maneira muito mais ampliada em termos de canais em comparação ao modelo anterior de trabalho.

Serão exigidas análises muito abrangentes no que diz respeito aos riscos e gaps de controles, uma vez que os processos serão realizados de forma muito isolada. Há atividades importantes, como aprovações de riscos de crédito, aprovações de montantes financeiros, autorizações de acesso de terceiros, etc, que necessitam de pessoas reunidas e geram uma grande trânsito de e-mails no sistema clássico.

Em uma realidade de trabalho remoto, será muito crítico que essas atividades repetitivas que necessitam de um fluxo manual, sejam revistas, analisadas e transformadas em workflows digitalizados, o que liberará pessoas para outras funções gerando inclusive qualificação e novos conhecimentos, além de garantirem a segurança da informação transitada. Testes e revisões frequentes de políticas e procedimentos também darão a tônica do novo momento.

Da mesma forma será muito importante a realização de treinamento constante e muita conscientização em questões da segurança das informações manuseadas pelas equipes.

Outra grande questão que altera muito os conceitos da Administração é a necessidade que as Corporações terão de ter sustentabilidade, não somente em termos de proteção ambiental, extremamente importante para a sustentação e vida de uma Organização, uma vez que atualmente a preocupação com o meio ambiente pode ser um fator de quebra de confiança do público em geral para uma Instituição com a consequente destruição de seu nome.

A outra face da sustentabilidade diz respeito à relação da empresa com seus parceiros terceirizados. È fundamental que os líderes de uma Organização estabeleçam e divulguem políticas e procedimentos de segurança em relação às parcerias celebradas. Um parceiro descoberto em ilícitos pela sociedade, pode manchar indelevelmente a imagem de um nome construído por anos.

Postas todas essas oportunidades de crescimento e amadurecimento das Organizações trazidas pelos novos desafios devemos nos conscientizar que o Home Office não é só “trabalhar de casa”!

Implícitos nesse formato há propostas a serem enfrentadas e solucionadas por quem atuará remotamente: a autonomia será maior e portanto a responsabilidade e maturidade em tomada de decisões rápidas também serão exigidas de cada um. A postura absolutamente ética será um desafio na medida em que a pessoa trabalhando em seu ambiente doméstico, pode sofrer interferências de outras pessoas não ligadas à Corporação (isso é natural: filhos, esposa, marido, pais, animais domésticos, um prestador de serviço que precisa fazer algum reparo no local de trabalho, etc) e suas informações.

O profissional em trabalho remoto precisa estar consciente de que aquele espaço em que atua é uma simulação da Empresa, do escritório e como tal precisa ser cercado de sigilo e proteção ao que se veicula nos equipamentos. Outros desafios inerentes ao novo formato são a disciplina de horários e o dress code. È fundamental que se estabeleça uma rotina disciplinada de trabalho, até por conta do usufruto máximo da qualidade de vida que esse formato traz, e uma consciência de que é necessário portar-se e vestir-se (casual, claro) como se o profissional estivesse em seu escritório, pois pode acontecer uma vídeo conferência inesperadamente, ou a pessoa tenha que se levantar, enfim, situações práticas que parecem pequenas, mas que farão diferença.

Dado este cenário, o que se espera então de um líder nesses novos tempos, com novos formatos das relações de trabalho, tanto em nível do espaço físico como nos aspectos contratuais?

Por conta dos desafios esse líder que voltará  com um horizonte reformulado deverá ter respostas para:

  • Como ser líder em uma situação em que não há ninguém reunido em um só local?
  • Como fazer a Corporação resiliente, ou seja voltar a ser eficiente e produtiva de forma única, se ela foi golpeada em sua forma clássica e básica, ou seja, todos juntos em um local físico?
  • Como agregar todas as equipes de forma a que não se sintam “largadas”, cada um em seu canto, tendo que muitas vezes tomar decisões rapidamente sem muita opção de consultas ao gestor, sem reuniões de tomadas de decisão ou porque não houve como contatar todos, ou por questões tecnológicas (internet “caiu”, conexões desalinhadas, recursos domésticos muito desiguais entre um colaborador e outro), enfim diversos tipos de obstáculos os quais devem ser aprendidos e superados ao longo do tempo?
  • Como gerar controles internos que assegurem o bom trânsito de dados e informações, sem que haja perdas, má fé, ilícitos de uma maneira geral?
  • Como recriar a atmosfera de cooperação entre os membros das equipes de forma a que todos estejam conectados mesmo à distância para que tenham a sinergia necessária para o resultado?
  • Como gerar, em uma empresa dividida em múltiplos pedaços, o compromisso de quem se sente parte do todo, participando e sendo responsável pelo resultado do início ao fim e não apenas daquela parte que lhe cabe no trabalho?
  • Como realizar reuniões produtivas, assertivas, motivadoras e bem direcionadas de maneira a transmitir aos colaboradores a responsabilidade individual para o sucesso do grupo, criando um clima de engajamento e comprometimento em todos?
  • Como gerar nas equipes a motivação e o entusiasmo individuais, sendo que as pessoas não terão mais o importante fator do convívio, do estímulo de uns para com os outros, dos olhares que sugerem força e colaboração, sabendo-se que nem todas as pessoas possuem a mesma facilidade de se adaptarem ao trabalho isolado?

Enfim, se pararmos para pensar, realmente as propostas e desafios são inúmeros, porém, como em toda a atividade corporativa, o líder precisa ter maturidade e serenidade para buscar o novo para si próprio de forma continuada e sensata, aprendendo juntamente com sua equipe. È por essa razão que o conceito de hierarquia precisa ser mais horizontalizado, uma vez que TODOS serão “líderes” em seu espaço e TODOS terão que aprender a serem essa figura.

É a soma dos pedaços remotos do “líder”, que fará o grande líder. Se a pessoa que lidera não possuir maturidade, sensatez e um sentimento mais humanizado, uma vez que nem toda a equipe é igual em relação ao trabalho remoto, jamais saberá conduzir as partes que formam o seu “ser líder”.

Então além dos desafios técnicos, o gestor que quer ser líder deverá aprender e incorporar habilidades mais ligadas ao emocional, ao humano, com o passar do tempo, para que o processo seja muito natural e permita que, ao ser natural promova tranquilidade para a continuidade do trabalho e motivação dos colaboradores.

É muito desafiador para os executivos que lideram, mas lembramos que é justamente no momento de dúvida ou crises que podemos verificar realmente a força e o valor de uma pessoa e para ela é nesse momento que se prova audaz!

Em linhas gerais o líder dos novos tempos precisará incorporar a si as seguintes habilidades:

  • Empatia e rapport ao máximo, mesmo através de uma tela. È o contato constante, percebendo a pessoa do outro lado que gerará confiança e segurança nas equipes. Não confundir com cobranças online, que não são sinais de liderança, o que não significa que as pessoas estejam liberadas para fazerem o que e quando quiserem. Não se trata disso.
  • Coragem, pois no momento atual todas as Organizações enfrentam problemas de queda em resultados, sendo muito possível a necessidade de tomada de decisões críticas e rápidas para um redirecionamento de projetos ou estratégias.
  • Transparência é fundamental, uma vez que, como não é viável muitos encontros e reuniões para conversas, a liderança precisa ser direta e aberta para que todos entendam perfeita e rapidamente o que se deseja e o cuidado que deve ser tomado.
  • Sensibilidade: o líder precisa ter a habilidade de perceber eventuais dificuldades dos colaboradores, que quando juntos em um escritório tradicional, se auxiliam uns aos outros, mas isolados ficam com suas necessidades às vezes não atendidas. Exemplo bem prático: uma cadeira especial, um apoio de pernas, uma mesa mais alta ou mais baixa, enfim, estas coisas aparentemente pequenas, se percebidas pelo gestor que é líder podem gerar motivação, comprometimento por conta da percepção no colaborador de que ele está sendo visto e sentido pela Corporação. Faz toda a diferença.
  • “Coração” no sentido de mostrar para a equipe espalhada que é preciso entregar-se ao projeto, tarefa, função ou o que for de maneira aberta, comprometida e com amor, com coração. O líder precisa ter a habilidade de criar, mesmo à distância, em sua equipe o espírito do comprometimento com todo o coração, mas não apenas para se atingir um resultado, como também para gerar valor através de pró atividade, criatividade, curiosidade intelectual, que permitem com que o profissional em qualquer nível esteja realmente preparado para assumir quaisquer posições, onde e como quer que seja.
  • Humildade, uma habilidade que não é sinônimo de pasmaceira e inferioridade, mas a consciência de que toda a equipe está em uma nova situação e ninguém nela domina tudo o que essa realidade renovada traz de riscos e oportunidades, daí a necessidade de que o líder busque que sua equipe seja curiosa, fuce, busque, não se contente com o estabelecido.
  • Disponibilidade e audição: o gestor que é líder precisa ser aberto às questões trazidas por seus colaboradores e OUVIR com atenção e ENTREGA, pois caso contrário o diálogo não surtirá o efeito ideal. É a atitude de entrega que faz com que uma pessoa esteja de fato atenta e aberta ao que o outro deseja lhe passar.

Caro amigo empreendedor que é líder,  qual será nas próximas semanas, etapas de retorno, retomada de atividades, sua atitude frente a todos esses novos desafios? Como você interpreta que deverão ser as novas estratégias das Corporações?

Deixo-lhes  mais estas reflexões caros leitores, gestores e líderes empreendedores.

 

Leia também:

 

Maria da Penha Amador Pereira, Economista formada pela Pontificia Universidade Católica de São Paulo com especialização em Desenvolvimento Econômico.

Atuou em carreira corporativa na antiga Companhia Energética de São Paulo, Banco do Estado de São Paulo e no Citibank, onde desenvolveu carreira por aproximadamente 30 anos em Controladoria, Planejamento Estratégico, Segurança de Informações, Gestão de Crises e Continuidade de Negócios, Qualidade, Projetos de Melhorias de Processos e Produtos Bancários, Controles Internos, Auditoria, Governança Corporativa, Regulamentação Bancária e Compliance.

Atualmente é escritora com obras já publicadas, Master Coach e PNL, Orientadora e Mentora de Carreiras, Palestrante e Educadora Financeira, tendo publicado mais de 55 artigos em Portais de Empreendedorismo, mídias sociais, jornais e revistas regionais e LinkedIn, além de ter participado de vários seminários e fóruns sobre diversos temas ligados à realidade brasileira e Compliance.

1 COMENTÁRIO

  1. O que temos que ter sempre em mente é que o fenômeno da Internet exige a precisão e a definição dos procedimentos normalmente adotados. Gostaria de enfatizar que a execução dos pontos do programa desafia a capacidade de equalização do sistema de formação de quadros que corresponde às necessidades.

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