A nova Economia do Bem Estar

A nova Economia do Bem Estar

Desafios para um novo projeto profissional Pós Pandemia

A Economia mundial, assim como todas as atividades humanas neste período de crise sanitária a qual acabou por gerar graves crises econômicas em diferentes graus, dependendo da robustez de cada economia atingida, vem também enfrentando desafios que bem direcionados poderão ser grande fonte de oportunidades de empreendedorismo, apesar de todos os percalços enfrentados.

Essas oportunidades já estão surgindo em vários setores de atividade em função dos grandes desafios colocados pelo período de enfrentamento da Pandemia do Coronavírus ainda em curso, os quais poderão ser responsáveis por uma nova onda de crescimento econômico, com a necessidade da criação de postos de trabalho totalmente diferenciados e diversos do que existia anteriormente.
Esse cenário acontece em função dos diferentes nichos de consumo gerados pelas modificações ocorridas nas relações humanas pessoais e profissionais.

Se analisarmos de forma geral a questão fundamental da Ciência Econômica, ou seja, a gestão dos recursos disponíveis, que em geral são escassos, de forma a que possam atender de maneira adequada às necessidades sempre crescentes dos agentes econômicos, notaremos o aparecimento de uma nova faceta de necessidade humana a qual no cenário anterior ao advento da Pandemia, ou não existia ou a ela era dada pouquíssima atenção.

Esta faceta diz muito respeito ao Bem Estar total do individuo enquanto força atuante na sociedade, que não tem a ver com a Economia do Bem Estar Social. Não pretendo neste texto fazer uma reflexão sociológica nem política, mas de algo importante e simples de se entender.

Explicando melhor: em tempos anteriores à crise de Saúde Pública, o universo das relações trabalhistas e comerciais em geral  tinham uma preocupação com a força de trabalho muito voltada ao provimento de recursos físico-financeiros para que o trabalhador tivesse acesso por si só, aos vários serviços à disposição na sociedade, não havendo um olhar, ou onde havia era considerado uma exceção, para o ser humano como um todo com necessidades materiais e além disso, emocionais e espirituais, que somadas gerariam as condições de total bem estar para que esse ser estivesse totalmente engajado no processo de produção sustentável e dessa forma pudesse ser um agente ativo e incluso no pleno desenvolvimento de seu país.

O cenário era algo como o profissional atuando em seu trabalho, produzindo e deixando tudo o mais distante de seu ambiente corporativo, sendo muito comum ouvirmos: “Deixe seus problemas do lado de fora.”

E não faz muito tempo em que tínhamos essa frase mais ou menos como uma regra de normalidade nos escritórios e nossa preocupação enquanto profissionais, mas também como seres humanos, é que não havia como, ao entrar pela porta de nossos trabalhos, pedirmos na recepção para que fossem embalados cuidadosamente para que não escapassem e fossem colocados em armários ou sacolas até o final do expediente, o qual muitas vezes nem chegava a ter na verdade final….

Então aconteceu algo inesperado: veio uma Pandemia, algo desacreditado por muitos em seu início (eu me incluo, mea culpa), e suas consequentes ações de combate, sendo uma delas o isolamento social, os lockdowns, as urgências em se adequar o modus operandi do trabalho à nova realidade colocada dentro de pequenos e isolados espaços. E então, o que aconteceu com nossos embalados problemas pessoais? Passaram a conviver conosco in loco e in natura!! Olhem o desafio nascendo!

Vimos, com a necessidade da alteração da forma de se trabalhar, não mais no tradicional escritório e sim de forma remota, que obrigou líderes e liderados a conviverem com situações diversas e com os naturais contratempos surgidos pela dispersão das equipes, um recrudescimento de questões e problemas de natureza pessoal, o que levou uma boa parte dos profissionais a um desgaste emocional intenso.

Pessoas que antes tinham suas relações de trabalho em locais diversos de suas residências, o que lhes propiciava uma clara separação de ambiente pessoal x ambiente de trabalho e um maior foco na atividade profissional, uma vez que no ambiente corporativo não havia interrupções, familiares in loco durante a jornada, pets e outras interrupções, a partir do decreto de isolamento, viram-se na contingência de equilibrar de forma muito disciplinada, o pessoal e o profissional.

Essa exigência trouxe para uma boa parte das pessoas um grande desgaste, uma vez que o ambiente de trabalho passou a confundir-se com o ambiente familiar e pessoal.

Tanto para os profissionais do sexo masculino quanto do sexo feminino, a carga de atividades acabou se exacerbando, uma vez que era necessário, aos que tinham filhos pequenos, que também estavam fora do ambiente escolar, portanto de igual maneira enfrentando nova realidade, cuidar para que fossem estabelecidos claros limites de não invasão do pessoal/familiar com o profissional e vice versa.

Esta nova tarefa de imposição e respeito aos limites, em alguns casos gerou angústia e cansaço, o que favoreceu em muito a situação onde problemas pessoais acabam influenciando a rotina profissional especialmente durante o período da pandemia.

Muitos profissionais, especialmente as mulheres viram-se na contingência de se estruturarem de tal forma que as (os também) levou a um cansaço físico e mental, pois nesse novo tipo de jornada, elas e eles precisaram encarar três papéis simultaneamente, ou seja, o de profissionais, o de administradores do espaço  que chamamos de lar e o de pais para os que tem filhos ou mesmo os que não os tem, porém, por exemplo, são responsáveis pelos cuidados com idosos.

Imaginem a situação de um profissional muito graduado em uma Corporação, que tendo uma pessoa idosa em seu ambiente doméstico, com algum tipo de doença degenerativa! Atesto-lhes que é uma situação muito desafiadora, mesmo considerando a presença de um profissional de saúde junto ao idoso.

Além de todas essas questões e mal estares, que já foram constatados, descritos e analisados nos meios de comunicação e nas várias mídias sociais, há também que se destacar a questão da convivência social, que o trabalho corporativo promove e que interação virtual nenhuma consegue substituir!

É só percebermos as reações de tédio, angústia e até depressão, das pessoas afastadas do convívio físico familiar e de amigos, isto nem se levando em conta a vivência do escritório, ou seja, faz parte do Ser Humano o contato social, o abraço, o aperto de mãos, a conversa, o sorriso in loco!

O escritório é um lugar onde pessoas muito diferentes em todos os sentidos encontram-se diariamente estabelecendo uma relação primeira e primordialmente profissional, com o objetivo de juntos, estruturarem estratégias para o alcance de resultados estabelecidos pela Corporação à qual pertencem.

Para além disso, nesta atividade profissional, é estabelecida uma parceria em termos de convivência humana enriquecida pela diversidade de ideias, culturas, raízes, formações, experiências o que torna muito enriquecedor a atividade profissional.

Esse tipo de relação, mesmo que estejamos muito conectados todos os dias, não é passível de acontecer em uma modalidade virtual, por conta dos limites e daquelas interrupções inevitáveis no dia do profissional que está em acesso remoto.

O ambiente físico de trabalho dá essa possibilidade de interação muito mais enriquecedora e real do que o ambiente virtual. Nenhuma criatura, por mais eclética que seja, logra de conseguir estabelecer um relacionamento seja de qual natureza for, somente através de uma conexão virtual. Isso é impossível.

Isto somente torna-se viável entre criaturas de IA, e mesmo assim, se houver algum tipo de parametrização, a qual pode se tornar muito profícua quando duas pessoas trabalhando em equipe, de repente em uma conversa de um café, tem uma ideia inovadora que pode gerar mudança de rumos em um projeto.

Vamos fazer uma ressalva importante: falo em todas as situações apontadas, de uma maneira geral, ou seja, existem, sabemos disso, exceções a todas as situações. Além desta ressalva é importante que se coloque que não é objetivo deste texto analisar em profundidade os assuntos levantados.

Meus amigos empreendedores, tem a tarefa de, interessando-se pelos temas abordados, realizarem suas pesquisas para ampliação de conhecimentos. Estes textos são desafios para os que buscam o empreendedorismo em qualquer atividade onde estejam inseridos.

Posta esta ressalva, vamos continuar mostrando na sequência o por quê do título deste tema, ou seja, o que será esta “Nova Economia do Bem Estar” e quais são os desafios de um novo projeto profissional.

Por que “Nova Economia do Bem Estar”?

Mais do que nunca, esse cenário fez surgir um novo segmento da Economia que atualmente encontra-se em franco desenvolvimento pelas transformações que a exigência do isolamento nos trouxe: isso mesmo, a Economia do Bem Estar, certamente com grandes oportunidades para os que souberem aproveitar esta grande chance.

Isto não é sobre aproveitar-se do mal alheio, com cursos, processos e sessões prometendo milagres da paz absoluta para enfrentar os obstáculos trazidos pela crise uma vez que TODOS em diferentes graus, vimos sofrendo as consequências danosas deste período de reclusão.

É sobre o desafio de se perceber o quanto essa crise gera mudanças em todas as esferas da vida e como deste momento em diante temos a oportunidade de olhar as coisas de forma diferente para que nos apareçam transformadas.

É sobre entender-se que a maneira pela qual olhamos as coisas faz com que estas mudem por si só e nos mudem e a tudo com o que nos relacionamos da mesma forma.

Assim, devemos escolher, ou olhar para a vida de forma renovada, ou permanecer com a velha visão que nos faz não perceber o novo mundo e desta forma não nos permite ser agentes de um novo modelo de desenvolvimento que precisa vencer uma série de desafios, sem o que não logrará êxito na condução de uma sociedade inclusiva e desenvolvida de forma consistente.

Neste sentido, as profissões que se ocupam da saúde não apenas física do ser humano, mas de sua parcela mais voltada para o emocional, o espiritual, o transcendente, o meditativo, o mental, o lazer, tornaram-se um ponto de referência relevante mesmo dentro das corporações.

O que antes era uma escolha pessoal de cada um, ou seja, fazer ou não sessões de terapia, meditação, yoga, relaxamento, começou a fazer parte dos programas de desenvolvimento humano das Corporações, que passaram a ter que se adaptar também à nova realidade, no sentido de prover seus colaboradores de ambientes ainda que dispersos, atentos à saúde e bem estar mentais de suas equipes, sem o que pode-se até gerar impactos negativos na obtenção de resultados.

CEOs podem ser apontados como pessoas sem visão, incapazes de criarem estratégias que façam uma Corporação ser profícua e geradora de valor, isto diante dos acionistas, proprietários, Administração e mesmo diante da comunidade onde está inserida.

Entra com força nesse contexto, dado o aumento dos casos de transtornos emocionais entre os profissionais, a exigência de que as lideranças se reinventem e comecem a olhar para novas formas de gestão do trabalho e dos recursos humanos, praticando um novo conceito de humanização das relações trabalhistas.

Este conceito é defendido por importantes profissionais da área de RH, sendo que alguns deles defendem a tese de que as Organizações são pessoas e como tal devem ter uma liderança que seja renovada na forma de olhar e cuidar dessas pessoas. Aí está um grande desafio da nova Administração, a qual não pode mais apenas limitar-se aos princípios e teses gerais da Administração para gerir todos os recursos disponíveis.

A Administração tem o desafio de se tornar uma ciência HUMANIZADA, onde as estratégias sejam traçadas não apenas pelos cálculos de retornos sobre o patrimônio líquido, antes ou depois dos Impostos e das (inúmeras) taxas, do endividamento, da liquidez, dos custos de oportunidade, etc, mas de tudo isso ACRESCIDO do quanto de retorno seus colaboradores diretos e indiretos sentem ter em termos de geração de valor humano para si mesmos, pelo fato de fazerem parte desse universo e desta forma estarem cada vez mais comprometidos com as estratégias puramente matemáticas e contábeis. Somente desta forma teremos o sucesso total.

Mas quem, como líder consegue, conseguiu ou está em vias de conseguir enxergar as coisas por esse ângulo?

É neste cenário que entram as oportunidades de projetos de gestão de talentos, carreiras, desenvolvimento de programas de bem estar para um grupo, desenvolvimento de programas motivacionais baseados no emocional e não em “técnicas milagrosas de vendas”, de desenvolvimento de lideranças com essa visão tão ampla do Business.

A pandemia obrigou a que todos déssemos a devida importância ao sentimento de humanidade que é absolutamente fundamental neste período em que pessoas ou profissionais fazem-se perguntas sobre sua identidade, seu propósito enquanto seres humanos engajados em diferentes atividades, sobre o sentir medo, ansiedade, angústia, vulnerabilidade, que em determinados momentos FAZEM PARTE DE NOSSA EXISTÊNCIA e não são sinais de fraqueza! Quantas são as pessoas que NÃO PODEM exercer trabalho remoto e vivem diariamente no combate a um inimigo invisível e mortal em alguns casos.

Então JAMAIS será balela ou conversa de livro de auto ajuda que mais do que nunca, um líder que seja diferenciado e que realmente QUEIRA fazer sua equipe vitoriosa DEVERÁ ter a postura e visão:

  • da empatia com todos, independente da realidade e origem de cada um,
  • do entendimento de que a saúde mental, não só física, é crítica,
  • do bem estar do grupo,
  • da sensação de inclusão de todos,
  • da priorização da valorização dos colaboradores da melhor forma que lhe for possível pensar.

Está ai a necessidade de ser desenvolvido um grande e novo projeto profissional! Será no Home Office? Será em um formato híbrido? Será uma volta ao que era antes no sentido de espaços físicos de escritórios com uma arquitetura mais acolhedora, com mais natureza, mais cores, menos equipamentos? Isso é o que de menos importa!

O que criará valor em termos de empreendedorismo em todos os ambientes e segmentos será o quanto poderemos contribuir para que a PESSOA sinta-se plena como SER HUMANO atuante, participativo, engajado, VALORIZADO em sua essência primordial que é a VIDA, que não tem preço, mas que possui um VALOR transcendental!

Quem se habilita a encarar este desafio?

Quem deseja participar do novo projeto de profissional?

O líder do futuro NÃO é o que domina a IA, a digitalização, a tecnologia, as teses filosóficas mais profundas e complexas para poder motivar sua equipe a superar resultados, mas o que ENXERGA a vida como um VALOR a ser muito bem cuidado!

A sua empresa tem priorizado a VIDA dos colaboradores?

E você empreendedor do bem estar, que ideia boa essa de agir nesse nicho da Economia do Bem Estar e desta forma também colaborar com a promoção da nova Administração, não concorda?

MUITO OBRIGADA!!!

Até o Próximo Encontro com a Reflexão dos Novos Desafios da Atividade Econômica!!

Maria da Penha Amador Pereira, Economista formada pela Pontificia Universidade Católica de São Paulo com especialização em Desenvolvimento Econômico.

Atuou em carreira corporativa na antiga Companhia Energética de São Paulo, Banco do Estado de São Paulo e no Citibank, onde desenvolveu carreira por aproximadamente 30 anos em Controladoria, Planejamento Estratégico, Segurança de Informações, Gestão de Crises e Continuidade de Negócios, Qualidade, Projetos de Melhorias de Processos e Produtos Bancários, Controles Internos, Auditoria, Governança Corporativa, Regulamentação Bancária e Compliance.

Atualmente é escritora com obras já publicadas, Master Coach e PNL, Orientadora e Mentora de Carreiras, Palestrante e Educadora Financeira, tendo publicado mais de 55 artigos em Portais de Empreendedorismo, mídias sociais, jornais e revistas regionais e LinkedIn, além de ter participado de vários seminários e fóruns sobre diversos temas ligados à realidade brasileira e Compliance.

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