Nossa relação com o dinheiro Parte VIII: NOÇÕES DE BOAS PRÁTICAS FINANCEIRAS
E para finalizar nossa conversa nesta série sobre Educação Financeira, vamos falar agora de alguns itens de nosso dia-a-dia que se inadequadamente geridos poderão nos trazer sérias complicações e dores de cabeça futuras.
Algumas pessoas sabem muito bem como lidar com esses itens, porém há outras que ainda parecem não entender que tem nas mãos coisas que poderão ser grandes aliadas na programação do fluxo de caixa doméstico, como também podem tornar-se armas com um terrível poder de destruição de sono e outras coisas muito mais importantes.
Já ouvi muita gente endividada dizer que uma solução para seus males é livrar-se de todos os cartões de débito, crédito, etc, que possuem.
Eu diria para essas pessoas e para você, amigo leitor, que não, esta não é a solução, porque esses cartões são ferramentas úteis para que possamos gerenciar nossa vida financeira no dia a dia.
Imagine um marceneiro que não tem muita habilidade, embora trabalhe no ramo de confecção de mobília. Tem poucos clientes, seus acabamentos são muito ruins, não é um profissional bem cotado, enfim, a solução para ele seria esconder suas ferramentas para que não faça mais trabalhos ruins? Ora, claro que não! A solução em seu caso passa por uma verificação de onde esse profissional está falhando, buscar aprimoramento, aprender com profissionais mais experientes e especializados, mostrar em trabalhos a evolução e após retomar sua atividade com mais firmeza e segurança.
A mesma coisa acontece com sua vida financeira. Ok, possui dívidas até as tampas, de nada adiantará o desespero. Vamos a seguir comentar sobre algumas ações de saúde financeira de forma bem direta, simples e prática, pois não seria possível, mesmo em uma obra extensa abordarmos todos os casos de correção da gestão financeira, uma vez que cada pessoa é uma pessoa, cada caso possui suas próprias características, cada problema envolve questões muito diversas, modos de vida, tamanho de família, cultura, perfil comportamental, enfim, por estes e muitos outros motivos, procurarei dar uma visão básica e geral para que você mesmo avalie como adaptar-se para iniciar sua jornada rumo a águas financeiras mais tranquilas.
NOÇÕES DE BOAS PRÁTICAS FINANCEIRA
Então, direto ao ponto, o que na prática podemos fazer para que nossa vida financeira seja mais equilibrada e a partir daí possamos planejar nossas estratégias de criação de um patrimônio sólido e um legado importante para nossos filhos?
⦁ CONTROLE IMEDIATO: Como já falei aqui por diversas vezes, e repetirei até que haja a consciência de que se você que não tem um controle (mesmo que tenha), precisará sim, fazer uma aferição, construir uma métrica de seus gastos de forma automatizada ou em um caderno se não tem habilidade com computadores, pois quando você passar a visualizar o que, onde e como anda gastando, tenho certeza que ficará, exagerando, horrorizado.
Monte colunas com os meses do ano, ao final faça uma somatória de todos eles e calcule uma média. Nas linhas você listará todas (TODAS) as despesas que realiza, se é cartão, qual cartão (não some as despesas de todos os cartões se tiver mais que um), contas fixas como luz, água, gás, mercado, telefonia, internet, saúde, podendo inclusive separar os gastos por categorias, pois assim também poderá enxergar onde se concentram suas despesas e começar a pensar em maneiras de reduzir ou até, dependendo do gasto, cortar despesas. No início talvez você sinta alguma dificuldade, mas com o tempo começará a fazer esse controle de forma rápida e tranquila.
Adquirindo esse hábito, poderá perceber que há coisas que você faz de forma impulsiva e desnecessária e começará a se policiar para gerar espaço para honrar suas dívidas e à maneira que as mesmas forem se equacionando, você perceberá a sua curva de gastos ir se reduzindo, o que lhe trará muito estímulo para atingir a meta de eliminação total das dívidas e início de um equilíbrio financeiro que lhe permita começar a investir. Não há outro jeito, não existe milagre que possa fazer com que uma dívida desapareça de um dia para o outro (a não ser que você acerte os números da megasena, mas convenhamos, a chance de acontecer é muitíssimo pequena, endo melhor então encararmos a realidade, sem perder a esperança. Claro).
⦁ INVESTIMENTO: antes de qualquer coisa você precisa tomar consciência de que investimento não é “sobra” do que você gastou. Investimento é a outra parte do que você ganha, que é composto por despesa E receita, portanto, a situação ideal é você receber e fazer a correta separação de seus recursos entre investimento e despesa, esta é a situação ideal.
Mas, ok, estamos com problema para termos neste momento essa situação ideal, sendo necessário então atacá-lo e resolvê-lo.
Você já começou a fazer seu tracking de gastos, muito bom. Como já começa a perceber onde estão seus gargalos, já pode tomar iniciativas para atacá-los, começar a reduzi-los e chegar a eliminá-los. Com esta meta traçada, você pode propor-se uma outra meta: para cada real reduzido, inicialmente, coloque 15% para investir e o restante para formar massa financeira para pagar seus débitos.
À maneira que for eliminando suas dívidas, vá aumentando o percentual para investir, mesmo que sejam quantias pequenas, você precisa, como disse ao longo de todo este trabalho, formar uma reserva que lhe permita enfrentar situações emergenciais (ex.: a Pandemia, que deixou muitas pessoas sem emprego e sem um tostão no bolso para enfrentar o momento) e melhorando ainda mais seu investimento, com o passar do tempo, já com um horizonte mais claro e menos conturbado pelos débitos, também poderá criar investimento de longo prazo, que não é igual à reserva de emergência.
O investimento para longo prazo ideal varia muito de pessoa para pessoa, pois está relacionado ao perfil, aos objetivos de vida, ao momento de cada um, enfim, não se pode traçar uma linha reta e fixa para o investimento.
De forma bem geral eu diria que casos de iniciantes com poucos recursos e aversão a investimentos arriscados, que geralmente possuem uma rentabilidade muito maior, porém sujeita a muita oscilação, seria mais adequado o investimento em renda fixa, que oferece diversas modalidades, algumas com IR zero e liquidez imediata, embora a liquidez aqui neste caso não deva ser um fator crítico, uma vez que estamos falando de investimento para longo prazo. Assim, se você decidir investir para realizar algo no longo prazo, deve ter a consciência de que o dinheiro investido é para investimento, não para ficar sendo mexido a todo instante. Para se chegar a este ponto, são necessárias o quê? Disciplina e paciência!
Se você já conseguiu chegar ao patamar de poder realizar estas ações em conjunto, ou seja, fazer reserva de contingência e investir no longo prazo, que é um montante para gerar patrimônio e sente-se mais seguro, poderá também abrir seu leque de investimento, dependendo de seu perfil, para alguma experiência com a renda variável, que nestes tempos de crise, entenda bem, VARIA e muito!
É o tipo de investimento para o qual você jamais deve direcionar recursos críticos para sua vida, pois de uma hora para outra esses recursos podem fazer um voo rasante demais, como podem também alcançar as alturas. É uma estratégia que deve ser seguida apenas por pessoas que estejam dispostas a “segurar estas ondas”, portanto se você não tem perfil para correr riscos, esqueça, não queira criar estados de tensão absolutamente desnecessários para si.
Outro ponto importante, é que, segundo o especialista Gustavo Cerbasi em sua obra intitulada “Como Organizar sua Vida Financeira” da Editora Sextante, quanto mais idade tiver uma pessoa, menos percentual de seus investimentos devem estar em renda variável, justamente por conta da alta volatilidade. Uma pessoa na faixa etária pós 70 anos, por exemplo, requer mais atenção e gastos com a saúde, mesmo que seja de forma preventiva e desta forma necessita de recursos à mão com mais frequência e necessidade.
A essa estratégia de balanceamento renda variável x renda fixa esse autor dá o nome de “regra dos 80”, pela qual faz-se uma conta de subtração desse número 80 – nossa idade. O resultado obtido é o percentual de investimento em renda váriave, sendo o restante em renda fixa.
Vamos exemplificar:
Se você tem 25 anos: 80-25 = 55, ou seja, 55% em renda variável e 45% em renda fixa.
Se você tem 65 anos: 80-65 = 15, ou seja, 15% em renda variável e 85% em renda fixa.
Essa é uma estratégia, montada por consultores muito especializados, mas é simples de se entender sua essência: quanto mais jovem for uma pessoa, mais ela precisa gerar patrimônio para sua vida futura, tempo em que poderá ter muita atividade que lhe dê sentido à vida, com muito mais tranquilidade. Para que se gere patrimônio, a renda variável é a modalidade de investimento que mais rentabilidade traz, porém com risco que pode ser enfrentado enquanto a pessoa está trabalhando na construção de sua carreira e vida.
Já no caso de uma pessoa em idade mais adiantada, ativa, mas com diferentes graus de necessidade em termos de saúde e vida, a renda variável pode ser uma arma com periculosidade desnecessária nessa altura da existência, por esse motivo, devido à segurança, porém com uma rentabilidade menor, é prudente que o foco do investimento esteja na renda fixa que possui diversas opções atrativas de ganhos, algumas sem IR e com muita liquidez.
⦁ CARTÕES DE CRÉDITO: certamente você possui algum, ou muitos…e em alguns casos está enredado com eles por conta de dívidas em atraso inclusive, tanto é que posso imaginar você aí do outro lado jurando que vai acabar com todos eles para que não possa mais comprometer-se com nenhuma despesa.
Meu caro amigo, você não precisa nem deve pensar em tanta destruição, não há necessidade de acabar com seus cartões e sabe por quê? Simplesmente porque não solucionará seu problema, uma vez que com certeza você encontrará outras maneiras de se enredar!
Vamos à explicação: como qualquer coisa na vida, fugir agora dos obstáculos faz com que estes reapareçam lá na frente muito maiores, sendo que o melhor a fazer-se quando nos confrontamos com uma questão não resolvida é pararmos, pensarmos sobre o que nos levou à situação, avaliarmos os riscos e oportunidades das alternativas que temos para a solução, realizar a escolha e seguir com a estratégia escolhida para eliminarmos o obstáculo, ou seja, vamos conviver com o problema, mas com uma postura pró ativa que nos leve a um bom termo.
A mesma coisa você precisa fazer com seus inúmeros débitos não pagos de seu(s) cartão(ões) de crédito. O cartão de crédito não é um mal, porém se mal utilizado ele se torna um perigoso inimigo de nossa paz e uma dívida de cartão de crédito pode crescer em proporções estratosféricas arruinando a vida de qualquer cidadão, pois os juros cobrados pelas empresas operadoras de cartões são terrivelmente pesados.
E da nada adianta praguejar contra as operadoras de cartões, pois o que fazem é legal, isto é, está dentro da lei, até porque essas empresas são continuamente auditadas e fiscalizadas pelas autoridades monetárias, e infelizmente a natureza de seus businesses não está relacionada a casas de caridade, sendo apenas empresas financeiras.
O que é necessário para qualquer situação de vida é sabermos conviver com todos os elementos que fazem parte dela de forma inteligente e sensata, , mesmo que o cenário seja adverso, sem que nos escondemos em uma redoma para que os desafios não nos atinjam.
Assim é que, ok, se você tem muitos cartões (primeiro, para que essa coleção?), pode descartar alguns deles e permanecer com dois talvez, depende de você. E por que mais de um? Simples, porque você poderá usá-los como uma ferramenta de distribuição de seu fluxo de caixa, porém de uma forma equilibrada e sadia.
Mas antes de pensar em gerenciamento de seu fluxo de caixa, pensemos em que suas dívidas DEVEM, antes de qualquer estratégia, serem eliminadas sendo que para que isto aconteça você precisa realizar uma boa renegociação de seus débitos, não caindo na tentação de pedir empréstimos (vade retro!!) para quitá-los. Seus credores, como já mencionado anteriormente, PRECISAM de você, de que você e todos continuem a comprar pelo bem da empresa administradora de cartões.
Sendo assim, não aceite imposições, ouça o que eles tem para lhe oferecer e faça uma contra proposta e se precisar, peça tempo para reelaborar. Não se acanhe em oferecer sua proposta, seja firme, para que o credor adquira confiança e respeito por você e desta maneira as duas partes encontrem um ponto em comum que fará com que você acabe com suas dívidas e passe à etapa seguinte qual seja a de gerenciar equilibradamente seus recursos e seu uso consciente do cartão de crédito.
Nunca, mas nunca se esqueça dos seguintes pontos:
⦁ O cartão de crédito, como o nome diz, é uma oferta de crédito, um empréstimo, o qual se pago à vista, elimina o débito.
⦁ Se você não possui recursos suficientes para cobrir suas compras no vencimento NÃO COMPRE!
⦁ JAMAIS parcele faturas, NUNCA pague o valor mínimo, NÃO, mas NÃO MESMO atrase o pagamento, por este motivo é muito importante que você saiba que ao comprar com um cartão de crédito assumirá uma dívida a qual se não for paga integralmente no vencimento, acionará o mecanismo de empréstimo do cartão que se por sua vez também não pago, pode conduzir o devedor a um buraco negro.
⦁ Tome muito cuidado com as senhas de seus cartões, não as entregue a ninguém, procure não andar com todos os que você possui.
⦁ Fique sempre atento aos seus gastos e procure durante o mês verificar o cartão para que não haja o risco de uma despesa que você não fez (clonagem). Se encontrou algo estranho, IMEDIATAMENTE comunique seu banco, ou operadora e bloqueie seu cartão para impedir que coisas ruins venham a lhe acontecer.
⦁ Se parcelar suas compras NÃO opte por parcelamento com juros, pois sua conta mais que dobrará e será tanto maior quanto mais longo for o prazo para pagamento. Não pode pagar à vista, nem de 1 a 3 parcelas (sem juros), de novo, NÃO COMPRE! Espere um pouco mais até que possua lastro para pagar tudo.
⦁ CASHBACKS: é uma prática atualmente muito utilizada pelas diversas plataformas e lojas para atração de clientes. Eu diria que você pode sim usar esse instrumento muito ofertado, porém com atenção, pois pode estar comprando algum bem mais caro do que ali no vizinho só porque receberá uns caraminguás de troco, que podem virar pontos, que você trocará por presentes geralmente de utilidade duvidosa e ainda por cima colocando mais dinheiro (aquele mesmo que você ganhou de cashback – pensa que há almoço grátis?) para ter o “presente” em sua casa com um frete “baratinho”. Veja, não quero dizer que não valha a pena e que você não deva aproveitar, apenas quero que você esteja atento à forma como o benefício é ofertado.
Por exemplo, há alguns cartões de crédito que transformam os gastos que normalmente você faz em pontos que equivalem a um valor financeiro, o qual você poderá abater em sua próxima fatura, reduzindo-a. Esse tipo de benefício é interessante, pois caso concentre suas compras (inteligentes e disciplinadas) em um só cartão que possui esse mecanismo de cashback, você poderá ter boas reduções em suas próximas faturas.
Outro benefício de certos cartões de crédito é transformar despesas em pontos que poderão ser utilizados para redução do valor do seguro de seu carro. Essas oportunidades precisam ser aproveitadas porque efetivamente nos trazem vantagens que não podem ser desprezadas.
⦁ CHEQUE ESPECIAL: ele é realmente muito especial, mas para o banco que poderá obter muitos ganhos com sua utilização por parte dos clientes. Para você ele é simplesmente um desastre, porque também é um empréstimo que é acionado automaticamente quando sua conta “vira”.
Além dos juros pela “contratação” do empréstimo, você terá que pagar uma outra sopa de letrinhas de imposto, o IOF – imposto sobre operações financeiras que é acionado no exato instante em que você “entrou” no cheque especial, pois essa simples avançada no semáforo, aciona um mecanismo de contratação de empréstimo, que é uma operação financeira e paga imposto, que não é pequeno. Então além de ter que se virar para arranjar dinheiro para pagar sua dívida com o banco, também terá que arranjar money para pagar o imposto devido.
Há certos casos em que por não acompanharmos o andamento de nossa conta, acabamos entrando inadvertidamente no limite de cheque especial que possuímos. Neste especial caso, o mais rápido possível, a cobertura da conta deve ser providenciada para que se evite a cobrança de juros por dia de uso e do IOF, também calculado diariamente (lembrando que são dias corridos e não úteis…).
Todas as pessoas que possuem conta em banco, têm à disposição, dependendo do volume de recursos, esse serviço, o qual pode ser recusado pelo cliente, fazendo com que a pessoa fique mais atenta ao gerenciamento de seu fluxo de caixa e de seu relacionamento com a Instituição Financeira.
Portanto, fica aqui a lição: o cheque especial NÃO é dinheiro seu! Não o considere como um adicional gratuito à sua disposição, caso você não consiga se bastar com aquilo que ganha, lembrando que a regra número 1 da educação financeira é NÃO gastar MAIS do que se possui.
Caso você tenha se enrolado com dívidas causadas pela utilização sem controle do cheque especial, só há um caminho: ir ao banco, conversar com seu gerente e chegar com ele a uma solução conjunta. Não há milagres a serem realizados nesta situação. É preciso renegociar seus débitos, verificando montante, juros, IOF, possibilidades de anistia bem como a portabilidade de sua dívida para outra instituição que de repente ofereça-lhe mais vantagens.
A partir de março de 2021, o Conselho Monetário Nacional (CMN), uma autoridade financeira, determinou que as pessoas que estão endividadas por conta do cheque especial poderão realizar a portabilidade de crédito para outro banco. Por isso, ao renegociar sua dívida, faça-o com cuidado e procure saber das condições de outra Instituição que não a sua, pois você poderá quitar seus débitos em situação muito mais vantajosa. Esteja atento a essa oportunidade também.
⦁ PRESTAÇÕES E CARNÊS EM GERAL: Muita atenção com este tipo de prática bastante comum desde meus tempos de criança (e lá se vão alguns aninhos…). É bastante expressiva a quantidade de estabelecimentos afamados ou não muito, que para criar um relacionamento forte com seus clientes, costumam oferecer “vantagens” do tipo, parcele suas compras em X muitas vezes, com a primeira prestação para março (estamos em dezembro), sendo que caso pague suas mensalidades com antecipação você terá 10% de desconto no valor das mesmas e ainda por cima, “ganhará” a última prestação de “brinde”!! Veja só que bondade!!! Você todo animado é convencido por aquela moça simpática do guichê e acaba entrando na cilada.
Que fique bem claro aqui que a moça do guichê está fazendo seu trabalho e merece nosso respeito, porém o que ela oferece é um tiro de fuzil AR5 (existe isso?) em suas contas. Tenho presenciado muitas dessas situações ficando em filas de caixas de grandes lojas de departamentos e percebo que muitas vezes nem mesmo o colaborador da loja entende muito bem o que está oferecendo, pois se entendesse, sua consciência iria pesar.
Claro, eles possuem metas para atingir e quanto mais desses planos de pagamento mirabolantes e aparentemente fantásticos conseguirem converter, mais ganham ou menos exposição ao risco de perderem o emprego conseguem obter para si. Infelizmente enfrentam a pressão para venderem essas coisas.
Você que, claro é inteligente, não pode cair nessa conversa, mesmo que contribua para que a simpática moça do guichê não ganhe sua comissão. Entenda que não há almoço grátis e que a loja não é tão boa assim, pois por detrás desse plano bacana escondem-se uns diabinhos chamados juros, e quantos são eles, você nem faz ideia!!
Vamos fazer uma continha bem simples:
Comprei hoje na loja X uma peça de vestuário qualquer e mais algumas coisas de forma que minha conta resultou em R$ 200,00.
A moça do guichê mostrou que posso pagar sem juros (outra ilusão) em até 5 vezes de R$ 40,00.
Pergunto se pagando à vista tenho desconto e a resposta é NÃO, por isso os tais R$ 200,00 que daqui a 5 meses não terão mais esse valor, pois infelizmente estamos com uma inflação alta, já estão majorados de juros que permitem que a quantia daqui até eu terminar de pagar minha compra continuem a ter esse valor. Então é ilusório também essa proposição de “em 5 vezes sem juros”. Mas vamos seguir.
Na sequência, a moça do caixa oferece o plano milagroso para eu começar a pagar apenas daqui a 4 meses (!!), em 8 parcelas, com desconto de 10% se eu pagar antecipadamente cada parcela e ainda a última será “gratuita”.
Digo NÃO e ela fica de cara amarrada. Como não posso ter desconto à vista, fico com a alternativa de pagar “sem juros”.
Vamos analisar a situação:
Antes de continuar, só um breve parêntesis: essa situação aconteceu comigo na realidade certa vez, em uma grande e famosa loja de departamentos da qual até gosto muito, mas a cena foi muito constrangedora a ponto de envolver o próprio gerente da unidade.
Primeiro: as tais prestações são fixas no valor de R$50,00 (8 prestações), começando daqui a alguns meses. Se fizermos uma continha bem simples de multiplicação (8*50), chegaremos em R$ 400,00, ou seja, o dobro do que gastei.
Segundo: a moça disse que se eu pagar antecipadamente as prestações terei um desconto de 10%. Só que talvez ela não tenha entendido, no treinamento que recebeu, que esses 10% não são por dia de antecipação, mas certamente ao mês, de forma que, para ganhar os 10% na cabeça, eu teria que antecipar 1 mês de cada vez, porque se antecipar, por exemplo, 2 dias, receberei apenas a parcela do desconto referente aos 2 dias que paguei adiantado com relação ao vencimento, resultando em um desconto minúsculo, que não fará nem cócegas no valor da prestação. Moral da estória: continuarei a ter que pagar pelo dobro do que consumi.
Terceiro: tá bom, ela me disse que eu ganharia a última prestação. Ok, pago tudo rigorosamente em dia e quando chega o momento de pagar a 8ª parcela, a loja me dá 100% de desconto sobre a mesma, resultando em R$ 400,00 – R$ 50,00 = R$ 350,00.
Mas minha compra foi de R$ R$ 200,00 lá atrás. Fazendo novamente uma continha bem simples, tenho que 350 – 200 = 150, ou seja pagaria quase o dobro de minha compra inicial, mesmo com o tal prêmio na última parcela. Sabe quanto em termos percentuais representam esses R$ 150 a mais que pagaria se aceitasse essa proposta indecente em relação ao que realmente gastei na loja (lembra, os R$200)? 75%!!
Eu gastaria 75% a mais (isso por conta do “prêmio” da gratuidade da última prestação!) nessa brincadeira do que efetivamente foi minha compra. Nesse processo há quilos de juros!
Portanto, o recado básico aqui é NÃO se deixe levar por essas “ofertas”, pois você estará jogando seu dinheiro fora e ainda, caso tenha problemas de caixa, arriscando-se a pagar muito mais se houver algum atraso nos pagamentos das prestações. Vejo isso acontecer com muita, mas muita frequência.
Ok, entendo que sua opção por parcelar em muitas vezes seja aquilo que lhe seja possível pagar, mas procure entender que você entregará para a loja muito mais dinheiro do que realmente custa a mercadoria que comprou.
Em muitos casos acontece mesmo que as pessoas não param para pensar e acabam fazendo coisas que compromete demais suas rendas mensais. Não faça isso! Se não pode comprar agora, NÃO compre ou se comprar procure no mínimo pagar em até as vezes que forem permitidas SEM juros
⦁ BLACK FRIDAY: não acredito que você nunca tenha ficado naquela fila do black fraude, ops, Friday! Não há problema algum se o fez, apenas haverá se você não pesquisou e não acompanhou com atenção o comportamento dos preços que foram praticados até o dia “d”.
Infelizmente também acontece esse tipo de situação onde o lojista, já se antecipando ao famoso evento comercial que “pegou” muito no Brasil, eleva significativamente seus preços até a proximidade do dia dos descontos para então dizer que está promovendo suas ofertas com quase 70, 80, até 90% de desconto!! Que barbada! Faltou somente ele não contar em detalhes o que foi feito durante um período anterior ao dia das ofertas e nem as pessoas deram-se ao trabalho de acompanhar, fazer uma pesquisa, prestar atenção ao que ia acontecendo e assim todo mundo corre em desespero, achando que está fazendo um negócio do outro lado da galáxia, pois da China é pouco.
Você pode argumentar que é complicado, quase impossível que se fique observando o que o comércio está fazendo, ou que todos agem dessa forma.
Novamente, o objetivo aqui é chamar a atenção para que, ao se decidir por aproveitar essas ofertas, a pessoa faça uma pesquisa de forma simples. Já sabemos a época das Black Fridays, então porque algumas semanas antes, não procuramos saber o preço daquela TV que tanto queremos e desta forma verificar o que realmente é desconto e o que é uma esperta estratégia de obtenção de ganhos?
Você pode fazer tudo o que quiser, mas faça com critério para que não crie dificuldades para si mesmo lá na frente. Lembre-se que é você o único responsável pela gestão de sua vida financeira e por extensão de sua vida de uma maneira geral.
⦁ OPERAÇÕES COM BENS MÓVEIS E IMÓVEIS: ter uma casa própria continua a ser o sonho maior da maioria dos brasileiros, paralelamente a outro muito comum, o de um carro 0Km para a família ou um segundo carro para um filho. São sonhos extremamente louváveis e como tal devem ser perseguidos como metas de crescimento e realização pessoais, porém sempre de forma equilibrada e sem tomada de decisões impulsivas.
O que quero dizer com isso? Que você não deva perseguir esses sonhos? Claro que não, mas que busque informações pertinentes antes de decidir-se por qualquer alternativa.
Jamais aceite entrar em negócios que ofereçam vantagens excessivas e incomuns no mercado, tipo preços muito baixos, condições de pagamentos mal explicadas, contratos cujas informações críticas apareçam em pontos onde geralmente não se dá atenção, com letras muito miúdas.
Se for adquirir um imóvel novo, procure verificar com atenção, por vários ângulos da construção, o entorno do local do empreendimento, preste MUITA atenção nas cláusulas contratuais, nos itens que falam de seus direitos e especialmente nos que se referem às obrigações, procure informar-se de todo o fluxo de pagamento incluindo prestações, aquelas famosas “intermediárias”, chaves, etc.
Faça uma visita a um empreendimento já pronto da incorporadora da qual adquirirá o seu, veja a qualidade dos materiais, enfim, busque munir-se do maior número possível de informações concretas e seguras para que você certifique-se de que está de fato fazendo um bom negócio e não entrando em uma terrível arapuca que pode contaminar sua vida financeira e pessoal por longos anos e até mesmo pelo resto de sua vida, dependendo de sua situação financeira no instante da aquisição.
O resumo é: seja cuidadoso, pois não está adquirindo um cacho de bananas e sim um imóvel, um ativo imobilizado que fará parte de seu legado.
Já no caso de um imóvel usado, seu cuidado deve ser redobrado, pois nesta situação, é importante que se analise tanto a estrutura da construção, como o próprio imóvel e suas condições internas.
É importante também verificar-se a região onde esta localização, a oferta de serviços que existe em seu entorno, a situação da rua durante o dia e à noite, a posição geográfica do imóvel em relação ao sol para que se evitem surpresas tardias irreversíveis, do tipo, o imóvel não recebe luz solar suficiente (por esse motivo visitá-lo durante o dia e à noite é importante), é muito próximo de janelas vizinhas, a eventual existência de outros projetos de construção muito próximos os quais poderão comprometer a exposição de seu pretendido imóvel à luz; se for condomínio, verificar a situação do edifício, se é muito barulhento, desorganizado, mal cuidado, os moradores são descuidados, a administração é problemática, a idade da construção (lembrando que construções muito antigas, apesar de muitas vezes terem plantas muito melhores em termos de espaço, podem apresentar muitos problemas que requererão muitas obras de manutenção e muitas taxas extras), só para citar alguns pontos relevantes.
Se o imóvel estiver muito danificado, lembre-se que precisará reservar, além do valor pago pela aquisição, uma boa quantia para a reforma e atualização de tudo o que não estiver em boas condições. Eu particularmente sou muito fã de aquisições de imóveis mesmo deteriorados para que eu lhes dê “minha cara”, no entanto, já entrando no negócio com o conhecimento de que precisarei ter o dinheiro para a compra E para a grande reforma.
Importante também lembrar que no caso de um imóvel que você tenha gostado de fato, mas que esteja em péssimas condições, você “adquire” o benefício da negociação, em função do estado do bem. Não se acanhe de fazer ofertas, mesmo que a princípio pareçam mirabolantes, mas que podem lhe render uma boa quantia extra para a reforma. Seja persistente, mas procure impedir que o atual proprietário perceba seu grande interesse.
Enfim são muitos pontos que não podem ser deixados de lado, embora saibamos que não podemos ter tudo exatamente do jeito e no momento que queremos, valendo, no entanto, alguns cuidados no presente que poderão evitar muitos dissabores futuros os quais além de nossa saúde financeira poderão comprometer nossa saúde física também.
Outro ponto importantíssimo: CUIDADO, MAS MUITO CUIDADO, se você viu “aquela” oferta do programa Minha Casa, Minha Vida! Veja, novamente procure PRIMEIRO informar-se sobre a oferta, sobre o imóvel, sobre a localização. Você e eu já ouvimos um sem número de pessoas aflitas porque entraram em um golpe de malandros mal intencionados, que fazem passar-se por corretores, oferecendo “grandes negócios” que escondem fraudes. Portanto veja a idoneidade da empresa de quem vai adquirir seu sonhado pedaço.
E se você não tiver ainda aquele dinheirinho suficiente para comprar seu imóvel (mas terá!!) e precisar alugar, tome seus cuidados também. Os mesmos cuidados com estrutura e condições físicas mencionadas acima valem também para o aluguel assim como a negociação.
Lembre-se que o proprietário deseja valorizar seu imóvel, mas também tem consciência que imóvel fechado por muito tempo, acarreta custos de manutenção e oneram suas disponibilidades financeiras. Portanto, a negociação é uma grande arma e pode lhe trazer uma boa dose de economia, que você poderá usar como um fundo para sua futura aquisição.
Uma coisa é muito importante em uma locação: a garantia. Nenhum proprietário aluga nem um casinha de cachorro, sem garantias, as quais podem variar entre o fiador, passando pela Caução, um depósito em dinheiro, bancário, em conta conjunta, aberta para locador e locatário correspondendo ao valor de até 3 aluguéis, sendo que esta modalidade tem deixado de ser utilizada por conta do aparecimento de novos formatos de garantias e ter uma desvantagem importante para o locatário, pois dependendo do valor do aluguel, este deverá adiantar uma quantia expressiva para poder dar sequência ao negócio.
Não é um formato muito apreciado também pelos locadores, pois se houver falha de pagamento por mais de 3 meses e uma inadimplência por parte do locatário, o proprietário acaba tendo um prejuízo significativo, não possuindo nenhum recurso que possa ressarci-lo. Além destas duas alternativas existem o título de capitalização, a caução real e o seguro fiança, este o campeão na preferência tanto das administradoras como dos proprietários, pois trata-se de uma apólice de seguro que dá ao proprietário de um imóvel locado a total certeza de cobertura em caso de inadimplência do inquilino.
Porém, justamente pela característica de segurança, há um processo de verificação documental para aprovação deste tipo de garantia bastante rigoroso, sendo que muitos negócios tropeçam neste ponto da análise dos documentos solicitados aos inquilinos para elaboração da apólice do seguro fiança.
Portanto, meu caro amigo, se for alugar, esteja preparado para este tipo de exigência, e para suas obrigações e direitos a partir do instante em que se instalar no imóvel que alugou. Se alugou, cuide, pague, e como sempre, antes de fechar seu contrato, LEIA-O cuidadosamente para que não tenha aborrecimentos futuros. Se não entender ou não concordar com alguma cláusula, pergunte, ofereça uma contra proposta, mas não deixe passar nenhum ponto mal esclarecido. Essa é a regra de ouro para qualquer negócio.
E seu carro hein? Aquele de seus sonhos! Tudo o que falei anteriormente em termos de condições de negociações e do bem em si, valem aqui também, com as adaptações necessárias.
O carro é 0Km? Parabéns, que lindo! Não compre aquele enorme ônibus SUV, se você não tem condições financeiras para arcar com os compromissos de seu financiamento, caso o faça. Se tiver todo o dinheiro para a aquisição, ainda assim pense: esse brutamonte vai beber muito combustível (o preço do combustível está pela hora da morte), vai exigir uma apólice de seguro bem salgada (você não vai deixar seu elefante sem seguro, vai?), vai querer pneus novos lá na frente (você viu qual o aro das rodas desse fantástico carro?), e o IPVA, hein? Já viu quanto será? Ah, temos também as revisões “gratuitas” , as manutenções quando falhar algum dos centenas de itens eletrônicos do mamute, enfim, brincadeiras à parte, quero mostrar-lhe meu amigo que o custo de se adquirir um carro vai além das tabelas de fábrica, na loja na hora do negócio, sendo necessário que se contabilize todas essas futuras despesas.
No entanto, se você for uma pessoa privilegiada em termos financeiros, faça bom proveito, mas ainda assim, faça uma análise custo X benefício e veja o resultado antes da aquisição. Aí será escolha sua e parabéns por ela.
E se seu carro for seminovo como se fala, na verdade, é usado mesmo. Aí meu caro, todo o cuidado será pouco.
Não acredite 100% na conversa do vendedor, ele quer vender, claro, e você quer comprar, mas diga-lhe para segurar um pouco a ansiedade para fecharem um negócio e antes leve um mecânico de sua confiança (você indica o mecânico) que possa verificar o possante antes de sair feliz com ele, mesmo que haja vistoria para transferência!
Um mecânico experiente sabe muito bem se, por exemplo, o carro foi batido e se essa colisão danificou o eixo frontal do veículo e a posição de suas rodas. Também é capaz de perceber algum problema no chassi, as condições do motor, câmbio (se for automático mais cuidado ainda), enfim a estrutura geral do veículo.
Com essa certeza, aí sim faça seu negócio procurando também avaliar as condições do financiamento, se for o caso, e na opção de ser à vista, sempre negociar da melhor forma que puder. Tenha cuidado com as ofertas de iniciar seu pagamento de prestações daqui a X meses.
Ok, pode ser que para você as mensalidades sejam mais suaves desta forma, mas não se esqueça que, dado que não existe almoço grátis, os juros que pagará serão muito altos para que possa beneficiar-se dessas regalias que o financiador lhe oferece. Não há milagre. Caso não deseje pagar juros ou pagar pouco por eles, terá que apertar o cinto e dificilmente lhe serão oferecidos tantos “presentes” (de grego).
Olhou tudo, tomou todos os cuidados? Vá lá pegar seu possante e sair feliz por aí!
Maria da Penha Amador Pereira, Economista formada pela Pontificia Universidade Católica de São Paulo com especialização em Desenvolvimento Econômico.
Atuou em carreira corporativa na antiga Companhia Energética de São Paulo, Banco do Estado de São Paulo e no Citibank, onde desenvolveu carreira por aproximadamente 30 anos em Controladoria, Planejamento Estratégico, Segurança de Informações, Gestão de Crises e Continuidade de Negócios, Qualidade, Projetos de Melhorias de Processos e Produtos Bancários, Controles Internos, Auditoria, Governança Corporativa, Regulamentação Bancária e Compliance.
Atualmente é escritora com obras já publicadas, Master Coach e PNL, Orientadora e Mentora de Carreiras, Palestrante e Educadora Financeira, tendo publicado mais de 55 artigos em Portais de Empreendedorismo, mídias sociais, jornais e revistas regionais e LinkedIn, além de ter participado de vários seminários e fóruns sobre diversos temas ligados à realidade brasileira e Compliance.