O empreendedorismo pode ser “ensinado”?
Em um país como o Brasil, com uma cultura de colônia que ainda perdura, à qual alguns chamam de “síndrome do cachorro vira-lata”, os jovens são levados a se capacitarem para disputar vagas em empresas e serem funcionários que seguem algum padrão de etiqueta corporativa, que respeitam os tempos de promoção, que são gratos pela oportunidade de “fazer parte” de uma grande corporação, onde na verdade são apenas números.
Contudo, o cenário começa a mudar: as startups, empresas cujo negócio apresenta grande potencial de repetição e de escalabilidade, começam a se tornar importantes competidores e estão no nosso cotidiano.
As startups chamadas de unicórnios são aquelas que atingem valor de mercado acima de 1 bilhão de dólares. Até 2018, o Brasil não contava com nenhuma startup com essa alcunha, mas hoje já são 19, e o número deve crescer ainda em 2021.
Isso mostra que existem empreendedores dispostos a fazer as coisas de modo diferente, de inovar de serem disruptivos, de se lançarem no vazio sem a certeza do sucesso, nem a segurança de um salário no fim do mês.
São pessoas assim, que fundaram essas empresas e colocaram o Brasil entre os maiores criadores de unicórnios no mundo. Está claro que são pessoas especiais, com talentos, habilidades e competências para fazer tudo isso acontecer. Mas e você? E eu? Será que podemos um dia estar à frente de um unicórnio?
Por vezes, o mercado considera que o empreendedor já nasce com aptidões para empreender, mas a verdade é que o empreendedorismo pode ser “ensinado”. Coloco a palavra ensinado entre aspas porque considero que não se ensina nada a ninguém, apenas se facilita o aprendizado.
O único verbo efetivo é o “aprender”. Assim, a resposta à pergunta do título deve indicar se existem técnicas e metodologias para que as pessoas adquiram o conhecimento necessário ao empreendedorismo, dominem as técnicas, abordagens e metodologias para que possam projetar um negócio e tirá-lo do papel, transformando-o em uma empresa de fato.
Tive a oportunidade de desenvolver um trabalho junto a jovens da Zona Oeste do município de São Paulo, desafiando-os a desenvolver projetos de empreendedorismo social, exercitando na prática diversos elementos teóricos, mesclando componentes do ensino regular e os resultados foram surpreendentes.
Os jovens se debruçaram sobre os projetos, escolheram entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU o tema que mais os incomodava, formaram equipes de trabalho, por afinidade com o tema escolhido, acompanharam durante oito encontros virtuais as orientações sobre o desenvolvimento dos projetos e produziram soluções de conscientização e engajamento viáveis e promissoras.
O mais gratificante nessa experiência foi acompanhar o desenvolvimento dos jovens e suas iniciativas para vencer obstáculos, buscar soluções e não terem medo de sonhar.
Embora tenham sido apresentadas, de forma sucinta, diversas ferramentas de trabalho, os jovens buscaram o conhecimento que precisavam para poder utilizá-las, buscaram tutoriais na internet, assistiram vídeos no YouTube, baixaram as ferramentas em seus computadores ou smartphones e tentaram até conseguirem realizar as atividades propostas.
Mostraram também muita criatividade ao propor soluções para os problemas que abordaram, descobriram e trouxeram novas ferramentas para seus projetos, gerando resultados além dos esperados.
Esse trabalho não produziu nenhuma startup nem mesmo deverá ter continuidade por parte dos jovens, mas mostrou que é possível desenvolver habilidades de empreendedorismo a partir de processos de ensino e de aprendizagem, que utilizaram motivos e objetivos reais, do cotidiano social e ambiental dos jovens e, principalmente, mostrou aos jovens participantes, que eles são capazes de mudar a realidade em que vivem e que adquiriram conhecimento para executar planejamentos e projetos para colocar seus sonhos pra rodar. Isso não tem preço.
Com graduação em Engenharia, pós-graduações em Marketing e Computação Aplicada à Educação, Mestrado em Educação Matemática e Doutorado em andamento na mesma área, Luis Pacheco tem experiência no mercado financeiro e em empresas digitais, atua como professor no ensino superior, como mentor de startups, como pesquisador e é autor de conteúdo especializado.
