Desafios para a educação no Brasil
Vimos até o momento tantas posições e pensamentos com relação a um tema extremamente discutido, pensado, falado, escrito, mas em minha visão, pouco colocado em prática de forma eficaz.
Colocar-se em prática tudo quanto foi já mostrado e sensivelmente discutido em várias esferas e por renomados educadores é um grande desafio para o qual é necessário que se dê atenção e importância de forma direcionada e prática.
Desafios são constantes em nossa vida e se não tivermos a coragem e a verdadeira disposição de os enfrentarmos, correremos o risco de ficarmos apenas no pensamento e nas palavras escritas.
Mas quem de nós já não enfrentou desafios?
Todos, sem exceção já vivemos experiências que nos desafiaram a buscar de alguma maneira uma resposta que nos fizesse realizar o que quer que fosse.
O momento de nosso nascimento é nosso primeiro e o maior dos desafios que nos levaram a enfrentar o novo. Estávamos dentro de um lugar seguro, sem necessidade de buscar alimentação, sem compromissos com nada, apenas comer, dormir e descansar em um ambiente totalmente isolado, protegido, silencioso, acolhedor, provedor de tudo o que precisávamos para viver.
Mas de repente algo maior nos empurrou para fora dali e nos fez ver a realidade da vida fora desse local tão privilegiado! E nossa reação foi um berro de estranheza e com certeza, se tivéssemos consciência do que estava nos acontecendo, daríamos meia volta para retornar.
Mas a vida não é isso, é movimento para frente, e por isso tivemos que iniciar nossa jornada de aprendizado para adquirir as habilidades passo a passo que nos permitissem enfrentar os obstáculos da nova caminhada.
Assim é com qualquer pessoa. Temos um hábito de dizer que para os ricos tudo é muito fácil, mas não é bem assim. Para qualquer um a vida prepara situações de igual maneira, a diferença é que algumas pessoas possuem mais acessos a ferramentas e alternativas de soluções que outras, PORÉM, se estas pessoas com mais fácil acesso não tiverem a firmeza e a vontade de usá-las de forma a superar as propostas que a jornada lhes coloca, simplesmente estarão exatamente no mesmo ponto que outras com menos alternativas.
Dinheiro algum faz você, meu amigo leitor, vencer os obstáculos de sua jornada. O que lhe traz o sucesso é justamente o que existe dentro de qualquer um de nós: TODOS temos a capacidade de vencer as lutas, apesar das dificuldades. E se há algo crucial para que você, eu, as pessoas de nosso convívio, nossa rua, bairro, cidade, estado, país, enfim esse algo é a Educação como uma forma de todos nos engajarmos de forma focada e definitiva em fazer de nosso país uma nação desenvolvida de maneira sustentada, que permita a inclusão de cada vez mais pessoas de forma equilibrada.
Sejamos honestos: dizer que todos serão igualmente nivelados não é real, por conta das diversas tarefas e missões que cada um desempenha. Mas é fundamental que a pessoa humana seja inserida no processo de aquisição de conhecimento da melhor maneira possível.
Este texto tem o propósito de, dado tudo o que já nos foi mostrado de forma muito sensível até aqui, convidar nossos leitores a uma reflexão sobre os desafios e horizontes que a Educação nos apresenta diariamente e quem sabe abrir as portas de oportunidades para a criação de, com o auxílio destas ideias, mecanismos que possam gerar inclusão social e por consequência econômica para nossas crianças e jovens.
Temos que nos colocar em relação à Educação com a atitude de nos ABRIRMOS para o conhecimento fazendo dele um instrumento de inclusão própria e de quem está perto de nós, pois desta forma TODOS poderão usufruir dos benefícios que ele traz, entre os quais citamos, ampliação de horizontes, inovação, participação ativa de todos, geração de um espírito crítico e ativo que não se permite levar por aparências ou falsas promessas, agregação de valor para todos, engajamento, discernimento.
Vivenciamos um momento de grandes desafios e novas descobertas, até mesmo de coisas que antes acreditávamos tão pequenas e às quais não dávamos a menor importância!
Quantas vezes paramos para pensar o quão grande é um abraço, um beijo, um encontro com alguém? Chegamos a sentir um desconforto imenso por não podermos receber ou dar um abraço! E tome figurinhas de Instagram, Facebook, Whatsapp, não é mesmo?
Precisamos enfrentar o desafio do isolamento para perceber que um abraço franco e acolhedor pode encerrar em si em certas horas da vida, até uma resposta a uma grande questão que nos perseguia e da qual não achávamos o caminho! E neste contexto quanto não se percebeu com relação ao desnível de nossos estudantes!
Toda a atividade humana foi colocada à prova e desafiada a buscar e vivenciar novas condutas, comportamentos, atitudes, sob pena de não mais ter como interagir a partir do instante em que as coisas começarem a fluir de maneira 100% estável. Nem mencionarei a palavra “normal”, pois esta passa a ideia de que tudo voltará ao estágio pré-pandemia e sabemos que isso não será mais viável, uma vez que durante todo este período de enfrentamento da doença, muitas relações e atividades assumiram uma forma diferente do que era anteriormente praticado não havendo mais a menor possibilidade de retorno ao momento anterior, simplesmente porque houve uma evolução.
Com certeza teremos um convívio pessoal muito valorizado, uma relação de trabalho muito mais madura, com um foco maior no ser humano, em suas dificuldades e necessidades do lado emocional, que farão com que o universo corporativo assuma definitivamente uma postura muito mais de liderança e menos de comando ou chefia.
O DESAFIO DA EDUCAÇÃO – TRABALHAR
Posta a introdução, pensemos agora em primeiro lugar naquilo que é a origem de todo profissional: a Educação, a qual de acordo com o Brazilian Journal of Development de Janeiro de 2021, “…faz parte da essência do ser humano (SAVIANI, 2007). O homem para garantir a sua existência age sobre a natureza para garantir sua sobrevivência e transmite seu conhecimento para o seu semelhante, criando um processo educativo (SAVIANI, 2007). Dessa forma, a origem da educação coincide, então, com a origem do homem (SAVIANI, 2007)…”
O texto continua mostrando que “…dada essa importância da educação para o homem, Piaget (1970) aponta que papel da educação vai mais além: o ensino tem como seu objetivo precípuo criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não somente repetir o que outras gerações fizeram. Assim, Nobre e Sulzart (2018), corroborando com o mesmo pensamento, defendem a necessidade de utilizar a educação como um instrumento transformador da realidade social, formando, de acordo com a UNESCO (2016), cidadãos críticos, que pensam e agem para um mundo mais pacífico, justo e sustentável…”
Essa importantíssima necessidade do ser humano, hoje ao redor do mundo, e especialmente em nosso país encontra-se diante de um grande impacto pela necessidade de uma reinvenção como um todo, abrangendo propriamente o ensino em sala de aula bem como a estruturação de um modelo inclusivo de formação para a população estudantil, além de uma mudança de visão da sociedade em geral no que diz respeito ao conceito do que essencialmente é “educar”.
Muitas vezes nos deparamos com peças publicitárias em diversas mídias onde vemos a frase “A escola X educa para a vida”. Qual é para você meu leitor o significado dessa frase? O que é “educar para a vida”? Pode parecer desnecessário, mas é muito bom lembrarmos que a escola não substitui a família no sentido da responsabilidade da criação de um conjunto de valores, ética, propósitos e personalidade da pessoa humana.
A escola não possui essa responsabilidade e o que vemos nos dias de hoje em muitos frequentes casos é que pais por “n” justificativas acabaram transferindo para a Instituição Escola, as tarefas que primordialmente deveriam assumir no momento em que se decidiram pelos caminhos da geração de filhos.
A personalidade humana precisa e deve ser formada no âmbito familiar, seja qual for a ideia de família que se tenha, muito embora saibamos de tantos e tantos casos de famílias totalmente desestruturadas, sem o menor recurso intelectual e financeiro para poderem acolher e suprir seus filhos com valores morais e éticos que forjarão suas personalidades. É muito comum nas periferias das grandes cidades, em países muito empobrecidos, devastados por guerras, revoluções, ditaduras, porém ainda assim, sempre existirá alguém neste núcleo, ainda que desagregado, que cumpra o papel de formador, prova disso é que temos belos exemplos de pessoas com origem muito pouco estruturada que ainda assim conseguem lograr êxito.
É muito importante nestes casos que haja políticas públicas decentes, realmente voltadas para o bem da população de um país, que realize projetos de acolhimento de menores com problemas de carências, para que tivessem a mínima condição de se prepararem para o inicio da jornada escolar. Este assunto é complexo e extenso, não havendo como falarmos em profundidade neste espaço, sendo que por esta razão apenas lanço o questionamento.
Continuando com nossa reflexão sobre os papéis dos educadores, o que então cabe à Instituição Escola?
A ela cabe formar o individuo para exercer seu papel de construtor da sociedade através de habilidades profissionais. É claro que os docentes, especialmente os que atuam na iniciação escolar, tenderão a, também de certa forma, criarem laços e vínculos sentimentais com suas crianças e neste sentido acabam sendo os segundos pais, mas à medida que se avança na jornada escolar, este vínculo vai se perdendo para dar lugar a uma parceria, ou seja, um ajudando o outro a conquistar o que se deseja.
O professor como se fora um mentor ou mediador, não alguém autoritário que impõe, ajuda o aluno a superar suas dificuldades de aprendizado e a conquistar seus objetivos profissionais e o aluno ajuda (siiim!) o professor a melhorar e se aprimorar ainda mais no exercício de tão importante ofício, sendo que ele percebe isso estudando, analisando a forma como ensina, o que ensina, se sua comunicação está sendo eficaz, se está transmitindo algo motivador para sua turma, como se coloca, como está de conhecimento para poder sanar as dúvidas e questões de suas classes.
Ainda utilizando-me, para corroborar o acima mencionado, do Brazil Journal of Development, temos que o professor é alguém que “…assume o papel de mediador no processo de ensino de ensino e aprendizagem, estimulando os estudantes a desenvolverem a criticidade e a lutarem por mudanças nas sociedades (BULGRAEN, 2010). Com esta mudança na função desempenhada pelos docentes, surge a indagação de que se a atual formação dos professores atende esta demanda. Diante desta necessidade da formação de professores, Nóvoa (2017) defende mudanças e preconiza uma formação profissional, na qual estejam próximas a teoria e a prática em sala de aula…”
O professor conquistando sua excelência no ofício que escolheu e o aluno iniciando-se na conquista de seus objetivos. E tudo isso é partilhado e obtido a partir da interação presencial na escola e de repente veio a Pandemia!
Tudo foi mudado: a tarefa de ensinar precisou alcançar pessoas distantes, alguns ou muitos sem recursos, contornar a tendência à desistência de grupos que não se adaptaram ou não tiveram como acessar o ensino online, fazer com que o ofício de ensinar fosse transformado, com muitos professores, especialmente os que não tem tanto acesso a tecnologias, ao mundo digital ,aqueles que não possuem recursos financeiros para terem uma infraestrutura de trabalho doméstica à sua disposição e precisaram eles mesmos se reinventar em busca de maneiras de contornar suas deficiências em quaisquer níveis.
Além disso verificamos um aprofundamento das desigualdades entre o ensino público e o privado em função da acessibilidade de recursos e até mesmo da estrutura familiar, enfim tantas são as questões colocadas a serem solucionadas que nos levaria a estendermo-nos muito mais do que caberia neste espaço em que apontarei de forma geral o que entendo estar na raiz de uma grande oportunidade de descobertas pela superação destes desafios.
Esta superação já é vislumbrada se olharmos todas essas imposições da Pandemia por outro ângulo que nos mostra a aquisição de um enorme aprendizado para os docentes, especialmente aqueles que como mencionado, lutam contra suas próprias dificuldades de ensinar e interagir com suas classes de forma distanciada, vendo-se na contingência de inovar em seu modus operandi de lecionar, para poder cativar a atenção e a participação de seus alunos de forma a que o conteúdo ministrado fosse não somente absorvido pelas classes, como também transmitisse motivação às crianças e jovens de forma a que houvesse continuidade.
Mais do que nunca, os que ensinam precisaram aprender e muito! Precisaram reciclar-se e reavaliar-se para que sua tarefa de passar o conhecimento fosse cumprida.
Professores precisaram exercitar-se na paciência, estudo, pesquisa, em maneiras diferentes de atuação, formas diversas de se colocarem diante dos alunos, formatos inovadores de avaliação do conhecimento e solidariedade com os que tiveram e tem mais dificuldades em ambientes virtuais. Enfim, para professores está sendo uma aula de uma nova realidade no ensino, que com certeza jamais será como antes.
Já os estudantes viram-se obrigados a assumirem posturas mais maduras de se colocarem em aula, no caso dos mais adiantados, isto porque à semelhança do trabalho remoto, o ensino virtual dá à pessoa uma maior autonomia na elaboração da atividade. E a autonomia gera RESPONSABILIDADE e LIDERANÇA DE SI MESMO, sendo que em minha opinião é exatamente aí que reside o grande “pulo do gato” da Educação: o estudante sentindo-se responsável por seu próprio futuro, o que exigirá dele uma postura de maturidade diante das atividades escolares.
Esta nova postura levará os que a souberem entender no universo virtual, a fazerem a diferença neste novo momento do retorno presencial, em que as aulas serão muito mais aproveitadas, enriquecidas, uma vez que houve um aprendizado de se ter uma postura bem mais ativa, participativa, questionadora e interativa com o professor, que passa a ser um parceiro, um Coach, não mais um simples monitor ou fiscal em sala de aula que dá a solução de tudo para todos, apresenta um script de aula e só.
Continuando a reflexão, a autonomia gerada pelo ensino virtual, nos encaminhou para dois resultados sendo o primeiro, mais negativo, uma tendência ao estudante vendo-se mais “livre”, em casa, negligenciar suas tarefas, colocar-se de uma maneira imatura diante das provas, copiando respostas, pedindo para outras pessoas o ajudarem apenas com o intuito de “passar de ano”, o que dado o distanciamento da figura física do professor em sala de aula, monitorando as atividades, torna-se muito mais fácil, porém a longo prazo com resultados danosos para a formação integral do aluno.
O segundo resultado, mais positivo, faz com que o estudante, de uma certa forma, assuma o controle de sua formação, pois caberá muito mais a ele o esforço do aprendizado, uma vez que sozinho, precisará compreender que de sua dedicação e atuação dependerão o sucesso da jornada estudantil.
Nesse caso o jovem precisou ter consciência de que a maturidade no dia a dia de suas aulas, seus trabalhos e avaliações lhe trazem grandes resultados, pois além de aprender disciplinas de currículos escolares ele aprendeu a inovar na forma de estudar, adquirindo uma postura de pesquisa para visualizar as lições de uma maneira bem mais aberta e abrangente.
O estudante que daqui para a frente entender que uma atitude ativa, de participação, de engajamento com professor e colegas, de ética ao realizar por exemplo uma prova, certamente logrará não só aprender “matérias”, como muito mais ter uma formação abrangente, que o levará a enfrentar com maior desenvoltura o mundo do trabalho e das relações humanas em geral.
Então verificamos que de uma maneira geral o período de enfrentamento da Pandemia, nos mostrou facetas de muitas atividades que exercíamos de outra maneira anteriormente e que por força das circunstâncias fomos obrigados a mudar e a nos adaptarmos à nova realidade. Esta é uma grande sacada.
Além disso, precisamos levar em conta que o mercado de trabalho também sofreu grandes mudanças em relação ao fator humano. O profissional mais procurado hoje não é aquele que sabe tudo sobre seu trabalho, é antes aquele que consegue ver em tudo, o todo, que sabe aplicar qualidades humanas, as conhecidas soft skills, a um contexto muito cheio de tecnicidades de forma a torná-lo completo, criando times de trabalho integrados, articulados, pensadores e não chefiados que apenas repetem ordens de um chefe.
O mercado valoriza aquele profissional que consegue enxergar em pequenos detalhes aparentemente sem conexão, um link para um novo empreendimento, uma solução, uma descoberta de tal importância que possa trazer respostas para questões que antes não existiam simplesmente porque não se tinha a visão diferenciada de como e o que se aprender.
Aprender é empreender e são empreendedores tanto professores quanto estudantes. E vejam, a palavra correta é “estudantes”, não “alunos”, porque na raiz etimológica deste último termo, aluno é a pessoa “sem luz”. A palavra “aluno” é formada por um prefixo “a”, em grego significa negação e “luno”, “luna”, luz.
Somos alunos no início de nossa jornada do conhecimento, quando bem crianças nossos pais nos levam à escola. Mas hoje, o desafio de nossos jovens é parar de serem alunos e se tornarem estudantes, pesquisadores e colaboradores de seus mestres na busca pelo conhecimento. O desafio é o estudante ser parceiro do professor e não alguém que passivamente recebe o que o professor lhe traz. Em tudo deve haver interatividade, integração, participação, protagonismo.
E o desafio ainda continua: temos as crianças, cujo impacto é muito maior, pois parte do grupo não possui ainda a consciência do momento para que possa ter energia para se adaptar à nova realidade, mesmo agora já no retorno. Quantas crianças tiveram dificuldades para retornar!
Quantos foram os que, desestimulados pelas dificuldades de acesso ao ensino online, e pelo fato de também terem ficado tanto tempo fora do ambiente físico da escola, acabaram desistindo, sendo que esta situação é mais um desafio para os educadores que precisarão realizar mais um esforço em prol da inclusão social dessas crianças e jovens, não permitindo que incrementem ainda mais a triste estatística da evasão escolar.
Esta situação grave de evasão é muito pontuada por diversos profissionais de Educação que em diferentes momentos realizaram importantes debates com o objetivo de buscarem algum tipo de solução para esta nova realidade extremamente desafiadora que se coloca à frente de nosso país. Isto foi muito discutido pelo movimento Todos pela Educação em alguns webinários como o conduzido pela FGV em outubro de 2021.
Ampliando um pouco mais nosso campo de visão, percebeu-se também uma sobrecarga nos pais, especialmente as mães, que por seu lado também viveram (e ainda vivem, pois o Home Office não se extinguiu e dificilmente será extinto), o desafio do trabalho remoto e neste momento precisam solucionar as questões profissionais, a administração de sua casa e da educação de suas crianças, que necessitaram de acompanhamento nas aulas virtuais.
É ou não um grande desafio? Como as famílias conciliarão estas frentes todas? As famílias de classe media media e alta, podem contratar profissionais para acompanharem seus filhos, liberando-os destas tarefas para poderem dedicar-se inteiramente a suas atividades profissionais, mas e as famílias que não possuem esse recurso, como enfrentam esse desafio?
Novamente vemos quanto novo conhecimento, aprendizado e evolução esta crise gerou nas pessoas e em suas relações e como o mundo em geral precisou modificar suas estratégias de vida para fazerem frente a todas essas “provocações” impostas por uma crise sanitária que trouxe junto consigo uma grave crise econômica em todos os países, uns mais profundamente, outros menos.
Vejo nessa nova fase o professor sendo como um Coach, que interage com seus Coachees, que por sua vez, eles próprios trarão respostas e criarão caminhos. Este é o desafio da Educação, que não se resume apenas no ensino de fórmulas, regras gramaticais, teoremas, fatos históricos, etc, mas, e agora mais do que nunca chegou esse momento, muito mais criar uma consciência crítica no estudante desde cedo para que ele seja capaz de ENTENDER o que está aprendendo e visualizar onde o que aprende pode ser inserido e desta forma adquirir a habilidade de solucionar e superar qualquer proposição que lhe seja feita! Então concluímos que a tarefa da nova Educação é tornar o aluno um ser pensante, não apenas um decorador de fórmulas e textos.
E muito mais, não apenas o sujeito que cumpre uma jornada para “passar de ano” apenas. Não é para isso que a Escola existe!
Muitos poderão pensar que isto é muito fácil para os segmentos sociais mais privilegiados, que estudam no ensino privado, em colégios tradicionais extremamente bem equipados e que já desenvolviam mesmo antes da Pandemia, metodologias que buscam dar ao estudante em toda a jornada escolar uma formação integral e muito mais, articulada, integrada.
Não lhes tiro a razão, porém este projeto de Educação pode ser aplicado nas escolas públicas, mesmo com uma população estudantil sem muito acesso aos recursos privados. Isto porque há excelentes professores na rede pública que só não fazem mais e melhor pela limitação de recursos que enfrentam, além de estarem conscientes de que em suas turmas há alunos oriundos de famílias sem a estrutura daqueles estudantes que frequentam escolas privadas.
A presença da família atuando juntamente com a escola para criar a consciência do verdadeiro aprendizado em suas crianças e jovens é de primordial importância neste momento em que vivemos.
A questão que se coloca neste caso é que em muitas famílias de classes menos favorecidas os pais ou preceptores nem são alfabetizados, assim de que maneira conseguirão contribuir para o sucesso de seus filhos? Muitas vezes nesses casos, é o próprio estudante que acaba “ensinando” seus pais, avós e tios, ou quem seja o responsável por eles.
Mas ainda assim há luz no fim do túnel. Imaginem uma criança ao estudar uma lição comece a ensinar sua mãe, ou seu pai! Certamente essa criança aprenderá e muito, pois uma das formas mais eficazes de se aprender é justamente ensinar!
Mas e o que diremos sobre os poucos recursos que possuem professores e escolas periféricas? Como serão inseridos nestes novos contextos da Educação? Deveremos ficar sempre à espera que milagres aconteçam, que os Governos afinal entendam que a Educação é fundamental para que se alcance o desenvolvimento sustentável e sustentado de um país?
Acredito que não, não podemos ficar passivamente à espera. Mas existem saídas que a própria sociedade pode criar, sem aguardar por recursos governamentais. Vemos por exemplo, os modelos de obras de infraestrutura, saneamento, agricultura, engenharia, etc, por que não copiar para a Educação de forma adaptada, isto é, através de parcerias público privadas, em que a iniciativa privada entre com seus recursos de tecnologia, de infraestrutura, de qualificação profissional para os professores, mas não somente através de fundações geridas por grandes entidades corporativas como Bancos e Empresas, não!
Os responsáveis no caso específico da Educação seriam as próprias escolas privadas, que realizariam o trabalho de inclusão social do ensino público, especialmente o localizado nas periferias das grandes cidades, através de uma gestão parceira das escolas, ensinando os professores a ensinar dentro dos melhores padrões utilizados no ensino privado.
Como nos mostra o Professor Mário Sérgio Cortella em seus programas realizados através de mídias sociais, há uma grande necessidade de mudanças que favoreçam o maior desenvolvimento e qualificação dos docentes para que estes sintam-se muito mais preparados e confiantes para poderem enfrentar os desafios que esta nova realidade pós pandêmica traz.
Estas mudanças passam necessariamente pela constante atualização e qualificação dos professores bem como à sua remuneração. Um professor mal remunerado, desatualizado, fica totalmente desguarnecido e com certeza sente-se desestimulado a enfrentar jornadas online muito mais estressantes que as conhecidas aulas presenciais.
Continuando com o raciocínio das parcerias, onde estariam os ganhos das Instituições privadas de ensino? Isso é uma questão para se estudar, mas poderia haver temporariamente incentivos fiscais, estudantes da rede privada mais privilegiada prestes a se formar poderiam realizar estágios na rede pública, o que lhes garantiriam por exemplo, créditos nos exames vestibulares, ou ainda pontuação em suas avaliações ou em disciplinas onde não performaram, enfim, há muitos meios, ideias e caminhos para se conseguir reduzir ao menos as disparidades entre o ensino público e o privado.
Por que será que temos tantas Startups de segmentos de atividade diversificados e vemos poucas relacionadas à Educação?
Por que nos acostumamos a classificar os professores em “professor de escolas públicas e professor de escolas privadas”, como se fossem duas categorias em uma única e nobre profissão? Não há dois tipos de professores, há uma pessoa que um dia decidiu-se pela Educação, decidiu que sua vida seria dedicada a ensinar, ser professor.
Pensemos com racionalidade: não se pode afirmar categoricamente que o professor de instituições privadas seja melhor que o das públicas. É claro que o primeiro terá a seu dispor uma quantidade e qualidade de recursos e facilidades ao qual o segundo dificilmente tem acesso, porém conheço pessoas que lecionam em renomadas escolas e que, por exemplo, usam nosso idioma de forma sofrível.
De outro lado, sei de profissionais que atuam no ensino público conduzindo projetos educacionais extremamente instigantes para seus educandos! Já testemunhamos isso através das mídias sociais!
Então o que acontece neste nosso país? Falta o acesso às novidades tecno educacionais, a pedagogias mais avançadas para que o professor se alinhe e se adeque às melhores práticas de ensino a fim de levar a seus pupilos o saber de forma instigadora, questionadora, que cause na juventude e na criançada um desconforto enquanto não descobrirem as “senhas” de acesso ao conhecimento.
É fazer com que o ensino seja um aprendizado também para o professor, mesmo que lecione lá na selva amazônica, pois lá há brasileiros também que TEM o direito à inclusão socioeconômica e esta se dá tão somente através da EDUCAÇÃO.
Um país não logrará desenvolvimento econômico jamais mesmo que sejam estabelecidas as mais tecnicamente acertadas medidas econômicas engendradas por equipes brilhantes egressas das melhores academias, se não se der atenção à criação de políticas educacionais desde a infância (e principalmente nesse momento da vida humana) que permitam a todos, ou à grande maioria no mínimo, o acesso ao conhecimento que colocará essas crianças, jovens e futuros adultos em busca de colocação profissional em condições de usarem a seu favor todo o conhecimento para criarem valor ao país, que se enriquecerá pela qualificação de sua população e pelo trabalho gerador de riqueza para todos.
Sejamos honestos, entendo que em momento algum podemos falar “todos igualmente”, pois há diversas participações, umas mais especializadas que outras, mas que TODOS tenham recursos suficientes para poderem viver dignamente e dar a seus filhos a Educação em seu sentido maior, que realimentará o círculo virtuoso do desenvolvimento sustentado.
Ainda é preciso que se mencione a positiva iniciativa do Ministério da Educação ao lançar a reforma do Ensino Médio que, de acordo com a Lei nº 13.415/2017 que alterou a legislação de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a partir de janeiro de 2022, estabeleceu uma mudança na estrutura do ensino médio, alterando a carga horária de estudo, ampliando-a e permitindo uma combinação entre presencial e à distância, definindo uma grade curricular mais flexível, abrangente, comum a todas as regiões do país e muito inter-relacionada, além de possibilitar que o estudante faça suas opções entre tantas oferecidas, de acordo com o que anseia para sua jornada de vida e profissional.
Esta escolha será feita pelos jovens através do que se chama “itinerários formativos”, os quais focam as diversas áreas do conhecimento e a preparação técnica e profissional do estudante. Esses itinerários não se limitam a fornecer “listas de disciplinas”, mas antes um conjunto de disciplinas integradas, projetos, núcleos de estudo, situações de vida e de trabalho que visam desenvolver a capacidade analítica e crítica do estudante como PESSOA em primeiro lugar, para que este possa atuar lá na frente como um empreendedor do desenvolvimento onde estiver.
Como exemplo de um “itinerário formativo” temos que se um estudante escolher o caminho de Humanas, terá como itinerário formativo, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, que inclui de forma abrangente Filosofia, Geografia, História e Sociologia. Além disso, o ensino da língua inglesa, não obrigatório anteriormente, passa a ser obrigatório a partir do 6º ano.
E o mais interessante de tudo, é a novidade do que se chamou de “projeto de vida”, uma proposta de auxílio aos estudantes no sentido de conhecerem e entenderem seus objetivos e aspirações e como farão para atingi-los, sendo que deverá ser customizado, de acordo com as escolhas realizadas pelos jovens.
Conclui-se daqui que a escola passa a ser não apenas uma entidade que ensina “matérias” para o vestibular, mas uma coparticipante na vida do jovem e na construção de seu caminho de forma a prepará-lo para as demandas e complexidades do mundo do trabalho e da vida em sociedade, promovendo desta forma sua plena realização humana e profissional.
Neste sentido é necessário que se reconheça um avanço em relação ao tema de como educar, pois a reforma parte do princípio que o estudante é antes de tudo um ser humano, que deve ser valorizado, com necessidades que vão além de simplesmente uma base técnica.
Posto tudo isto, extremamente positivo e correto, coloco um questão: o risco de toda essa nova realidade não aprofundar ainda mais o desnível entre o ensino público e o privado, pois na atual realidade em que vivemos, esta reforma só lograria pleno êxito se ANTES de ser implementada se estudasse como fazer com que a escola esteja preparada para ela, atacando-se as questões da evasão escolar, das limitações impostas pela geografia do país, do grave desnível social encontrado especialmente na parcela da população menos favorecida, da atualização do corpo docente, até mesmo dando-se o apoio do “projeto de vida” aos professores, e na sequência oferecendo-se condições para que os mesmos possam estar preparados para interagirem com os estudantes em uma nova realidade. Ou seja, se toda a infraestrutura que envolve a Educação não existir, ou ser muito desnivelada, a reforma não logrará o êxito desejado e desta forma continuaremos com as graves distorções já conhecidas.
Meu pensamento é que antes ou ao menos concomitantemente com este grande projeto, faça-se uma grande reforma na base da Educação, no ensino fundamental, o alfabetizador, o que inclui, buscando-se trazer tanto criança como família para “dentro” da escola, promovendo um início de formação minimamente consistente para que o estudante esteja preparado para viver o novo ensino médio.
Sem isto, entendo que não adiantará muito e vamos viver sim, um aprofundamento do nível educacional entre a escola pública e a privada, pois evidentemente esta tem e terá fortíssimos recursos para consolidar o novo projeto. Se o Estado constituído que tem como uma de suas principais atribuições oferecer a Educação não conseguir olhar e buscar a solução na base, então volto a afirmar como já mencionado anteriormente neste texto que a sociedade civil através de iniciativas e projetos próprios busque unida a solução, isto se todos quiserem fazer do Brasil um país desenvolvido plenamente.
E finalmente, vamos agora pensar um pouco por outro ângulo, o do lado oculto da Pandemia no caso especifico da Educação: entendo que muitas pessoas achem absurdo ou até ofensivo, dizer-se que a Pandemia trouxe coisas positivas para nosso tempo, mas precisamos entender que nada há na vida que seja 100% bom ou ruim.
Em todos os acontecimentos há coisas que podemos aprender e com isso melhorar nossa vida e a de quem está junto a nós, mas para tal coisa é necessário que nos libertemos de nossa tendência de ver um mal como somente um mal.
A Pandemia nos trouxe grandes e únicas lições, e no caso específico da Educação, mostrou-nos que tanto professores quanto estudantes podem e devem interagir como parceiros no processo de aquisição do conhecimento e que todos não podem esquecer que sempre haverá alguém a nosso lado que necessita de algo que já temos.
O DESAFIO DA EDUCAÇÃO – CONCLUSÃO
No caso especial da Educação, a crise escancarou definitivamente algo que já sabíamos acontecer em nosso país e que sempre foi apenas remediado. A Pandemia mostrou simplesmente o que sempre houve: desigualdade de oportunidades entre escola pública e privada.
Não houve nenhuma novidade no fato de que a disparidade entre uma e outra foi aprofundada, sendo apenas uma questão, cujo resultado já era conhecido, dadas as escolhas que nosso país geralmente tem feito.
Por mais que se fale, que se apresentem soluções, por mais esforço que alguns abnegados profissionais da área realizem, a impressão que nos vem é de que no Brasil, Educação ainda é, digamos, um artigo de luxo, quando na verdade deve ser algo como a rotina de se tomar banho diariamente, ou seja, TODOS, todos os dias, sempre, devem ter acesso a todos os recursos disponíveis e que estes minimamente devessem ser nivelados, que não houvesse discrepâncias entre escola pública e privada.
Mas mesmo em meio aos problemas criados pelo isolamento social, pelas dificuldades de acesso, pudemos vislumbrar uma nova realidade que é uma boa notícia para todos: aprendeu-se que ensinar não é apenas passar-se matéria, pois isto desestimula o estudante e o próprio professor e com o distanciamento, para que não houvesse essa desmotivação, professores e alunos tiveram que se esforçar para criarem maneiras de tornar o ensino profícuo, interessante e para criar acima de tudo CONSCIÊNCIA, RESPONSABILIDADE E AUTONOMIA nos estudantes, afinal são ELES os mais responsáveis por seu futuro sendo o professor alguém que busca constantemente indicar-lhes os melhores caminhos e como tal essa figura fundamental para o desenvolvimento de uma nação precisa começar de fato a ser VALORIZADA, de forma a que possa sentir-se plena, motivada e grata por sua grande missão de conduzir seus educandos à realização pessoal e profissional e desta forma levar nosso país a um pleno e inclusivo desenvolvimento econômico e social.
Maria da Penha Amador Pereira, Economista formada pela Pontificia Universidade Católica de São Paulo com especialização em Desenvolvimento Econômico.
Atuou em carreira corporativa na antiga Companhia Energética de São Paulo, Banco do Estado de São Paulo e no Citibank, onde desenvolveu carreira por aproximadamente 30 anos em Controladoria, Planejamento Estratégico, Segurança de Informações, Gestão de Crises e Continuidade de Negócios, Qualidade, Projetos de Melhorias de Processos e Produtos Bancários, Controles Internos, Auditoria, Governança Corporativa, Regulamentação Bancária e Compliance.
Atualmente é escritora com obras já publicadas, Master Coach e PNL, Orientadora e Mentora de Carreiras, Palestrante e Educadora Financeira, tendo publicado mais de 55 artigos em Portais de Empreendedorismo, mídias sociais, jornais e revistas regionais e LinkedIn, além de ter participado de vários seminários e fóruns sobre diversos temas ligados à realidade brasileira e Compliance.