A crise do transporte marítimo
Após os confinamentos impostos em todo o mundo por causa da pandemia, o comércio eletrônico, que já vinha crescendo de forma sustentável por muitos anos seguidos, teve um grande crescimento em todos os aspectos: novos clientes, novos produtos, novas lojas, novos hábitos, novos modelos de negócios.
As empresas ligadas ao comércio eletrônico cresceram muito e geraram muitos empregos, criando novos centros de distribuição e desenvolvendo parcerias com empresas de logística de última milha, para garantir a entrega rápida e eficiente, em todos os lugares onde haja demanda.
Mas a origem de muitos produtos está bem longe dos centros de consumo e antes de chegar a esses centros de distribuição e entrega, esses produtos têm que ser manufaturados e, seus componentes muitas vezes atravessam o mundo em contêineres.
Essa demanda acelerada tem produzido efeitos na cadeia de suprimentos mundial. Os congestionamentos em alguns portos do mundo estão em níveis além do tolerável.
Embarcações esperam até 60 dias para poderem ocupar um dos terminais. Esses dias parados são um grande prejuízo, que gradativamente vão sendo incorporados às planilhas de custos e de preços de transportes, além de causar uma crise de suprimentos, que já afeta a vários países do mundo.
O Freightos Baltic Index (FBX) aponta que após a chegada da pandemia, os preços dos contêineres de transporte marítimo aumentaram até 574%, da Ásia até o norte da Europa e especialistas acreditam que os preços seguirão altos até 2023.
Por conta desse cenário, algumas indústrias têm reduzido suas jornadas de trabalho por falta de componentes e têm buscado novos fornecedores. O colapso chegou a tal ponto que as tarifas de um contêiner de 40 pés de comprimento (cerca de 12 metros) que transporta mercadorias entre Ásia e o norte de Europa aumentou 574% em outubro, comparado a outubro de 2020, segundo dados do Freightos Baltic Index (FBX).
Ainda que este tenha sido o maior aumento, os preços têm crescido em todas as rotas que tenham origem na Ásia, comparando o mês de outubro de 2021 com o mesmo mês do ano passado. Da Ásia para o Mediterrâneo, por exemplo, o aumento foi de 471%, e para a costa Oeste dos Estados Unidos foi de 352%.
Para a Costa Leste, o aumento foi de 343%. O aumento é ainda maior se observarmos a variação nos últimos dois anos. Em outubro de 2019, o preço de um contêiner entre a Ásia e o Mediterrâneo era de 1.434 dólares. Em 2021, o preço é de 13.126 dólares, mais de nove vezes mais caro.
Segundo o Freightos Baltic Index (FBX), esse pico de preços se deve também à falta de contêineres vazios disponíveis na Ásia, para exportação aos demais continentes, além de componentes sazonais, como as festas de final de ano.
É importante lembrar que, para o setor de logística, essa demanda acontece alguns meses antes, então estamos no pico dos preços, mas se estamos comparando os preços com o mesmo mês de 2020 ou 2019, temos que buscar explicações adicionais.
Dessa forma, há que se considerar ainda que houve restrições – parciais e até totais – de trabalho em muitos portos, que muitas embarcações tiveram que suspender suas operações por casos de contaminação de suas tripulações e ficaram por meses retidas e impedidas de operar. Esses atrasos demoram anos até se recuperar. Junto com isso ainda houve a expansão da demanda. É a fórmula da tempestade perfeita!
O que o futuro nos reserva, nesse aspecto? Segundo os especialistas do Freightos Baltic Index (FBX), a falta de embarcações e de contêineres em nível mundial, a guerra comercial entre China e EUA, a consolidação do Brexit e o atendimento às normativas da UE para a geração de carbono deverão encarecer o transporte marítimo nos próximos anos.
Além disso, não podemos esquecer, estamos sujeitos à alguma interrupção de funcionamento dos portos na China por determinações sanitárias, pois a pandemia ainda está longe de terminar. Se um fechamento ocorresse neste momento no porto de Shangai, considerado o maior porto do mundo em volume de mercadorias transportadas, o Natal seria afetado em todo o mundo. De brinquedos às comidas e bebidas típicas, tudo seria afetado.
Com graduação em Engenharia, pós-graduações em Marketing e Computação Aplicada à Educação, Mestrado em Educação Matemática e Doutorado em andamento na mesma área, Luis Pacheco tem experiência no mercado financeiro e em empresas digitais, atua como professor no ensino superior, como mentor de startups, como pesquisador e é autor de conteúdo especializado.