Você sabe qual é o tipo de lixo mais produzido no mundo?
A resposta certa é plástico, principalmente os chamados “de uso único”
Do total de lixo gerado em todo mundo, você sabia que de 60% a 90% é plástico? Por isso tantas campanhas contra seu uso, ainda mais se pensarmos que a maioria desse montante é feita do que se chama “de uso único”, como o plástico de embalagens de shampoos, salgadinhos e revistas, além dos polêmicos canudinhos.
Segundo a bióloga Francyne Elias-Piera, além do óbvio, o plástico que acumula no lixo, muitas vezes, vem de locais que a gente nem imagina, como o das roupas sintéticas, por exemplo. “As roupas sintéticas são aquelas que usamos nos dias mais frios ou aquelas camisetas que não amassam ou que são feitas para não transpirar.
Estas peças são feitas de fibras de plástico, então, toda vez que lavamos essas roupas, os fiapos (que são fibras de plástico) vão parar no esgoto. E todo esgoto vai dar no mar! É por isso que é tão importante cuidar do planeta e dos oceanos – está tudo conectado, principalmente, pelas correntes marinhas”, afirma Francyne.
A bióloga ressalta, ainda, que tudo o que fazemos neste sentido aqui no Brasil também afeta outros lugares, até mesmo lugares limpos como a Antártica. “É por isso que existem tantas pesquisas sobre plásticos no oceano, mesmo já existindo alternativas como os canudinhos de papel ou de bambu”, complementa.
Francyne é mestre em Oceanografia Biológica pela USP e Doutora em Ciência Ambiental pela Universitat Autònoma de Barcelona.
Desde 2000, ela pesquisa os invertebrados da Antártica e já participou de 5 expedições com Brasil e Coréia, ficando em Estações de Pesquisa e navios polares. Viveu na Coréia do Sul por 2 anos e foi a única latina pesquisadora do Instituto de Pesquisa Polar Coreano.
Hoje, Francyne é pós-doutoranda na USP e fundadora do Instituto Gelo na Bagagem, a primeira plataforma de educação e entretenimento antártico com site, canal no Youtube e perfil no Instagram. Pelo Instituto, ela incentiva, desde 2010, a formação de novos pesquisadores antárticos no Brasil, México e Chile por meio de palestras e cursos presenciais e online.
Quem consome materiais de plástico biodegradável achando que está fazendo uma boa escolha, todo cuidado é pouco, pois não adianta caso eles não sejam feitos de materiais naturais – alguns chegam a ser até pior que o plástico convencional, uma vez que não se desfaz. “A única coisa diferente no biodegradável é que ele fica menor mais rapidamente, formando o que a gente chama de microplástico, que são pedacinhos bem pequenos de plástico que não enxergamos a olho nu”, explica a bióloga.
Então, existem dois problemas: os plásticos grandes, que baleias e tartarugas comem e se sufocam, e os microplásticos, que ficam boiando na água ou afundam e ficam no sedimento e viram alimento de animais pequenos, como o plancton.
Algumas espécies, como o copepode, filtram a água para pegar o alimento e se existe microplástico na água, ele o come. “Depois é só concluir o que acontece quando o peixe come esse animal e o ser humano, por sua vez, come o peixe”, alerta. “Imagine o estômago dos peixes pescados em lugares cheios de lixo? Na minha última viagem para a Antártica, olhando o que estudo no microscópio, encontrei fibras de plástico e microplástico no sedimento, no gelo, na água e até no estômago dos animais. E não foi em animais da superficie não, foi nos animais de fundo de 30, 100 e até 400 metros de profundidade. Existia plástico em todos”, diz Francyne.
A polêmica gera questões e perguntas: como estes plásticos chegaram na Antártica? Seria culpa dos turistas, que não seguem o Protocolo de Madrid, ou seriam as redes de pesca de barcos clandestinos? Ou são as correntes marítimas que levam o lixo que produzimos no Brasil? Muitas pesquisas afirmam serem, sim, as correntes, mostrando que muito do que produzimos aqui impacta no ambiente antártico.
O plástico está presente por toda parte, nos celulares, nas roupas, nas embalagens de alimentos, nos potes de cosméticos, nas seringas, nas embalagens de remédios, nos enfeites, no glitter… E o risco de asfixia de animais não é o único problema – o perigo é que o plástico é formado por substancias químicas para dar sustentação nos objetos e uma delas é a bisfenol (BPA) ou bisfenol – S (BPS), considerada tóxica.
Desde 2011, estas substância é proibida. Existem objetos “free BPA”, porém, algumas substâncias do plástico ainda não foram identificadas e continuam sendo usadas. “O plástico grande ou minúsculo, quando cai na água, libera o bisfenol e intoxica muitos animais, tomando o lugar de outra substancia do corpo do animal: o hormônio.
Os hormônios são substâncias que o corpo libera para controlar as glândulas e exercer alguma função. É por isso que ocorre a redução da população de golfinhos e baleias, o comprometimento do desenvolvimento de ovos de aves e as deformidades sexuais em répteis e peixes”, explica a bióloga.
No corpo humano, estas substâncias se fixam na gordura do corpo, no sangue e nos fluidos corporais, podendo causar doenças cardíacas, câncer, endometriose, déficit de atenção, problemas neurológicos, baixo QI, puberdade precoce, abortos, acne, obesidade, aumento das glândulas mamarias masculinas, infertilidade e aumento da TPM.
Quando se trata de microplásticos, ingerimos estas substâncias pelo ar, na água e até na cerveja. Segundo a bióloga, a ingestão também pode vir das embalagens ou de plástico filme. “O bisfenol migra com facilidade das embalagens para os alimentos.
Quando colocamos uma vasilha plástica no micro-ondas, ajudamos a transferir bisfenol ainda mais rapidamente para a comida, e acontece a mesma coisa quando lavamos a louça com detergente ou na máquina de lavar”. E completa: “Estamos tão contaminados com o BPA que ele já foi encontrado no sangue de recém-nascidos, já que as mamadeiras são de plástico. Também encontraram a substância no sangue de cordão umbilical, o que comprova a intoxicação do bebê pela mãe”.
Para diminuir o uso de plástico no dia a dia, Francyne dá algumas dicas:
– evite congelar comida em potes de plástico
– nunca beba água de garrafas que ficam no carro e esquentam
– não use canudinho, a menos que tenha o seu individual feito de aço
– evite usar copinhos plásticos e prefira os dobráveis, que dá para levar na bolsa
– não aceite sacolas plásticas em estabelecimentos comerciais
– diminua o uso de embalagens pets, preferindo as de vidro
– leve sempre uma garrafinha de vidro ou alumínio com você
– use roupas não sintéticas
Sobre o Instituto Gelo na Bagagem
O Instituto Gelo na Bagagem tem o propósito de criar consciência ambiental sobre a Antártica e os oceanos e ajudar as pessoas a darem seus primeiros passos em ações sustentáveis. Criado pela bióloga Dra. Francyne Elias-Piera, é a primeira plataforma de entretenimento antártico que oferece cursos e palestras sobre o tema, além de disponibilizar conteúdos gratuitos no Instagram e no Youtube.
Por meio de uma linguagem lúdica e divertida, ela conta em suas palestras pelo mundo como foi sua experiência em cinco expedições à Antártica. Seu trabalho atinge públicos de várias idades, proporcionando entendimento e reflexão sobre o tema e intensificando a adoção de práticas de preservação ambiental.
O objetivo do Instituto Gelo na Bagagem é ensinar que sobre a integração das pessoas ao planeta e mostrar que as ações de todos interferem no meio ambiente e, inclusive, no ecossistema antártico.
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